Em setembro de 2021 fui agradavelmente
surpreendido com a notícia da publicação de “Tex mais que um herói”, um livro
temático sobre o personagem Tex Willer. Refiro “surpreendido” porque
considero-me muito bem informado sobre o herói e tudo o que se passa nos
bastidores e, até à data, estava completamente ignorante sobre o assunto.
“Agradavelmente”, porque nunca imaginei que fosse possível, e viável, publicar em
Portugal, num país que tem apenas algumas centenas de fãs compradores, e com
pouco mais de uma dezena de edições publicadas, uma obra, sobre este herói Bonelliano, com esta dimensão e qualidade.
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A obra de Mário João Marques| |
Decidido a
esclarecer estas, e muitas outras questões, contactei o autor para uma
entrevista e, sem surpresas, o Mário apresentou uma disponibilidade total e
imediata. Aproveitando-me da recetividade do Mário (um dos fundadores do Blogue
do Tex) e do facto de nunca ter concedido uma entrevista, não me limitei às
perguntas sobre o livro, questionei tudo sobre o Mário, as suas raízes, o que
faz profissionalmente, ligação à BD, etc. e o Mário, tal como no seu livro, não
se conteve, conseguindo ir muito mais além do que esperava.
O resultado? É a
longa, elucidativa e imperdível entrevista que se segue, e que vos convindo a
ler, pois esclarece todas as dúvidas que poderão ter (acredito eu) sobre o
autor e a sua obra.
Sérgio Sousa (SS) - Caro Mário, obrigado pela disponibilidade e parabéns pelo
lançamento do teu livro que desejo, desde já, o maior sucesso. Vamos começar
por ti! Quando se fala em TEX WILLER BLOG todos associam o nome de José Carlos
Francisco e poucos sabem que o Mário Marques é um dos dois fundadores.
Quem é o Mário Marques, também conhecido por Marinho, que até hoje ainda não
concedeu uma entrevista ao próprio blogue? Quem é o homem, o
profissional, onde nasceste, cresceste, enfim, o que quiseres e puderes revelar
sobre ti.
Mário Marques (MM) – Antes
de mais, Sérgio, quero agradecer o teu convite para uma entrevista a propósito
do lançamento do livro que tive o grato prazer de escrever sobre o Tex, assim
como os teus desejos que a obra possa ser um sucesso. Em termos biográficos,
nasci em Marinhais (Ribatejo), mas considero-me um alfacinha, pois vim para
Lisboa aos 4 anos. Fiz os estudos até ao 12º ano, cumpri o serviço militar e,
terminado este, entrei na banca, onde já estou há 35 anos. Posteriormente, já
em regime pós-laboral, decidi estudar Relações Internacionais, porque a Política,
a Diplomacia e a História sempre me interessaram. Acabei por continuar na banca
e nunca segui uma via relacionada com o curso, porque naquela altura dava para
seguir a área diplomática e pouco mais, além de que as oportunidades eram mais
escassas e de difícil acesso. Hoje, o curso de Relações Internacionais oferece
um mais vasto leque de oportunidades e o seu acesso, com a chegada da internet
e o desenvolvimento cada vez maior das novas tecnologias permite um acesso que
antes não havia ou era mais difícil. Dou-te um exemplo: quando estudava
assinava algumas revistas especializadas e lembro-me que aqui só chegava a
Foreign Affairs e pouco mais. As outras eu escrevia uma carta à editora e
enviava um cheque bancário para pagar a assinatura. A internet veio alterar
isto tudo. Desde miúdo sempre gostei
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BD de autoria de Mário Marques |
de desenhos e sobretudo de ler. Posso
mesmo dizer que cheguei a escrever e desenhar duas bandas desenhadas naquelas
sebentas que antigamente se usavam nas escolas. Ainda guardo essas “obras
primas” com muito carinho, mas tenho muita pena de nunca ter tido jeito para o
desenho, que considero uma das artes mais nobres e difíceis. Se tivesse o jeito
do meu irmão, teria tentado dar asas a essa paixão, não sei se em termos de
carreira profissional, porque em Portugal é muito difícil viver da BD, mas pelo
menos nos tempos livros. Depois veio a leitura, de tudo um pouco, mas acho que
tudo começou com as revistas Disney brasileiras e a revista Tintin portuguesa. A
BD acompanhou-me sempre através dos livros e das inúmeras revistas que fui
colecionando, e com o advento da internet tudo se tornou mais fácil em termos
de acesso a compras e artigos. Se o vício já era grande, maior setornou. Também
