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sábado, 31 de agosto de 2013

PROBLEMAS

Coleccionar Zagor no Brasil e em Portugal sempre foi um problema. O primeiro numero lançado em 1978 pela extinta editora Vecchi, foi lançado sete anos depois da primeira edição de Tex e os coleccionadores portugueses não tiveram acesso, uma vez que esta colecção não chegou a ser distribuída em Portugal. 


Zagor Nº 1 Ed. Vecchi
Com a falência da editora em 1983, Zagor ficou na “prateleira” durante quase dois anos e a nova editora, a RGE, compreensivelmente atendendo ao longo período passado entre o fim da colecção da Vecchi, resolveu reiniciar a numeração. Considero esta colecção publicada pela RGE e pela Globo, como a melhor ao nível das histórias, são quase todas excelentes, no entanto, e apesar disso, esta colecção teve uma vida extremamente curta. Apenas trinta e oito números. As razões que motivaram o fim serão várias certamente, mas o tratamento que a editora dedicou ao personagem, cortando diversas páginas por número, certamente que contribuiu para o efeito.


Zagor Nº 1 Ed. RGE
A Agosto de 1989, altura em que a editora Record lançou a sua colecção, os fãs do personagem ficaram mais uma vez privados das aventuras deste herói, desta vez por um período superior a três anos. As edições da
Zagor Nº1 Ed. Record
Record, em formato italiano, histórias completas, com edições especiais e um numero variado de páginas, marcaram a diferença para melhor, relativamente às colecções anteriores. Infelizmente, e à semelhança do que aconteceu com a colecção da Vecchi, os coleccionadores portugueses também não tiveram acesso a esta colecção. Apesar das características incomuns desta colecção, atendendo ao que é praticado no Brasil, o sucesso foi efémero, e após 80 edições, considerando as anuais, extra e especiais, a editora abandona também ela o projecto, deixando mais uma vez desolados os coleccionadores, por não poderem acompanhar as fantásticas histórias, escritas principalmente por Guido Nollita.




Em Junho de 1999, para a alegria dos muitos aficionados, a editora Mythos decide lançar a 4ª colecção de Zagor. No entanto, o fraco volume de vendas rapidamente colocou em perigo esta iniciativa, e após a saída de apenas 3 números, a série foi interrompida. Apesar das dificuldades iniciais, a editora não se deu por vencida, e, em 2001 decide dar uma nova oportunidade ao rei de Darkwood, publicando então o número quatro, em alternativa a reiniciar a colecção. Já se passaram dez anos desde o primeiro numero publicado pela Mythos, actualmente Zagor possui 3 colecções no Brasil e ao longo deste tempo, já foram publicadas mais de 225 edições, totalizando assim mais edições que a soma das suas antecessoras. Aparentemente a Mythos solucionou o problema de coleccionar Zagor, pois não faltam edições nas bancas.

Os primeiros números de Tex 1ª edição
Como todo o coleccionador gosto de ter todas edições impecáveis e faço os possíveis para que assim se mantenham. A melhor forma que conheço de conservar as revistas, é colocá-las em sacos plásticos fechados, armazena-las em local seco e ausente de luminosidade, evitando assim, o pó, as traças, e retardando o amarelecimento das páginas. Esta forma de preservação levanta no entanto outro problema: Ler as revistas antigas! Gosto de reler as histórias antigas e de sentir a nostalgia do tempo passado. Armazenado as revistas desta forma desmotiva-me a fazê-lo. Além de ler as histórias antigas, gostaria de o fazer pela ordem cronológica, para poder acompanhar a evolução do personagem. Mais um problema! Nenhuma das colecções de Zagor publicadas até ao momento respeita este princípio. Com Tex este problema não existe, posso armazenar as edições mais antigas como Tex 1ª edição até ao 300 e toda a 2ª edição, até mesmo os grandes Clássicos e Tex colecção. Sempre que pretendo ler histórias antigas, basta-me Tex Edição histórica, e assim que for saindo o Tex Colorido, posso ir armazenando as edições Históricas, cujas histórias sejam publicadas. Vida extremamente facilitada para os texianos, sem dúvida.

Diversas edições de Zagor Ed. Mythos
Apesar do personagem Zagor estar perfeitamente consolidado no Brasil, a editora têm vinda a dar sinais de que não tenciona lançar uma nova colecção, negligenciando as constantes solicitações de diversos leitores, que exigem uma colecção que respeite a cronologia, desde o número 1. Provavelmente considera que o momento ainda não é oportuno, não enquanto existirem histórias inéditas. Partindo deste principio, Zagor Colecção ou Edição histórica, não surgirá nos próximos anos, mantendo-se assim o problema de ler as histórias pela ordem cronológica, ou por se encontrarem armazenadas, ou por ainda não terem sido publicadas.

Enquanto a editora não nos possibilita uma série que resolva este problema, deixo-vos uma listagem das histórias de Zagor para que o possa atenuar, esperando que a editora repense a sua posição nos próximos tempos, e nos surpreenda com o lançamento dessa série, seja ela Zagor Colecção ou Zagor Edição Histórica. Em Junho de 2011 Zagor completa 50 anos de existência! Que melhor data lançar essa publicação?

NOTA: Para elaborar esta listagem tomei como exemplo a listagem de histórias de Tex elaborada por Rodrigo Bratz, disponível no Portal Tex Brasil. A listagem tem por base as edições italianas, às quais faz a correspondência das edições brasileiras. Ao longo do corrente ano, recolhi e compilei informação nos sites da SBE, Portal Tex Brasil, Blogue do Zagor e nas colecções brasileiras das quais sou proprietário. Como não possuo as edições italianas, a informação recolhida não foi validada, pelo que é possível a existência de erros ou omissões, principalmente nos primeiros números, devido à existência de histórias muito curtas. Caso detectem, agradeço a informação em forma de comentário, para proceder à alteração.



PS: Texto publicado inicialmente no blogue do Tex 03 de Dezembro de 2010
http://texwillerblog.com/wordpress/?p=23698
Para aceder às listagens, clique nos links abaixo:

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

SINGELO???

14 de Agosto de 2005, uma data histórica para os admiradores de Tex Willer, especialmente os  portugueses. Neste dia de verão em que milhares de lusitanos gozavam as merecidas férias, foi finalmente possível encontrar uma edição produzida em Portugal. A publicidade à colecção BD série ouro, à qual pertence a edição referida, havia se iniciado largos meses antes no jornal correio da manhã, pelo que a expectativa era enorme.
          
