Dois de Abril de 2016
foi um dia muito triste para os amantes da BD! Gallieno Ferri, um dos
desenhadores com maior prestigio em Itália, e uma referência para inúmeras
gerações de artistas, num país onde a BD é muito mais do que uma forma de
entretenimento, faleceu em Génova, a mesma cidade onde nasceu em 21 de Março de
1929, à oitenta e sete anos atrás.
No inicio da sua vida profissional e antes de se dedicar à nona arte, trabalhou alguns anos como agrimensor, tendo
começado a sua carreira de desenhador quase por acaso, após ter sido seleccionado num concurso para novos talentos promovido pela editora de Giovanni
De Leo. Para essa mesma editora, com o argumento do próprio De Leo e com o
pseudónimo de Fergal, Ferri vai desenhar em 1949, o seu primeiro personagem: Il
Fantasma Verde. Seguem-se Piuma Rossa, um western, e Maskar, personagem criado
em conjunto com De Leo para substituir Fantax. Série, que apesar do enorme
sucesso obtido, por ser violenta e, devido à censura existente na época, teve
de ser cancelada! Maskar não passava de uma “cópia” do Fantax expurgada dos
excessos de violência que motivaram o cancelamento!
Durante
o período 1949 e 1951, além do trabalho normal na editora, Ferri
envolve-se noutros projectos com De Leo, como Big Bill, Le Casseur e
Robin Hood, publicações licenciadas pela francesa de Pierre Mouchtt, a
S.E.R.
Entre 1952 e 1953, mais uma vez com De Leo, e
numa coprodução com Mouchott, criam Thunder Jack. Posteriormente, após a
interrupção da série em Itália, Ferri vai continuar a desenhar o personagem
apenas para o mercado francês. Nessa série o desenhador vai adotar, pela primeira
vez, as próprias feições para a composição do protagonista. Processo que vai
repetir mais tarde com Zagor! Como reconhecimento do seu trabalho em França,
Ferri é convidado por Mouchott a criar outros personagens especificamente para
o mercado gaulês e para a S.E.R.. Surgem então, fruto dessa ligação, Kid
Colorado, Jim Puma e Tom Tom. Este ultimo publicado mais tarde em Itália pela
De Leo.
No final da década de cinquenta, do
seculo passado, o desenhador decide voltar a trabalhar, também, para o
mercado italiano, iniciando a colaboração com a redação do Il Vittorioso,
desenhando diversas histórias de Capitan Walter e de Jolly.
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SERGIO BONELLI E GALLIENO FERRI |
Em 1960 conhece Sergio Bonelli, o então jovem
editor da Edizioni Araldo, a actual Sergio Bonelli Editore, que lhe reconhece
enorme talento, entregando-lhe a responsabilidade de desenhar alguns episódios
de Giubba Rosa escritos pelo seu pai, Gianluigi Bonelli. Após a conclusão
desses trabalhos, e não existindo outros argumentos disponíveis, Nolitta que
pretendia manter o extraordinário desenhador, cria um personagem
especificamente para ele: Zagor!
Em 1975, novamente com Guido Nolitta, criam
Mister No, desenhando apenas a história inicial e as primeiras 115 capas da
série.
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MISTER NO E ZAGOR, OS DOIS PERSONAGENS CRIADOS PELA DUPLA NOLITTA FERRI |
Devido ao sucesso de Chico, em 1979 é lançada
uma nova colecção dedicada a este personagem, CICO STORY. Nolitta e Ferri são os
responsáveis pelos primeiros cinco números da coleção!
Entre 1998 e 2000 Ferri desenha as capas das
ultimas 3 edições especiais de “Il Comandante Mark”.
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PRANCHA DE ZAGOR 565/566 PUBLICADOS EM ITÁLIA EM SET12 |
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EDIÇÃO ESPECIAL DA SBE A MARCHA DO DESESPERO |
Inspirado pelos grandes autores clássicos dos
anos 20, 30 do século passado, Alex Raymond, Phil Davis, Ray Moore e Milton
Carniff, Ferri era um desenhador muito versátil, capaz de produzir desenhos
muito expressivos aliados a uma enorme capacidade de execução. Estas duas características do seu trabalho, rapidez e versatilidade, justificam, só por si,
a magnitude dos números apresentados. Mas mais do que números, o seu nome está
escrito em algumas das mais belas aventuras do personagem! Aquelas que os fãs
lembrarão para sempre: “Oceano”, “A marcha do desespero”, “Kandrax, o mago”, “Dharma,
a bruxa”, ou “O retorno do vampiro”, entre muitas outras.
Por
se manter activo numa idade tão avançada e até ao seu falecimento, numa profissão extremamente exigente ao nível da visão e destreza de movimentos, por ser uma inspiração para os jovens desenhadores, por ter feito sonhar com a sua arte, inúmeras gerações de leitores um pouco por todo mundo, Gallieno Ferri é um exemplo de vitalidade, dedicação, paixão, e acima, de
tudo, de vida, que a sua obra perpetuará para sempre. Obrigado Ferri.
REFERENCIAS:
http://dimeweb.blogspot.pt/2016/01/zagor-anno-per-anno.html
http://www.ubcfumetti.com/data/ferri.htm
http://www.sergiobonelli.it/gallery/news/39937/Addio--Maestro-Ferri-.html