tive e tenho sorte pelo facto da minha esposa viajar muito e trazer-me regularmente livros de vários países, sobretudo da Europa e Brasil. Relativamente ao Tex
Willer Blogue, sem querer colocar-me em bicos de pés, até porque se hoje ele é
um sucesso isso deve-se ao José Carlos Francisco, a verdade é que eu fui o
fundador. Foi um desafio que lancei ao José Carlos, porque achava que num meio
como a internet onde existem tantos sites e blogues, a criação de um espaço
dedicado ao Tex fazia algum sentido e seria uma forma de união e contacto entre
todos os texianos por esse mundo fora. Numa primeira fase ele achou que não
teria tempo, mas eu insisti e disse-lhe que iria criar o blogue, começando por
publicar alguns posts na fase inicial e entregando-lhe posteriormente o desafio
de o continuar, quanto mais não fosse sempre que ele tivesse tempo. A verdade é
que, de então para cá e devido à paixão do José Carlos pelo Tex, o blogue tornou-se
mesmo numa referência a nível mundial, muitas vezes referido no site da própria
Sergio Bonelli Editore (SBE) e onde muitos autores do Tex acedem diariamente.
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Mário Marques e José Carlos Francisco, os fundadores do Blogue do Tex |
SS - Relativamente a BD, eu sei que tu já descreveste o teu primeiro contacto
com Tex, no teu livro “Tex mais que um herói”, mas gostaria que fosses mais
abrangente aqui: descreve a descoberta da BD, as tuas primeiras leituras, o teu
primeiro Tex, as tuas preferências, e o que lês e colecionas atualmente.
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Uma compra inesquecível! |
MM – Descobri a BD sobretudo com as publicações Disney e a revista portuguesa
do Tintin, como referi. Mas posso contar uma ou outra história que me fez
gostar da BD, porque em tudo há sempre uma história. Há coisas que não guardo
na memória, mas a compra de “O Ceptro de Ottokar” do Tintin nunca esqueci. Uma
tarde, a minha mãe quis comprar um livro para os seus dois filhos e
perguntou-nos qual queríamos. Eu optei pelo álbum do Tintin, enquanto o meu
irmão preferia um Lucky Luke, creio que “A Cidade Fantasma”. Eu e o meu irmão
damo-nos muito bem, somos muito amigos, mas em miúdos chocávamos e
contrariávamo-nos muito, o que acontece muitas vezes entre irmãos nessas idades.
Por isso, a minha mãe percebeu que o meu irmão, que não ligava tanto a BD,
estava a escolher o Lucky Luke apenas para me contrariar e optou por comprar “O
Ceptro de Ottokar” que, ainda hoje e talvez por isso, considero a minha
aventura preferida do Tintin. Outro marco foi o primeiro número que recebi da
revista Tintin, onde se publicava “Pesadelo para Ric Hochet” e lembro-me de ter
adorado aquelas duas pranchas inseridas na revista, tanto que o Ric Hochet
tornou-se, então, num dos meus heróis preferidos. Também a leitura da primeira
parte de “O Mistério da Grande Pirâmide” do Blake e Mortimer foi apaixonante,
sobretudo aquele final em que o Mortimer jura vingar o amigo Blake. Levei anos
até poder ler a conclusão da história. Foi assim que nasceu a minha paixão pelo
franco-belga. Já no liceu, com o dinheiro do lanche que recebia da minha mãe,
comprava semanalmente quase todas as revistas que saiam nas bancas, o Mundo de
Aventuras, o Falcão, O Jornal do Cuto e tantas outras, descobrindo então outros
grandes autores como Alex Raymond, Hal Foster, Milton Caniff ou Al Williamson. Do
Brasil chegavam-nos, para além das revistas da Disney, os comics americanos,
que eu também colecionava, tal como o Tex, que descobri, como eu explico no
livro, numa banca do metropolitano de Lisboa e a partir daí foi uma atração e
paixão que ainda hoje se mantém. No fundo, em termos de BD eu gosto, leio e
coleciono todos os géneros. O Tex permitiu-me conhecer e apaixonar-me pelos
fumetti, colecionando atualmente quase todas as séries publicadas pela SBE. Mas
continuo a comprar um pouco de tudo, álbuns franco-belgas, publicações Disney,
comics americanos, mangas japoneses, BD portuguesa. Esta paixão leva-me também
a comprar diversas monografias e livros temáticos sobre a BD, porque quero
muito saber quem e o que está “atrás do pano”. Entretanto, de alguns anos a
esta parte, gosto também de colecionar estatuetas, o que, para além dos livros,
ocupa-me muito espaço em casa. |
Artigos da coleção de Mário Marques |
SS - No que diz respeito ao personagem Tex Willer, qual o teu desenhador e
argumentista preferidos e quais as tuas histórias favoritas?