Esta colecção, muito semelhante à que a “Panini” lançou em Itália, numa parceria com o jornal “La Republica”, sofreu apenas algumas adaptações relativamente aos personagens a publicar.
Como critérios de selecção dos personagens a publicar, foi tido em conta aspectos como: A popularidade de cada um, a qualidade dos argumentos e o potencial interesse para os portugueses.
Duas curiosidades relativamente a este ultimo aspecto: Tex nunca antes havia sido publicado em Portugal, apesar disso, não deixa de ser um dos personagens mais apreciados pelos amantes da BD portugueses.
A 2ª curiosidade é que tanto Tex, como Dylan Dog e Ken Parker, poderiam ter feito parte da 1ª colecção de BD do correio da manhã, uma vez que constaram numa lista de personagens sugeridas aos responsáveis.
            
Em 1978 foram publicados em Portugal dois personagens da SBE, 1º Zagor e depois Mister No.
O Nº1 de Zagor saiu em Agosto de 1978, curiosamente coincidiu com a saída do Nº1 da editora brasileira Vecchi. A história intitulada “O bom e o mau” corresponde a parte do Nº7 da colecção da Vecchi. As edições portuguesas apenas possuem 48 páginas, com 4 tiras por páginas, equivalente a 64 páginas das edições brasileiras. A colecção portuguesa de Mister No iniciou-se em Dezembro do mesmo ano, no mesmo formato (22x15cm), numero e tiras por página.
Apesar das histórias publicadas nas duas séries, possuírem óptimos argumentos e desenhos, na sua maioria a cargo da dupla: Nolitta&Ferri; O Nº 1 de Mister No corresponde a parte do nº1 italiano. As duas séries tiveram uma vida editorial muito curta: Mister No onze números e Zagor dezasseis.
Resta dizer que foram publicadas pela Editora Portugal Press, sem autorização da casa Bonelli.
            
Em 1981, a revista “Sioux” coloca nas bancas várias histórias retiradas da “Storia del west”, histórias como “Álamo”, “Comancheiros” ou “O grande rio”, tão bem conhecidas dos brasileiros, também foram publicadas em Portugal. Outro personagem da casa de sonhos italiana, Judas, também conhecido por Chacal, igualmente em 1981,foi publicado na revista “Façanhas do oeste”.     Não consegui apurar se estas publicações foram devidamente autorizadas.
O facto destes personagens terem sido publicados em Portugal revela que os editores portugueses estavam atentos ao que se passava em Itália, o que não se percebe é quais foram as razões que os levaram a optar pela publicação de personagens desconhecidos dos portugueses, quando poderiam ter optado por Tex, personagem de maior sucesso da editora e sobejamente conhecido entre nós através das edições da Vecchi, que eram distribuídas em Portugal desde os primeiros números.
            
Acredito que existir em circulação uma revista mensal do personagem, tenha sido uma das principais razões para que não tenham considerado Tex nessa altura. Se pensarmos que Zagor e Mister No foram publicados sem autorização, a repetirem o processo com Tex, entrariam em concorrência com uma editora autorizada, o que não aconteceria com os personagens referidos, pois infelizmente e com muita tristeza minha, estas edições nunca vieram para Portugal. Apesar de já terem passado quase trinta anos, penso que ainda seria interessante saber o porquê das opções dos editores.
            
Vinheta de Galep
Quanto à edição portuguesa de Tex, a história seleccionada “Tex contra Mefisto”, história clássica do personagem em que enfrenta pela segunda vez o seu pior inimigo. Esta aventura publicada pela primeira vez em 1963, apesar de ser uma óptima história que mistura o Western com o sobrenatural e que possui a assinatura dos criadores, não foi na minha opinião a melhor opção para apresentação do personagem aos “leigos”. Para os “fans” do ranger, todas as histórias seriam uma boa escolha para abrilhantar a primeira e única edição portuguesa até aos dias de hoje. Para os apreciadores de BD que pretendiam completar a colecção, “BD série ouro” e não conheciam Águia da Noite, muito dificilmente esta história foi capaz de cativa-los a acompanhar o personagem. Não nos podemos esquecer em que condições esta história foi produzida: Galep desenhava Tex nos seus tempos livres, à noite, com prazos apertadíssimos e em condições de trabalho muito longe das ideais. Também a colorização não favoreceu muito a edição. Reforço a ideia: Para nós os seguidores desde 1971, esta edição foi um prémio e o facto de ser a cores em muito valoriza o prémio.
Devemos estar muito agradecidos a quem tornou esta edição possível, nomeadamente:
Júlio Scheneider, José Carlos Francisco, José Freitas e J. M. Lameiras.
            
Então qual seria a história ideal? Como todas as selecções é difícil escolher uma que gere consenso, assim, a história seleccionada teria que premiar os leitores “jurássicos” e ao mesmo tempo ser apelativa, para ao primeiro impacto, ser capaz de angariar novos leitores do personagem.
Apesar da dificuldade, penso que existem inúmeras histórias que poderiam cumprir estes requisitos, no entanto, a melhor opção teria sido a publicação de duas histórias curtas (cerca de 100 páginas).
Uma primeira história obrigatoriamente dos criadores, com uma narrativa dinâmica e desenhos mais elaborados, por exemplo: “Forte Apache”. A segunda história, uma história recente com a assinatura dos actuais artistas. Qualquer história retirada do “Almanaquo Del West”.
As histórias seleccionadas deveriam ser publicadas como o foram originalmente em Itália, de preferência escolher histórias a preto e branco, pois foi desta forma que o personagem obteve sucesso.
            
Compreendo que houve uma série de limitações que condicionaram a selecção, principalmente presumo eu, financeiros. O facto de esta história ter sido usada na colecção da “Paninni”, também teve muito “peso” na decisão, uma vez que todo o material se encontrava digitalizado, paginado e colorido, apenas havia que traduzir e legendar.
            
A questão que coloco agora é: Para quando uma nova edição portuguesa? Será que os coleccionadores terão de esperar mais 30 anos? Esta edição não passou despercebida a Sérgio Bonelli, ele próprio dedicou-lhe um editorial em Tex Nuova Ristampa Nº148. É irrealista pensar que o mercado de BD em Portugal possa aguentar uma revista mensal, existem diversos problemas que inviabilizam esta opção. Se pensar-mos num livro, com uma boa encadernação e papel de qualidade, as hipóteses de sucesso aumentam drasticamente.
           
No Brasil, apesar do excelente trabalho da Mythos que têm conseguido não só manter, mas aumentar o número de publicações, apesar da crise que a Banda Desenhada atravessa nos últimos anos, a verdade é que à editora têm faltado alguma inovação. As publicações são maioritariamente em formatinho, com mais ou menos páginas e capa cartonada ou não. As excepções são o Tex Gigante herdado da Globo e o Tex e os aventureiros, que infelizmente terminou após seis edições.
Os excelentes álbuns publicados em Itália pela Mondadori, não têm paralelo no Brasil. A Mythos nunca apostou nos livros, ou por impossibilidade de meios técnicos, ou por falta de interesse em atingir esse segmento do mercado, apenas a editora poderá responder.

