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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

OBRAS PRIMAS BONELLIANAS – TEX, ASSALTO AO TREM

FICHA TÉCNICA
TEX Nº 71 - ASSALTO AO TREM1
Editora: Vecchi
Ano publicação: Janeiro de 1977
Formato: 13,5x17,5 cm – 160 páginas
Argumento: G.L. Bonelli
Arte: Giovanni Ticci
Capa: Aurelio Galleppini




TEMA ABORDADO
Assalto ao trem; O primeiro assalto que há registo a um comboio em movimento nos EUA aconteceu em Indiana, em 1866, levado a cabo pelos irmãos Reno. Com este novo método de assalto, fácil e sem grandes riscos, os irmãos iniciaram uma onda de assaltos nas duas semanas seguintes. O pico deste tipo de roubos nos EUA foi atingido na década de 1890, com os bandos dos assaltantes a dominarem determinados territórios: Os irmãos Reno eram responsáveis pelos assaltos ao sul de Indiana, os Farringtons no Kentucky e Tennessee e o bando de Jesse James pelos estados do centro oeste. A partir de 1920, com a maioria dos famosos assaltantes de comboios, incluindo Butch Cassidy, Sundance Kid e os outros menbros da quadrilha “Wild Bunch” presos ou mortos, este tipo de assaltos entrou em declínio devido à introdução dos “traveller`s checks” e ao aumento da segurança, com recurso a detectives privados.
O assalto ao trem pagador ocorrido em Inglaterra à cinquenta anos foi considerado o roubo do século. Um grupo de desasseste criminosos entre eles, Ronald Biggs e Bruce Reynolds, em 08 de Agosto de 1963, interceptou e roubou o trem que transportava os depósitos bancários da Escócia para Londres. Do dinheiro roubado, ao valor de hoje cerca de 47 milhões de euros, apenas uma pequena parte foi recuperada.
O cinema desde muito cedo começou a transpor este assunto para as telas! “The great train robbery”, é um pequeno filme mudo e a preto e branco, de 1903, cerca de doze minutos, talvez o primeiro a abordar o tema. Passado mais de um século, foram produzidos dezenas de filmes a explorarem este assunto, a grande maioria a terem como cenário os EUA nos finais do século dezanove, inicio do século vinte.

SINOPSE
A quadrilha de Runyon assalta o trem da Southern Pacific que transporta 80000 dólares em ouro no antigo posto de mudas, das diligências da wells Fargo de Pantan. Povoação que foi abandonada com a introdução da linha férrea, passando a funcionar apenas como posto de abastecimento da companhia. Graças ao conhecimento das entradas da caverna chamada “a toca dos bandidos”, os assaltantes iludem os perseguidores entre os quais se encontram Tex e Carson. São capturados vários dias depois em Wilcox, onde pararam para festejar e como consequência de se terem vangloriado de terem enganado os homens do xerife de Tucson. Após o tiroteio que precede a captura do bando, o único sobrevivente ao ser interrogado afirma desconhecer a localização do roubo, mas, inadvertidamente refere a existência de um quinto elemento. Greg Carver é então condenado a vinte e oito anos de prisão em Yuma pela sua participação no assalto e por não ter revelado a localização do ouro roubado. Com a colaboração de Ben Farrel e da Well`s Fargo, Tex elabora um ardiloso plano que envolve diversos agentes, para proporcionar a Greg Carver a ilusão de segurança e liberdade, levando-o a involuntariamente revelar, a localização do ouro roubado e a identidade do cúmplice na sombra.