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Prancha de Maurizio Dotti |
MM – Ao contrário de muitos “texianos” eu acho que o Tex atualmente é mais
rico em termos gráficos e narrativos. Muitos de nós, os mais “antigos”,
aprendemos a gostar de Tex na chamada “Idade de Ouro” da série, com aquelas
maravilhosas histórias de Gianluigi Bonelli sobretudo das décadas de 1960 e
1970, servidas por um quinteto de desenhadores ímpar, como Galep, Nicolò,
Letteri, Ticci e Fusco. Apesar de gostar de todos, cada um com o seu estilo,
Ticci era o meu favorito, com o seu Tex altivo e imponente e um olhar
penetrante. No entanto, com a chegada de nomes como Villa, Civitelli, Venturi,
Dotti, e tantos outros, o nível de qualidade subiu imenso, até porque hoje os
desenhadores trabalham para um público mais exigente e, por isso, têm de se
documentar bem, o que, por outro lado, se reflete numa maior lentidão do seu
trabalho. Em termos de desenhadores, e como refiro no livro, acho que há um
conjunto de nomes que marcaram a série e deixaram o seu legado: Galep, por ter
sido o criador gráfico e durante décadas o baluarte a solo, a que se junta toda
a iconografia das suas capas; Ticci porque o seu Tex foi, é e certamente
continuará a ser o principal inspirador e modelo, mas também porque trouxe um
estilo completamente novo na época para a série; Civitelli pela meticulosidade
do seu trabalho, pela sua contínua inovação gráfica que trouxe novas técnicas;
e finalmente Villa, pela expressividade e pelo realismo cinematográfico do seu
desenho, que conseguiu emprestar à própria figura do herói, assim como pela
qualidade das suas capas. Refiro estes nomes pelo legado que, quanto a mim,
deixaram em Tex, mas há nomes que também considero marcantes pelas suas
aptidões, como por exemplo Andrea Venturi, os irmãos Cestaro, Alessandro Bocci,
Maurizio Dotti, Stefano Biglia, e tantos outros. No que se refere aos
argumentistas, Boselli é o meu preferido, porque consegue reunir as melhores
características de Gianluigi Bonelli com a modernidade dos novos tempos. Existe
sempre a eterna discussão de qual o melhor modelo de Tex, porque no fundo
muitos leitores gostariam de continuar a ver no Tex atual o Tex de Gianluigi
Bonelli. Mas como esse Tex nunca mais, não porque Boneli foi o melhor de
sempre, mas simplesmente porque ele foi o criador, sentia Tex, respirava Tex,
identificava-se com Tex, deu-lhe todas as características que granjearam tanta
fama e sucesso ao ranger. No entanto, se hoje um autor pretendesse escrever da
mesma forma, creio que não seria a mesma coisa por dois motivos: primeiro
porque os tempos mudaram e com isso mudaram os leitores, mudou a BD, mudou o
tipo de narração das histórias. Depois, porque cada autor tem as suas próprias
características, faz parte da natureza humana, o que acabaria por se refletir
no seu trabalho. Veja-se, por exemplo, o caso de Nizzi que, quando chamado a
escrever Tex, tentou ser o mais fiel possível de Bonelli, mas a verdade é que a
sua natureza menos impulsiva e mais recatada acabou por se refletir mais tarde nas
histórias de Tex. Em todos os argumentistas vejo qualidades, mas Boselli
construiu um Tex épico e em cujas histórias existem sempre inúmeros
acontecimentos que se interligam de forma eficaz. É sobretudo o autor mais
documentado e completo. Em termos de histórias retenho algumas por autor:
“Flechas Pretas Assassinas”, “A Noite dos Assassinos”, “O Filho de Mefisto”, “A
Cela da Morte”, todas de Gianluigi Bonelli; “El Muerto” e “Caçada Humana” de
Guido Nolitta; “Fuga de Anderville”, “Intriga em Santa Fé”, “O Navio do
Deserto” e “O Homem sem Passado” de Nizzi; “O Passado de Kit Carson”, “Os
Invencíveis”, “Os 7 Assassinos”, “Colorado Belle”, “Os Pioneiros”, “A Mão do
Morto” ou “Indian Carnival” de Boselli; e ainda “A Honra de um Guerreiro” de
Ruju. E não… não incluo aqui clássicos como “Patagónia” ou “Oklahoma”.