Parece-me que existe aqui uma lacuna que poderia ser aproveitada por uma editora portuguesa. Fazer o papel que a Mondadori faz em Itália: Publicar aquelas que são consideradas as melhores histórias de Tex, em livros de boa qualidade e transportar o personagem para as livrarias, atingindo assim outra gama de coleccionadores.
            
O mercado português poderá não ser suficiente para este empreendimento, poderá ser necessário alarga-lo, aumenta-lo, tal como faz a Mythos com o mercado brasileiro. Portugal funciona para a Mythos como mais um estado brasileiro, um sector na sua distribuição sectorizada, reduzindo assim o encalhe nas vendas.
Uma editora portuguesa que partisse para este projecto, para obter sucesso teria obrigatoriamente que considerar o mercado brasileiro como parte integrante do português. Penso que tanto a SBE, como a Mythos editora, veriam com bons olhos uma parceria nesse sentido.

A edição seria produzida em Portugal e a Mythos seria responsável pela venda no mercado brasileiro. Considerando que existem cerca de 20000 coleccionadores brasileiros e que cerca de vinte por cento adquiria o livro, adicionando cerca de 5 centenas de exemplares para o mercado português, atingimos os 4500 exemplares. Quantos livros publicados actualmente ultrapassam estes números na primeira edição?
            
É claro que tudo o que aqui foi escrito nos dois últimos parágrafos não está fundamentado e carece de uma análise aprofundada por quem conhece, quer o mercado de BD portuguesa quer o brasileiro. Como leitor e coleccionador não me compete a mim pensar nestes aspectos, apenas gostaria de ver outras histórias do “Ranger” publicadas no meu País e parece-me, pelo que aqui expus, que existe condições para que “Tex contra Mefisto”, afinal não fique...singelo.


NOTA: Dedico esta peça a todos os que colaboraram na produção e edição de “Tex contra Mefisto”, a todos eles o meu muito obrigado.


Fontes:

PS: Texto publicado inicialmente no blogue do Tex em 22 de Maio de 2008


sábado, 24 de agosto de 2013

VENTOS DE MUDANÇA

Fábio Civitelli
Para quem se deslocou a Moura, ao festival da BD realizado em Maio último1, facilmente se apercebeu que a grande estrela do festival, foi sem dúvida Tex Willer, personagem da BD italiana, também conhecida por fumetti, criada no já longínquo ano de 1948, por GianLuigi Bonelli e Aurélio Galeppini.
A parte dedicada a este herói da BD, ocupava cerca de metade da área de toda a exposição e estava claramente dividida em três secções:
   - Tex de Civitelli, exposição de várias pranchas deste grande desenhador italiano, para muitos leitores considerado um dos melhores desenhadores do Ranger.
    - Tex de José Carlos Francisco, exposição de parte da colecção deste coleccionador, colecção de todo o tipo de artigos dedicados a este personagem, que engloba essencialmente livros e revistas de praticamente todos os países onde é, ou foi publicado. Colecção absolutamente fantástica, que desperta nos coleccionadores de BD um misto algo contraditório de sentimentos: Admiração – qualquer coleccionador pretende adquirir o máximo de artigos do que colecciona e se possível completar a sua colecção. O José tem sem dúvida, uma colecção digna de ser alvo de admiração, de tão espantosa que é. Frustração – Por muita dedicação e esforço que empenhemos para conseguirmos uma colecção deste calibre, é quase impossível igualá-la, uma vez que o seu proprietário não pára de acumular artigos que a engrandecem a cada dia que passa. Parabéns José Carlos, pela colecção, pelo esforço, pela dedicação e por tudo o que têm feito em prol deste personagem que tanto admiramos.
  - Os novos desenhadores de Tex, exposição de pranchas ainda por publicar, dos quinze novos desenhadores de Tex. Nesta parte estavam expostas pranchas de cada um dos novos elementos, que começarão a abrilhantar as páginas das várias revistas dedicadas ao personagem.

Sérgio Bonelli
Quando soube desta entrada massiva de desenhadores para o staff de Tex fiquei intrigado, porquê?
Não pela entrada de novos artistas do pincel, mas sim pelo seu exagerado numero. Quais serão os motivos que levarão Sérgio Bonelli a tomar esta opção? Nunca colocando a opção em causa, apenas pretendo perceber os motivos. Nolitta já provou ao longo de todos estes anos de vida editorial, que é um excelente editor, apesar de ser sem sombra de dúvida, melhor a escrever histórias de BD. É pena não existir outra Tea Bonelli, para que à semelhança do que aconteceu com o seu pai, se dedicasse exclusivamente aos argumentos e roteiros de BD, onde é inigualável.
Apesar de ter escrito muito poucas histórias de Tex, em comparação com o seu pai ou com Cláudio Nizzi, consegue colocar muitas delas na selecção de melhores histórias de qualquer leitor. Recomendo a leitura ou releitura de: Missão em Great Falls (Tex 131-134)2; O solitário do oeste (Tex 163-165)2; A patrulha perdida (Tex 177-179)2; A grande ameaça (Tex 182-183)2 e O Assassino sem rosto (Tex 193-195)2, só para mencionar algumas. Em Zagor, explorou como nenhum outro o personagem Chico, ao ponto deste rivalizar com o protagonista da série e devido à popularidade adquirida ter ganho inclusive uma revista própria. Com Nolitta, as histórias são muito movimentadas, repletas de acção e aventura, sem nunca descurar outros ingredientes como o humor.
Como já referi, Nolitta dava grande importância ao Chico, ao ponto de inserir pequenas histórias, que por vezes não tinham qualquer ligação à trama principal e que ocupavam quarenta ou cinquenta hilariantes páginas.

Para os leitores mais recentes de Zagor, que não conseguem perceber o porquê de Chico ter tantos admiradores, sugiro que leiam a colecção Zagor publicada pela RGE e Globo. Ao todo são 38 revistas, com excepção do Nº1 (escrita por Tiziano Scalavi), e números 27, 28 e 29 (Alfredo Castelli), todas são escritas por Nolitta. Esta colecção apresenta várias histórias que marcaram a vida do personagem, como as primeiras aparições do Super Mike, Kandrax e Winter Snake. Aparecem também histórias com o Helligen e o Vampiro, além dos estarem presentes quase todos os amigos de Zagor, enfim, uma colecção “curta”, mas muito atractiva em termos de conteúdo.
Outra das características que muito aprecio nas histórias de Nolitta, é a carga de suspense que consegue introduzir nas suas histórias, existe suspense até ao desenlace final, o que Nizzi muito raramente consegue, nas muitíssimas histórias que já escreveu para Tex.

Voltando ao assunto que me levou a escrever: Porquê quinze novos desenhadores para Tex?
Se acrescentarmos a entrada de Mário Milano nos finais de 2006, somam dezasseis novas entradas, o que significa uma autêntica revolução no personagem. Podemos então concluir sem margem para erros, que Tex está para entrar numa nova fase, em meu entendimento, na 5ª fase da sua história.