ARGUMENTO
Giovanni Luigi Bonelli pega num facto ocorrido, o assalto ao trem em Pantan, para nos contar uma belíssima história, muito mais abrangente do que um simples roubo de comboios. Esta é uma história curta para os padrões texianos, das pouco mais de cento e quarenta páginas, uma dezena é dedicada ao assalto, cerca de sessenta e cinco ao assalto e à captura dos assaltantes, as restantes às acções efetuadas para recuperar o ouro roubado. Bonelli escolheu utilizar o trem como alvo do roubo, mas para o desenrolar da história, poderia ter utilizado um banco ou uma diligencia, pois o resultado final seria idêntico. Na verdade, “Assalto ao trem” é sobre a recuperação do produto do roubo, do plano meticuloso, do planeamento e da execução, do envolvimento de diversas entidades que unem esforços para conseguirem de volta o ouro roubado e não sobre um assalto.
Um argumento simples, linear, apenas com dois saltos temporais, sem histórias paralelas e sem
recurso a flash-bacs, em que o leitor é sempre mantido na ignorância até quase ao final, sobre duas questões cruciais: Onde se encontra o produto do roubo e quem é o cúmplice. Quanto ao roteiro, alterna a rápida progressão dos eventos, com pausas, utilizadas pelo autor para fazer pontos de situação quer através de diálogos entre as personagens, quer com a introdução de legendas e cartuxos, por vezes sobrecarregando as pranchas. As personagens introduzidas tem potencial mas são pouco exploradas, provavelmente devido ao reduzido numero de páginas que compõem a história, no entanto, a não existência de personagens secundárias carismáticas não diminui a qualidade do argumento. Quanto ao protagonista, é-nos revelado uma faceta mais humana, menos brigão e interventivo, sendo inclusive relegado para segundo plano em grande parte da história, ficando na sombra, enquanto diversos personagens secundários armam a teia, que permitirá capturar o misterioso cúmplice e, recuperar o ouro roubado.



ARTE
A trama é rica em cenários, dos mais diversos, desde o ambiente ferroviário em Tucson, à cidade fantasma de Pantan, às regiões áridas onde decorrem as perseguições, á caverna onde se refugiam os assaltantes, até ao citadino Wilcox ou ao presidiário. Ticci è um desenhador bastante versátil, dono de um traço limpo e detalhado, sente-se confortável em todos estes ambientes e enquadramentos, proporcionando pranchas de grande beleza, realistas, impregnadas de detalhes e conseguindo transmitir a sensação de movimento. A composição dos personagens é bem conseguida, todos bem caracterizados, incluindo os secundários. Quanto ao protagonista, Ticci continua à procura do “seu Tex”, opta pela primeira vez por um rosto mais arredondado e sorridente e, principalmente, mantêm as feições ao longo de toda a história, contrastando
Rosto de Tex em "Assalto ao trem"
com 
trabalhos anteriores como: “Na noite dos assassinos” e “Kento não perdoa”, onde desenha Tex com um rosto estreito e cumprido e em determinadas vinhetas, quase irreconhecível. O trabalho de Ticci só perde um pouco o brilho nas pranchas sobrecarregadas de texto. seria preferível aumentar o numero de páginas, introduzindo vinhetas nessas pranchas para diluir o texto e fazer sobressair a arte, que é fantástica.



CONSIDERAÇÕES FINAIS
História recomendada para quem não conhece Tex, capaz de agradar a todos os gostos e na minha opinião, umas das mais adequadas da série para a transposição para a nona arte. O tema, o ritmo narrativo, os diversos cenários que possibilitariam excelentes imagens e o suspense criado pela localização do ouro e pela identidade do quinto cúmplice, são ingredientes que 
poderiam contribuir para um excelente filme.
 “Assalto ao trem “ é assim a prova, que uma boa história de banda desenhada não necessita necessariamente de um argumento rebuscado, com uma trama muito elaborada e com episódios paralelos a rivalizarem com o principal. Esta história é um casamento bastante feliz entre um argumento bem construído apesar de linear, com os belíssimos desenhos de Ticci, neste seu sexto trabalho a desenhar Tex, para mim, o melhor até então.


1 História publicada originalmente em Setembro e Outubro de 1975 em Itália, nos números 179 e 180 da colecção Tex. No Brasil houve uma 2ª edição também pela editora Vecchi, em Abril de 1982 e recentemente foi republicada em Tex Colecção, pela Mythos Editora, nos numeros 231 e 232 em Abril e Maio de 2006.

FONTES:

PS: Texto publicado posteriormente no blogue do Tex em 13 de Dezembro de 2013
http://texwillerblog.com/wordpress/?p=49431


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