SS - Nos primeiros tempos do blogue era frequente encontrar curtas análises
tuas a aventuras de Tex. Na revista do Clube do Tex encontra-se, em todas as
edições, longos artigos de tua autoria, dedicados a uma aventura, desenhador ou
escritor. De repente (para os frequentadores do blogue) publicas um livro
com centenas de páginas. Como é que foi passar de escritor de textos para
escritor de um livro? O que é que mudou na tua forma de escrever e principais
dificuldades.
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As críticas do Marinho |
MM – Essas análises no blogue também têm a sua história. Eu tinha o hábito
de, sempre que lia um livro, escrevia um pequeno texto, algumas linhas de
apreciação e guardava, às vezes no próprio livro. Quando conheci o José Carlos
Francisco enviei-lhe uma apreciação minha do Tex Gigante “O Grande Roubo”,
apenas para sua leitura. Para minha surpresa, ele ficou deveras agradado e
sugeriu-me, desde logo, que eu escrevesse sempre que lesse alguma aventura do
Tex. Assim fiz e enviava sempre para ele. Repara, nessa altura ainda não havia
o blogue, isto era só entre nós, tanto que quando o blogue foi criado, o José
Carlos aproveitou para publicar esses textos. Um dos motivos para a criação da
revista do Clube talvez até tenha sido essa minha paixão pela escrita sobre o
universo de Tex. Mas as palavras do José Carlos sobre os meus textos
motivaram-me com toda a certeza a escrever o livro, porque foi nessa altura que
eu comecei a pensar e trabalhar nele, no intuito de o terminar quando o Tex
festejasse 70 anos de existência. Por variados motivos, sobretudo falta de
tempo e a minha permanente auto insatisfação, não consegui terminar o livro
nessa altura, apesar de, então, já ter uma editora interessada na sua
publicação. Por isso, creio que as principais dificuldades residiram nestes
dois factos, falta de tempo, porque precisei de ler e reler as histórias e
documentar-me imenso, assim como querer fazer sempre fazer melhor, apresentar
um produto onde o leitor pudesse ver rigor e o mínimo de qualidade.
SS - José Rodrigues dos Santos, numa entrevista referiu que, sempre que estava
a escrever um livro, escrevia sempre algumas páginas, à noite, após um dia de
trabalho. E tu? Como é que escreveste o teu livro? Como é que surgiu a ideia,
quanto tempo levaste a escrevê-lo, quantas páginas em média por dia, como é que
foi o processo de revisão, pessoas influentes etc.