1ª Fase – De Setembro de 1948 a Junho de 1966
Desenho de Galep
As histórias eram escritas por G.L. Bonelli e desenhadas quase em exclusivo por Galep. Devido ao enorme sucesso da série, o que levou ao aumento do número de páginas publicadas mensalmente, Galep começou a ser auxiliado por outros desenhadores, (Virgílio Muzzi, Francesco Gamba, Guido Zamperoni, Lino Jeva e Mario Uggeri), que se limitavam a desenhar algumas pranchas por história. Pranchas essas, que por vezes eram retocadas ou arte finalizadas pelo mestre Galep.  

2ª Fase – De Junho de 1966 a Janeiro de 1976
Vinhetas desenhadas por G. Ticci
O que marca o início desta fase, é a primeira história totalmente desenhada por outro desenhador que não Galep. Em Junho de 1966, o Tex italiano Nº 68, marca a estreia de Guglielmo Lettèri como desenhador oficial da saga. A partir deste numero, Galep começou a alternar com outro desenhador a responsabilidade dos desenhos em histórias completas, alternando assim o trabalho, primeiro com Lettèri, que a seguir a Galep é o desenhador que mais histórias têm desenhadas do Ranger e mais tarde com Erio Nicolò, Giovanni Ticci, Ferdinando Fusco e também Muzzi, que teve finalmente a oportunidade de desenhar histórias completas e não pranchas, como tinha acontecido na fase anterior. Fase de boa qualidade, quer a nível de desenhos quer de argumentos, que continuavam a ser alvos da genialidade do criador, GL Bonelli. Fase onde foram criadas algumas das melhores histórias de Tex, saliento as seguintes histórias publicadas na edição brasileira:
Forte Defiance (Tex 42-45), Entre duas bandeiras (Tex 53-55), A cruz trágica (Tex 50-52) e A grande intriga (Tex 107-110), entre muitas outras histórias igualmente dignas de registo. Quanto a esta última, que a editora Mythos se prepara para publicar na próxima edição de Tex Edição Histórica, vai tornar-se um
Zagor ed. brasileira Nº 6 da Record
“marco” histórico para esta colecção e para a editora, se a publicar completa numa única edição. Uma das premissas de Tex Ed. Histórica, era publicar todas as histórias por ordem cronológica, o que rapidamente foi alterado devido à grande disparidade de páginas que cada história comporta, assim, agrupam-se pequenas histórias para que a revista tenha sempre um número elevado de páginas. A colecção também previa publicar unicamente histórias completas, o que foi conseguido até hoje. Mas então o que fazer a uma história que ultrapassa as quinhentas páginas? Apenas a editora Record teve a coragem de publicar uma revista de BD com esta dimensão, (Zagor Nº6, O raio da morte), mesmo assim esta história “só” tinha 436 páginas, ainda muito distante das quinhentas agora exigidas. Espero que a Mythos tenha essa coragem e resista à tentação de publicá-la em 2 partes. Se não o fizer, nas próximas histórias colocará sempre essa hipótese, acabando por banalizar esse facto e a colecção.

3ª Fase – De Janeiro de 1976 a Julho 1983
Tex ed. italiana Nº 183
O Tex italiano nº183 apresenta a 1ª história de Guido Nolitta, esta história à semelhança da 1ª de Lettèri também marca a entrada de uma nova fase. As histórias passam a ser escritas por pai e filho, com maior intensidade pelo criador. Fase muito semelhante à anterior, o nível das histórias é extremamente elevado, o naipe de desenhadores que se manteve da fase anterior era excelente e foi reforçado por Vicenzo Monti em 1982, já no final desta fase. Devido ao cunho muito pessoal e característico de cada um deles, qualquer leitor de Tex, folheava a revista em qualquer ponto e identificava automaticamente o desenhador. Apesar de não ser grande apreciador da arte de Fusco, talvez por ser um desenho muito detalhado que não brilha no formato em que é publicado no Brasil, (a prancha original têm um formato superior a A4, sendo muito reduzido para publicação), considero que a 2ª e 3ª fases são as melhores fases de Tex, G.L. Bonelli estava no auge das suas potencialidades de escritor e Nolitta engrandeceu esta fase com algumas das melhores histórias como já mencionei. Além das histórias escritas por Nolitta que já referi, destaco ainda as escritas por GL Bonelli: Trapper (121-124)2, A águia e o relâmpago (136-138)2e Jogo aberto (147-149)2
Recomendo aos leitores mais jovens a leitura destas 2 fases, podem acompanhar as histórias ou em Tex colecção, (a partir do Nº 96), ou Edição histórica, (a partir do Nº36).

 4ª Fase – De Julho 1983 a Fevereiro a de 2007
Cláudio Nizzi
A entrada de Nizzi em Julho de 1983 faz com que se abra uma nova e incaracterística fase do personagem, muitos não concordarão comigo e provavelmente fariam subdivisões desta fase, no entanto, apesar de se terem passado muitos acontecimentos importantes ligados ao personagem e aos seus criadores, não considero nenhum facto marcante que justifique essa mesma divisão, senão vejamos:
     - GL Bonelli escreveu a sua última história em 1991, (Tex 364)3, tinham entrado para a série os seguintes desenhadores: Fábio Civitelli 1985, Jesus Blasco e Cláudio Villa 1986, Rafaelle della Monica e Alberto Giolitti 1989 e Raffaele Carlo Marcello 1991. Estas entradas como podem observar foram espaçadas no tempo, como tal não provocaram nenhuma instabilidade. O próprio abandono de um dos criadores, foi feito de uma forma gradual, Bonelli escreve esta história para se despedir oficialmente de Tex, uma vez que ele já não escrevia nenhuma história desde 1989, (Tex 340)3 e o principal responsável pelos argumentos já era o Nizzi, que nos primeiros anos seguia de uma forma metódica, a fórmula de Bonelli na elaboração das histórias.
    - O Falecimento de Galep em 1994. É verdade que o Ranger ficou “órfão” de pais a partir do Tex Nº4013, no entanto, o Galep apesar de ainda ter um belíssimo traço, como ficou provado em Tex Nº4003, meses antes da sua morte, já desenhava muito poucas histórias, (a anterior, Tex 3773 quase dois anos antes); Pelo que a sua ausência na série só foi mais notada, porque todas as capas tinham sido de sua autoria até esta data.
      - Entre 1991 e 1994 entraram os seguintes desenhadores: Victor de la Fuente 1992 e José Ortiz 1993.
     - A primeira história escrita por Boselli, Tex 4073 em Setembro de 1994, para mim não marca o início de uma nova era, apesar de a partir desta história, os argumentos da série principal terem passado a ser escritos quase exclusivamente pela dupla Boselli/Nizzi. Não podemos esquecer que além de Boselli, tanto Michele Medda como Decio Canzio, foram testados como alternativa a Nizzi, tendo a opção recaído sobre Boselli. Mais um desenhador que entrou para o “staff”, após passar o teste no Texone, foi ele Aldo Capitanio em 1995. Andrea Venturi por sua vez, aparece pela primeira vez em 1996, no almanacco del west desse ano.
Maxi - Tex Nº 2, o 1º escrito por A. Segura
     - Em 1997, na colecção MaxiTex surge um novo Argumentista, António Segura, que apesar de só terem publicado as suas histórias nesta colecção, veio juntar-se á dupla oficial do personagem.
     - Entre 1997 e 2007 muitos outros artistas da 9ª arte se juntaram ao personagem, artistas como Alfonso Font 1998, Miguel Angel Repetto 1999, Bruno Brindisi 2002, Manfred Sommer, Robert Diso, Raul e Gianluca Cestaro 2003 e Mario Milano 2006.Só me referi àqueles que constituem a equipe oficial, muitos outros tiveram participação principalmente na colecção Texone, artistas do pincel como: Joe Kubert, Ivo Milazzo, Magnus ou Colin Wilson, ou ainda outros que participaram em Almanacco del West: Caleggari e Gattia nos desenhos e Pasqualle Ruju Texto.
Como podem Observar, foi uma fase muito longa e incaracterística como já referi, aos muitos desenhadores já mencionados temos de acrescentar aqueles que transitaram da fase anterior e que se mantêm até aos dias de hoje, casos de Ticci e Fusco, e também os já falecidos, Nicolò e Lettèri.
Argumentistas também foram vários, GL Bonelli, Cláudio Nizzi, Decio Canzio, Guido Nolitta, Mauro Boselli e Michele Medda.