MM – Bom, colocares-me uma questão servindo de base um grande nome como o
José Rodrigues dos Santos já me deixa orgulhoso. Goste-se ou não, trata-se do
escritor que mais vende em Portugal. Eu considero-me bastante organizado e
metódico, mas sempre preferi fazer aquilo que exige mais concentração mental de
cabeça limpa, o que acontece logo pela manhã. Por isso, o livro foi quase
sempre escrito da parte da manhã, tal como o trabalho de documentação. Sempre
que podia, por exemplo aos fins de semana, nas férias ou em feriados, sem um
ritmo pré-estabelecido de trabalho. Mas houve um grande avanço durante uns
meses em que, infelizmente, tive de ficar de baixa em casa devido ao um enfarte
que sofri em 2017. Levanto-me sempre muito cedo e esta minha maneira de ser
leva-me a “apostar todas as fichas” logo pela manhã. Sempre fui assim. Por
exemplo, quando tinha de preparar uma prova na faculdade, estudava quase desde
o nascer do sol até haver luz natural, mas também na minha atividade
profissional, pois entro sempre muito cedo e tento fazer logo pela manhã as
tarefas que me exigem mais esforço mental. À noite só tenho cabeça para ver uma
série ou um filme ou simplesmente para uma leitura mais leve. O facto de não me
dedicar de forma contínua conduziu a
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Paginação de João Marin |
cerca de 13 ou 14 anos de trabalho. Mesmo
depois de terminado, ainda levei mais uns largos meses até decidir colocar um
ponto final, porque do meu ponto de vista havia sempre algo mais a acrescentar
e a rever. O ritmo de publicações e de acontecimentos na série é tão grande e
constante que eu nunca mais fechava o livro, sempre no intuito de o manter o
mais atualizado possível. E o facto de o ter conseguido publicar devo-o a um
conjunto de pessoas que tive oportunidade de agradecer no final do livro, mas
que destacaria aqui algumas: o José Carlos pela motivação, por alguns conselhos
e muitas revisões, assim como em alguns contactos junto da SBE; o João Marin
que se prontificou desde o início a assumir o desafio da edição gráfica, e pelo
facto de, devido aos seus conhecimentos de Tex, ter escolhido as imagens sem
que eu, praticamente, tivesse de intervir; finalmente, também o José de
Freitas, que tratou de tudo a nível da editora, dos apoios culturais, da
gráfica, enfim da burocracia. Mas também gostava de agradecer aqui à SBE na
pessoa de Davide Bonelli que, apesar de não ter autorizado tudo aquilo que eu
gostaria, como por exemplo publicar o desenho exclusivo do Stefano Biglia e o
logotipo do Tex na capa, autorizou-me a ir mais além do que aquilo que é
habitual para um livro que não é publicado pela SBE.
SS – Quais os objetivos que pretendes atingir com a publicação do livro?
MM – Muito sinceramente, a publicação do livro já me enche de um orgulho
imenso. A célebre frase da sabedoria popular que sustenta que para um homem ser
feliz e sentir-se completo na sua vida, deve ter filhos, plantar uma árvore e
escrever um livro, para mim faz todo o sentido, porque eu sou daqueles que acho
que estamos cá também para deixar algo, um legado. Só me faltava mesmo escrever
um livro, por isso considero-me um homem feliz. Claro que há sempre um objetivo
mais economicista que se encontra ligado às vendas, mas se eu não perder
dinheiro, já me chega. Publicar o livro e saber que, pelo menos para já, ele é
do agrado de todos aqueles que o leram, deixa-me mesmo feliz.
SS - O livro apresenta uma qualidade inquestionável, mas isso elevou,
certamente, o preço (40€). Além da qualidade também se percebe facilmente a
opção de não sobrecarregar as páginas de texto, o que torna mais atrativo e
fluente a leitura, mas "esticou" numero de páginas, calculo eu, em
cerca de 15%. Porquê esta opção pela qualidade em detrimento do preço? Foram
avaliadas outras opções? Qual o público alvo que pretendes atingir?
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Ilustrações inéditas associadas aos capítulos |
MM – Mais uma vez, agradeço a tua opinião sobre o livro. Inicialmente tinha
pensado num livro com menos páginas, no máximo 300 e a cores. Mas uma coisa é
tu teres o texto escrito sem imagens e outra é quando começas a fazer a edição
gráfica do livro e a inserir imagens. De repente, vês tudo a aumentar e
facilmente chegas a mais 100/150 páginas. Por exemplo, o capítulo dedicado aos
autores sabia que seria grande, mas quando eu pedi para colocar uma foto de
cada autor e um desenho do Tex de cada desenhador, o capítulo tornou-se
bastante grande, o maior do livro. Perdemos a noção, ou pelo menos eu perdi a
noção. Depois, com o encarecimento do papel e da impressão tive de optar entre
publicar a cores e ficar muito mais caro, publicar alguns capítulos a cores ou
o livro todo a preto e branco. Pensei que se optasse por publicar alguns
capítulos a cores teria de escolher quais seriam aqueles que o justificariam e,
muito sinceramente, não consegui fazer essa escolha, optar por um em detrimento
de outro. Optei por fazer tudo a preto e branco, até porque essa é a essência
da série, mas fiz questão que o formato fosse igual aos cartonados do Tex que A
Seita publica, que o livro fosse em capa dura e que tanto o tipo de letra como
o espaçamento não dificultassem a leitura. Num livro tão específico e denso como
este, a leitura deve ser fluida, até para chegar mais facilmente a outro leitor
que não o de Tex. Tive esse aspeto em especial atenção, tanto que a fase da
escolha do tipo de letra e do espaçamento ainda demorou algum tempo e levou a
inúmeras experiências. Também dei especial atenção ao grafismo, queria evitar
grandes blocos de texto, o que levou a que em todas as páginas exista pelo
menos uma imagem. E por fim, pedi ao João Marin para emagrecer o corpo do texto
e deixar algum espaço lateral para as legendas em bold. Esta fase de constantes
experiências foi para mim muito gratificante, porque foi um todo um “mundo”
novo que se abriu aos meus olhos. O mínimo detalhe altera sobremaneira uma página.
Sei que podia ter saído melhor, mas apesar de ter consumido tempo e… paciência,
foi algo onde também tive intervenção.
SS - O livro é uma verdadeira enciclopédia do universo texiano, num único
volume, (expressão utilizada por Mauro Boselli, com a qual eu concordo
plenamente), os nove capítulos “não deixam nada fora”, no entanto, considerando
o preço, a aversão à leitura dos mais jovens que preferem os posts
curtos, o pequeno universo dos colecionadores texianos e a disponibilidade da
informação na internet, como é que esperas cativar os colecionadores e
apreciadores de BD a compra-lo? Salienta na tua opinião os pontos fortes do
livro.
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O sumário |
MM – Permite-me
alguma falta de modéstia quando estou de acordo em “catalogar” o livro como uma
“enciclopédia”, porque foi assim que o idealizei. Há muitas obras dedicadas ao
Tex, umas focando determinados aspetos, outras centrando-se noutros aspetos,
mas a verdade é que há poucas que abordam todos os aspetos. Eu nunca quis
escrever algo muito elaborado, algum ensaio ou alguma tese sobre o herói. Quis
apenas escrever sobre o herói, sobre a série, sobre a editora, sobre os
autores, no fundo condensar num só livro tudo o que dissesse respeito ao Tex, a
sua história e evolução. Pensei nos temas que pretendia abordar, dividi-os em
capítulos, e foi a partir daí que comecei a escrever. Por exemplo, quando relia
uma história, sempre que encontrava algo que se relacionasse com algum dos
capítulos do livro eu anotava logo. E foi assim que as coisas começaram e foram
ganhando a sua forma. Há sempre coisas que ficam de fora e há sempre pontos que
podiam ter sido mais desenvolvidos, outros nem tanto. Enquanto escrevia o livro
pensava cativar os leitores com uma obra para ser lida, mas que,
posteriormente, pudesse servir de permanente consulta. Um livro que pudesse ser
lido de uma assentada pelos mais corajosos e apaixonados, mas sobretudo para se
ir lendo e que pudesse apresentar os múltiplos aspetos do herói e da série. Por
isso, aquilo que eu considero ser o ponto forte do livro é esta amplitude,
falar de tudo um pouco e não estar centrado em determinado ponto.
SS – O livro foi cofinanciado pela União Europeia e pelos fundos, Compete
2020 e Portugal 2020. Este cofinanciamento foi determinante para a publicação
do livro ou a publicação seria uma realidade sem estas verbas? Como é que foi
todo o processo de candidatura aos fundos, quais os requisitos que a obra teve
que cumprir e quem é que que foi o responsável pela candidatura?
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A contracapa |
MM – O Garantir Cultura foi um programa que apoiou projetos culturais e que
incluía apoios à edição. De modo geral, os requisitos eram "simples",
no sentido em que o programa apoiou todo o género de projetos até 95% do seu
valor e até ao valor máximo de 50,000€. A Seita apresentou um projeto global de
75,000€ e canalizámos os 50,000€ recebidos do Estado para remunerar os criadores,
autores, designers, tradutores, aqueles que trabalham normalmente connosco, com
o objetivo de editar livros que, de outra forma, seria quase impossível, dado
os elevados custos ou pelo género que abordavam, leia-se trabalhos “sobre a BD”.