5ª Fase – De Fevereiro a de 2007 a ….
Senão fosse a confirmação oficial da editora, da massiva entrada de novos desenhadores, que praticamente coincide com a entrada de um novo argumentista: Tito Faraci, não poderíamos concluir que se estava a iniciar uma nova fase. Isto porque além dos trabalhos dos novos elementos, há que publicar também, de uma forma intercalada, os trabalhos de todos os outros desenhadores, assim, até se publicar um único trabalho de cada um deles, vão se passar anos, no mínimo três, pelo que a entrada dos novos elementos confundir-se-ia com uma entrada a “conta gotas”, o que estaria muito longe da realidade.

Voltamos à questão: Porquê quinze novos desenhadores para Tex?
Apenas podemos especular, eu como leitor interessado tenho as minhas ideias baseadas nas notícias que vou lendo sobre o assunto, ideias que passo a expor:
Miguel Angel Repetto
     - Grande parte dos actuais desenhadores de Tex possui idade avançada, pelo que é de prever, num futuro muito próximo, alguns deles sejam afectados por problemas de saúde, problemas que os impeçam de exercer a sua actividade profissional. Estou a referir-me nomeadamente a: Fusco, Ortiz, Repetto, Marcello e Sommer, todos eles já ultrapassaram os setenta e três anos de idade, mas também a Ticci e a Font, que já ultrapassaram os sessenta.
     - A editora Bonelli possui um número muito elevado de colaboradores, colaboradores de elevada qualidade dos quais Nolitta não quererá prescindir, mesmo em situação de redução de publicações. Assim, “recruta-os” para o “staff” de Tex, reduz o número de trabalhos a cada um deles e torna possível a sua manutenção nos quadros da empresa, mostrando mais uma vez que além de óptimo gestor, também é um ser humano que muito se preocupa com os seus colaboradores.
     - O Texone sempre foi um problema “bicudo”, a tarefa de encontrar um desenhador de créditos firmados a nível internacional, que estivesse disposto a desenhar mais de 200 páginas, sempre foi muito difícil desde o início. Parece-me que Nolitta, sem desvirtuar o teor da colecção, resolveu este problema por vários anos, alguns destes novos elementos, desenharão um Texone e posteriormente passarão então ao Tex normal; Brilhante.
      - Em vez de seleccionar 4 ou 5 desenhadores que porventura necessitaria nesta fase, coloca os 15 a desenhar algumas histórias e a selecção será posteriormente efectuada pelos leitores, reduzindo assim as hipóteses de errar na escolha e passando essa responsabilidade, àqueles para os quais a revista é publicada.
      - Publicação de uma nova revista ou a redução da periodicidade do Almanaco ou do MaxiTex.

Quanto aos novos desenhadores, cujas pranchas tive oportunidade de apreciar em Moura e correndo o risco de errar nas minhas apreciações, uma vez que não se pode ajuizar o trabalho de cada um deles, apenas pela visualização de 2 pranchas; Sabendo no entanto que, não existe uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão, passo a referir apenas aqueles que mais me impressionaram:
     - Positivamente:
Prancha de Marco Torricelli
Marco Torricelli, fantástico! Soberbo! Em minha opinião o melhor de todos. Se conseguir cumprir os prazos, mantendo a qualidade evidenciada nas 2 pranchas expostas, têm tudo para se tornar um dos melhores desenhadores de Tex de todos os tempos. Espero que a sua entrada se faça através de um Texone, seria lamentável não termos um Texone desenhado por este artista, o que provavelmente irá acontecer se entrar directamente para o Tex mensal. Já basta não existir um Texone desenhado por Gallieno Ferri, para mim a grande falha de Sérgio Bonelli como editor, Ferri merecia sem dúvida este prémio por todo o seu trabalho ao longo de quase cinquenta anos de dedicação à SBE, assim como Tex.
Giacomo Danúbio e Bianchini & Santucci, desenhos de grande qualidade, muito límpidos e detalhados à semelhança de Civitelli. O cenário está quase sempre presente, mesmo nos grandes planos, o que valoriza muitíssimo a qualidade do desenho – localizar o local da acção em todos os quadros.
Lucio Filippuci, apenas não aprecio muito a forma como desenha Tex nos grandes planos.
Alessandro Piccinelli, muito bom trabalho à semelhança dos já mencionados, no entanto, a quase ausência de cenários em grandes planos, desvaloriza muito a qualidade do mesmo como já referi, ainda mais se nota se a história abusar desta perspectiva, não sei se este artificio é utilizado pelos desenhadores para poderem cumprir os prazos ou simplesmente porque é mais cómodo. Melhorará substancialmente se as histórias não forem apresentadas sobre esta perspectiva. Tenho óptimas expectativas para este desenhador.
      -Negativamente:
Prancha de Orestes Soares
Orestes Suares e Corrado Mastantuono, desenhos demasiado “sujos” e de traço muito pouco preciso, enfim, a arte destes dois artistas não me impressionou, nem sequer gostei da versão do protagonista apresentada por eles, a de Suares então, parece um energúmeno, um autentico “brutamontes”.
Quanto aos restantes, espero observar novos trabalhos para que possa ter uma opinião mais formada, as duas pranchas observadas não foram suficientes.

Acredito que foi a conjugação de alguns pontos referidos que levaram o editor a provocar esta revolução em Tex, espero que esta fase não seja muito longa, (não ultrapasse 4 ou 5 anos) e estabilize num número mais restrito de desenhadores, com excepção dos convidados para o Texone obviamente. Apesar de novos desenhadores poder significar novos leitores, leitores que acompanham o trabalho do desenhador independentemente do personagem, o inverso também é possível, com um número tão elevado de desenhadores, vão passar-se vários anos até vermos publicados os trabalhos daqueles que preferirmos. Este facto pode levar muitas pessoas a afastarem-se da série, assim como, o facto de Tex ter um numero tão elevado de rostos o fazer perder a sua identidade e muito provavelmente, também leitores.

E se eu estiver errado? E se a principal razão não for nenhuma das já mencionadas? Será que Bonelli está realmente preocupado com o Tex como aparenta à primeira vista? Sérgio completa este ano 75 anos! É natural que comece a pensar na sua reforma e como a SBE irá funcionar após o seu afastamento. Será este o verdadeiro motivo? Preparar a sua saída a curto/médio prazo, garantindo desde já a viabilidade da empresa com esta reestruturação de pessoal?

O tempo se encarregará de responder, no entanto, seja qual for a resposta, espero que estas medidas garantam a continuidade da SBE por muitos e longos anos, para satisfação de todos os leitores de BD em geral e dos fumetti em particular.  


1 Este texto foi escrito em Julho de 2007
2 Tex-Edição Brasileira
3 Tex-Edição Italiana

Fontes: 

PS: Texto publicado inicialmente no blogue do Tex em 26 de Julho de 2007


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

EDIÇÕES COMEMORATIVAS

Província de Pavia, município de Stradella, Itália; entre 31 de Maio e 8 de Junho do corrente ano[1], inserido num evento realizado pela Oltrecomics, ocorreu uma exposição de sessenta e seis pranchas, enviadas pela Sérgio Bonelli editore. Esta exposição também contou com a presença de dois desenhadores do personagem de maior sucesso da BD italiana. Um já consagrado, Fábio Civitelli, o segundo à procura de se afirmar entre os desenhadores da série, Rossano Rossi.
            
Setembro de 1948, surgiu nas bancas italianas mais um personagem de BD, mais um entre os inúmeros que surgiam naquela época do pós guerra. O seu nome, Tex Killer, rapidamente alterado para Tex Willer devido ao significado da palavra Killer: Assassino.        


Estes dois eventos encontram-se separados por seis décadas, durante uma vida o personagem cresceu, ultrapassou as expectativas dos criadores e tornou-se o maior herói da Bd italiana, também chamada de “fumetti”. Esta iniciativa realizada em Stradella, foi apenas a primeira englobada nos festejos dos 60 anos do personagem, entretanto muitos outros ocorreram, quer em Itália quer no Brasil. A salientar a homenagem efectuada pelo jornal La Stampa, através do seu suplemento cultural semanal, publicada em 2 de Agosto último. O próprio estado do Vaticano, no quotidiano da santa Sé “LÒsservatore”, não deixou passar em claro a efeméride.

No Brasil, país que pode ser considerado a 2ª pátria do personagem, têm sido inúmeras as manifestações de apreço pelos fãs: Santa Maria/RS, a 27 e 28 de Setembro último, foi apenas mais uma.
            
Quais as razões do sucesso? Como é que foi possível manter mensalmente uma revista durante 60 anos?
“A riqueza do enredo, as revistas são muito bem escritas e pensadas. Além do desenho claro, que é soberbo” Estas são as razões apontadas por Octávio Gordo, medidor orçamentista de 32 anos, residente em Guimarães.
Também Carlos Gonçalves, de 67 anos de idade, director comercial reformado reforça a ideia: “ O que contam são os argumentos, nos quais os italianos dão cartas, pela grande escola de argumentistas que sempre tiveram…embora os desenhadores tenham sempre uma palavra a dizer, muitos deles, têm sido muito bons a ocuparem-se dessa tarefa”. Já Carlos Moreira de 43 anos, responsável de armazém, descortina mais uma razão: “…trabalho desenvolvido pelas editoras tanto na Itália como no Brasil, assim como o excelente trabalho de divulgação em Portugal efectuado pelo José Carlos”.

Parece ser consensual que os argumentos bem elaborados e a grande diversidade de desenhadores, muito contribuíram para o sucesso da série. Além das razões apontadas, posso acrescentar mais uma: Sérgio Bonelli! Desde o seu contributo como escritor: Iniciou-se com o Tex italiano nº 183 e a história intitulada: Caçada humana[2], até aos dias de hoje no papel de editor. Como escritor escreveu algumas das melhores histórias: Missão em Great Falls (Tex 131-134)[3]; O Solitário do Oeste (Tex 163-165)[4] ou El muerto(Tex 112) [3], entre outras. Como editor sempre demonstrou especial carinho pelo personagem, manteve-o fiel à fórmula de seu pai e sempre destacou os melhores argumentistas e desenhadores para a série. Os outros personagens têm-se visto “espoliados” de alguns dos seus melhores artistas.

Com o objectivo de premiar o público fiel, foi lançado uma edição colorida, quer em Itália quer no Brasil e a Mythos conseguiu a proeza de publicá-la, com apenas um mês de atraso, relativamente à sua publicação na “velha bota”.
Porquê publicar a mesma história no Brasil? Apesar de proporcionar aos coleccionadores brasileiros as ultimas novidades que estão a sair em Itália, será que foi a melhor opção para celebrar o evento?
“…divulgar mais o filme de Tex em DVD…” Quem o afirma é Emanuel Neto, professor de 27 anos, residente em Portalegre. Já José Carlos Francisco, metalúrgico de 40 anos, residente na Anadia, “…uma edição especial de Tex…formato gigante, papel de qualidade, capa cartonada e com conteúdos diferentes das histórias, mas cheio de artigos…). A mesma opinião partilha G. G. Carsan, fotógrafo de 43 anos, residente em Jampa, Brasil, “…o ideal seria lançar também uma aventura em tamanho gigante, cartonada, colorida e um livro sobre o personagem.”
            
Apesar de concordar plenamente com a ideia do lançamento de um livro, de formato maior, capa cartonada e colorido, semelhante aos publicados pela editora Mondadori em Itália, a opção da Mythos é perfeitamente compreensível.
No Brasil são publicadas actualmente diversas colecções de Tex. Entre as edições mensais, o Almanaque e o Gigante, ainda existem as edições Histórica, Anual, Ouro e os Grandes Clássicos. Diversas colecções que publicam em simultâneo as diferentes fases do personagem. Perante este cenário, não se avizinhava tarefa fácil lançar uma edição especial, afinal, não basta colocar a palavra na capa para a tornar. A editora, ou por não possuir os meios técnicos necessários ou simplesmente por não considerar economicamente viável o lançamento do livro, não colocou ou rejeitou essa hipótese. Se excluirmos o livro nos moldes referidos, parece-me que uma edição colorida, em papel de melhor qualidade, com a inclusão de uma história inédita e acompanhada por matérias, foi sem dúvida uma boa opção, afinal, em todas as colecções publicadas não existe nenhuma que seja colorida. A lamentar apenas não se ter optado pelo formato italiano.

Em Agosto de 1978 surgiu nas bancas brasileiras mais uma revista “made in” Itália. A editora responsável, a mesma que publicava Tex na altura, a editora Vecchi.
Passados 30 anos, mudanças de editoras e ausência nas bancas durante alguns períodos, Zagor completou 3 décadas de existência no Brasil, mais uma data digna de comemoração e mais uma edição especial alusiva à efeméride.

Estas edições especiais normalmente vendem muito mais que as ditas normais. Por ser uma única edição. Por ser uma história seleccionada e fechada. Por virem recheadas de artigos ou entrevistas ou suplementos que enriquecem bastante a edição. Porque leitores de outras publicações aproveitam estas edições para conhecerem os personagens. Enfim, pelas mais variadas razões.
Os responsáveis pelas publicações devem encarar estas oportunidades para divulgar e promover antecipadamente as edições, de forma a aumentar o número de coleccionadores e consequentemente as vendas.

Se para Tex era extremamente difícil escolher os moldes da edição especial, devido à existência das diversas colecções, o mesmo já não se pode afirmar para Zagor que apenas possui duas edições mensais e uma especial. A Mythos desperdiçou uma óptima oportunidade que esta edição comemorativa lhe proporcionou: Testar o lançamento de uma nova colecção de Zagor. Os fãs anseiam por uma nova colecção, seja o Anual, o Histórico ou o Colecção. Ao lançar a nova colecção, “disfarçada” de edição especial, testava o mercado, reduzia os riscos que acarreta o lançamento de uma nova colecção e posteriormente decidia se continuava a publicação.
Basta aceder ao fórum do Portal Tex Brasil, para verificar a onda de revolta causada pelo anúncio da substituição da história anteriormente anunciada [5].

A edição Especial de Zagor 30 anos foi decepcionante para os fãs, não pela história, não pelos desenhos ou pelas poucas páginas, mas sim pela enorme expectativa criada pelo anuncio, de uma super edição, que depois foi cancelada.
A próxima edição comemorativa dos dois personagens, será certamente o centésimo número de Zagor, a sair dentro de pouco mais de seis meses.
Esperemos que o personagem desta vez lhe seja concedido a edição que os seus fãs desejam, afinal, é também graças aos leitores e coleccionadores que as publicações se mantêm nas bancas.

Quando se oferece uma prenda a alguém, manda o bom senso saber os gostos, as preferências e as necessidades de quem recebe, para que a oferta seja bem recebida. É aqui a principal falha da Mythos! A página de Internet, mesmo remodelada continua pouco funcional: A interacção com os coleccionadores é praticamente inexistente, talvez por considerar suficiente, o excelente trabalho desenvolvido pelo Portal Tex Brasil e pelo Blogue do Tex, na divulgação dos personagens e das revistas.
Como podemos constatar nesta peça, mesmo considerando que a amostra não é representativa, os leitores são de diversas faixas etárias e de extractos sociais, assim é extremamente difícil agradar a todos, no entanto, é sempre possível agradar à maioria. Com um simples questionário, sobre qual a edição a lançar como edição comemorativa, colocado na página de Internet, poderia se ter chegado facilmente a essa conclusão.

Já o referi, considero a edição Zagor Especial 30 anos uma enorme desilusão, apesar disso foi apenas uma entre as cerca de 600 edições de Tex e Zagor que a Mythos já produziu. Em Janeiro próximo a Mythos completa dez anos desde que assumiu a responsabilidade de publicar “Bonelli Comics”. Em apenas uma década a editora já publicou mais de 400 edições de Tex, ultrapassando assim largamente as cerca de 260 da Vecchi e também as publicadas pela Globo, (cerca de 320). De Zagor, já colocou nas bancas brasileiras quase tantas as edições, quanto as suas antecessoras juntas. Todas estas edições, publicadas numa fase extremamente complicada para a BD a nível mundial. É sem dúvida um trabalho fantástico, que tanto eu como todos os coleccionadores devem estar agradecidos, não só pela quantidade, como pela qualidade das edições e não será por achar que o Zagor edição Especial 30 anos foi uma edição pouco conseguida e com falhas no planeamento, que todo este trabalho sai minimamente ofuscado. 

Será que esta data não deveria ser alvo de uma edição comemorativa? Que personagem e que tipo de edição deveria ser lançada? Será que a Mythos têm alguma surpresa que ainda não divulgou?
Aguardemos, afinal falta pouco mais de um mês.


[1] – Este texto foi escrito em Dezembro de 2008
[2] – Tex 1ª e 2ª edições brasileiras números 68 e 69.
[3] – Tex 1ª e 2ª edições brasileiras
[4] – Tex edição brasileira 1ª edição.
[5] – A Mythos anunciou que a história publicada em Zagor 30 anos seria retirada do Maxi Zagor Nº8, história de 288 páginas.

http://www.sergiobonellieditore.it/

PS: Texto publicado inicialmente no blogue do Tex em 12 de Dezembro de 2008
http://texwillerblog.com/wordpress/?p=18311


terça-feira, 20 de agosto de 2013

AS DUAS FACES

Brasil, país localizado na América do sul constituído por 26 estados federados, possuidor de um território vastíssimo, a quinta maior área territorial do mundo. Cerca de sessenta por cento do ainda chamado pulmão do mundo, a floresta amazónica, encontra-se no interior do seu território. Este país, a 9ª maior economia do mundo pertence ao BRIC, (Brasil, Rússia, Índia e China), países emergentes caracterizados por situações económicas e políticas estáveis, grandes reservas de recursos naturais, PIB com elevado crescimento e grandes entradas de capitais estrangeiros. No seio deste riquíssimo país e nos seus cerca de 190 milhões de habitantes, existem no entanto duas pessoas que se distinguiram pela forma como contribuíram para divulgação de um personagem da BD italiana.


O mocinho do Brasil, livro da autoria de Gonçalo Júnior [1], publicado pela editora Laços em 2009. Este livro aborda o percurso de Tex willer no Brasil, foi lançado após o personagem ter completado 60 anos de existência. De formato de 16 por 23 centímetros, com capa cartonada com orelhas, este livro possui 208 páginas e encontra-se dividido em oito capítulos e um anexo.
Os primeiros quatro capítulos são dedicados às editoras que publicaram Tex no Brasil, um por cada editora, desenvolvendo não só a evolução do personagem na sua passagem por cada editora, mas também dos outros personagens Bonelli, explicando as razões da publicação de cada um deles e as ligações dos editores brasileiros à Casa italiana. O 5º capítulo é todo ele dedicado à história que o autor considera a melhor de Águia da Noite, a primeira desenhada por Ferdinando Fusco e escrita por Guido Nolitta, que o impressionou ao ponto pesquisar sobre a construção da história e entrevistar o próprio Sérgio Bonelli, (entrevista também ela publicada neste capítulo). O sexto capítulo aborda o plágio nas revistas de banda desenhada, em pormenor, a história de Tex que foi plagiada: Caçada humana. O sétimo, dedicado a Chet, personagem criado por dois brasileiros, os irmãos Portela. O último capítulo, bastante interessante para os coleccionadores mais novatos, compila numa listagem, todas as edições de Tex publicadas no Brasil, com indicação da editora, colecção, ano e mês de publicação. O anexo é um caderno colorido com todas as capas da revista Junior, a primeira revista a publicar Tex no Brasil na década de cinquenta sob o formato de tiras.

Tex no Brasil, livro publicado pela editora Sal da terra também em 2009,  de autoria de G.G. Carsan [2]. Esta publicação apresenta-se em 300 páginas, dividida em 29 capítulos, 6 anexos e um prefácio de Gervásio Santana Freitas. Dos capítulos destacam-se os dedicados aos parceiros, inimigos, mulheres, criadores, roteiristas e desenhadores. Apesar do titulo do livro, apenas dois capítulos são dedicados à passagem do herói pelo Brasil: O XII, Da editora às bancas e o XIII, Tex no Brasil.

Estas duas obras têm um objectivo comum: Abordar o sucesso editorial de Tex willer no Brasil. No entanto e apesar disso, existem mais pontos que os distinguem do que aqueles que possuem em comum.
A obra de Gonçalo Júnior foca-se quase exclusivamente nesse objectivo. Em cada capitulo o assunto abordado é dissecado ao pormenor ao longo das páginas que lhe são dedicadas, contribuindo para que o leitor tenha uma percepção muito abrangente do ocorrido. Se o livro, O mocinho do Brasil é muito focado no objectivo, o mesmo não se passa com o de G.G. Carsan, que é bastante divergente. Em Tex no Brasil, o autor prefere explanar todo o universo texiano, construindo uma obra que é um autêntico manual para iniciantes na saga do personagem.

Da obra de Gonçalo Junior gosto particularmente do desenvolvimento que o autor consegue nos primeiros 4 capítulos em que nos descreve a história de cada uma das editoras, explicando as razões do sucesso e do fracasso. A explicação da opção da publicação de Tex e dos outros personagens Bonelli e a ligação da família Vecchi a Itália. O anexo, é outro dos pontos altos! Para os coleccionadores é a cereja no topo do bolo, o caderno colorido das 277 capas da revista Júnior.

Relativamente à publicação de G.G. Carsan, o mais interessante não é tanto a abordagem do autor à existência de Tex no Brasil. Este livro torna-se especialmente interessante por ser mais abrangente, por explanar todo o universo texiano, nesse aspecto chamo particular atenção aos capítulos dedicados aos criadores, roteiristas e desenhadores em que o autor apresenta-os e descreve a relação destes com o personagem e as principais histórias em que estiveram envolvidos, revelando um trabalho minucioso de pesquisa. Os capítulos dedicados aos parceiros, amigos e inimigos também são bastante interessantes. O capítulo XV dedicado aos episódios, pequena descrição de todas as histórias publicadas na série mensal brasileira até ao nº 474. Os anexos 4 e 5, com os rostos do personagem efectuado pelos desenhadores que trabalharam esporadicamente na série e o anexo 6 com a listagem de histórias da edição mensal brasileira com a indicação do desenhador, (pena não ter incluído o escritor), são outros pontos de destaque da obra, principalmente para os leitores mais jovens.

Outro ponto em que as duas obras divergem é na linguagem utilizada! Gonçalo Júnior utiliza uma linguagem mais formal, apesar de ser fã do personagem o autor mantém-se distante revelando profissionalismo. G.G. Carsan pelo contrário, não consegue disfarçar a proximidade utilizando uma linguagem mais corrente, mais emotiva.

Se avaliarmos as obras ao nível do suporte físico, o livro da editora Laços está melhor concebido, de formato ligeiramente maior, com melhor encadernação sendo a capa com orelhas o aspecto que mais se destaca. Tex no Brasil por seu lado possui um detalhe que o torna apetecível para os coleccionadores e que não é muito usual: As edições são todas numeradas de 1 a 1000.

As duas obras são como duas faces da mesma moeda, o assunto desenvolvido é o mesmo, no entanto, a diferente forma de abordagem efectuada pelos autores, um cingindo-se ao assunto e o outro divergindo. O primeiro o profissional e o segundo, o fã, fazem com que sejam complementares e não redundantes. Assim, apesar de toda a informação disponível na Internet, contributo dos mais destacados texianos, mais precisamente no Portal Tex Brasil e no Blogue do Tex, estes dois cidadãos brasileiros conseguiram, através das suas obras, contribuir de uma forma distinta para a divulgação do Tex no Brasil, com 2 livros que merecem estar nas colecções de todo o texiano.


NOTA: Atendendo que as tiragens de cada edição são de apenas 1000 exemplares e que são edições dedicadas a coleccionadores e não a leitores, não é difícil de prever, que estas edições uma vez esgotadas serão muito difíceis de encontrar, e as que se encontrarem à venda deverão atingir preços exorbitantes, pelo que os interessados devem desde já pensar em garantir o seu exemplar.
  
[1] - Gonçalo Júnior nasceu em Guanambi, Bahia, em 1968. Jornalista e pesquisador de artes gráficas, principalmente de quadrinhos. Vive em são Paulo desde 1997 onde trabalhou no jornal Gazeta Mercantil. Autor de diversos livros entre os quais: Claustrofobia, Guerra dos gibis, Tentação à italiana, entre outros. È fã do personagem possuindo quase todas as colecções completas e 3 exemplares da edição nº1 que guarda religiosamente.


[2] - Geraldo Guilherme de Carvalho Santos (G.G.Carsan), nascido no Rio d Janeiro em 1965, formado em administração de empresas, fotógrafo e webdesign, trabalha actualmente na área da comunicação. Iniciou-se na leitura de Tex desde tenra idade, começou a coleccionar no nº 65 da edição brasileira, A flor da morte e nunca mais parou. 

Fontes: 
Tex no Brasil – Editora: Sal da Terra
Tex, o mocinho do Brasil – Editora: Laços

PS: Texto publicado inicialmente no blogue do Tex em 28 de Junho de 2012