A candidatura foi apresentada pela editora de forma global, mas posteriormente
cada um dos sócios responsáveis pelos seus projetos assumiu o trabalho de
produção e supervisão dos seus livros. Todo este processo foi algo burocrático,
dado que as candidaturas eram apreciadas à medida que chegavam, sendo aprovadas
ou rejeitadas, e os fundos eram atribuídos até ao montante existente no
orçamento do Garantir Cultura, ou seja, a dado momento o dinheiro acabava e já
não se aprovavam mais projetos. Depois, o facto de o estado ter pago uma
primeira tranche e não o valor global, transformou todo o processo num esforço
grande de tesouraria, porque a editora acabou por ter de financiar a segunda
metade que cabia ao estado, e ainda os 25,000€ adicionais do projeto. Aliás,
esta última verba, que seria sempre da nossa responsabilidade, acabou por aumentar
exponencialmente durante o ano e meio que o projeto levou a concluir, devido à
crise do papel e dos custos energéticos. Apesar de tudo, conseguimos produzir
todos os livros dentro do prazo e conduzimos o projeto a bom porto. No que se
refere propriamente ao meu livro, estou certo que ele seria sempre publicado,
mas a verdade é que o Garantir Cultura foi determinante, quer nas verbas
concedidas, quer no timing da publicação. Fui trabalhando o livro,
atualizando-o continuamente, mas sem ter uma data precisa de publicação, por
isso o cofinanciamento foi o fator determinante no que se refere ao timing de
publicação, porque obrigou-me a respeitar os prazos do Programa. E, claro que
também foi importante nas verbas concedidas, uma vez que, apesar de pretender
avançar com a publicação do livro, a verdade é que seria certamente mais tarde
e com maior investimento financeiro da minha parte.
A publicação de um livro acarreta riscos e é necessário encontrar uma
editora que acredite no projeto. Como é que foi no teu caso? Tiveste que bater
a muitas portas? O que é que podes revelar sobre exigências tiveste de
satisfazer, alterações tiveste de efetuar, volume de vendas exigido para que o
lançamento seja um sucesso, etc.
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Rui Brito (Polvo) e Mário Marques |
MM - Como te disse
acima, quando comecei a escrever o livro tive a sorte e a honra de um editor
ter mostrado logo interesse na sua publicação na pessoa do Rui Brito da Polvo.
Chegámos a reunir várias vezes, quase sempre na mesa de um restaurante,
conversando sobre como deveria ser o livro, tipo de papel, número de páginas e
outros aspetos. Estava tudo encarrilado para que o livro viesse a ser editado
pela Polvo, mas a verdade é que a vida dá muitas voltas e eu não imaginava que
um dia me tornasse, também eu, editor de BD e de Tex em Portugal. Naturalmente
que esse facto veio mudar tudo e foi “com o coração nas mãos” que informei o
Rui que, apesar da confiança demonstrada em mim e no livro, eu tinha outros
planos. Custou-me, reconheço, porque ainda sou daqueles que considera que a
palavra substitui a assinatura de um contrato. O facto de ter publicado o livro
na minha editora talvez me tenha dado outro espaço de manobra, outra liberdade.
Não sei como seria com o Rui, com quem mantenho uma excelente relação de amizade,
porque não chegámos à fase final da tomada de determinadas decisões. Creio que chegámos
a acertar o tipo de papel e o número de páginas, bem menor. Seria um livro
diferente, melhor ou pior não sei, apenas diferente. Na Seita, sendo o único
editor do livro, dentro dos limites impostos pela SBE tive carta branca para o produzir
como gostaria, apesar de algumas opiniões divergentes de um ou outro cooperante
da editora em alguns aspetos. Por exemplo, alguns não gostaram da capa e do
tipo de letra da mesma. O título não foi do agrado de outros. Inicialmente
pensei num título que jogasse com o nome do herói, por exemplo “InTexamente”,
como acontece em alguns livros italianos. Também pensei num título que jogasse
com as palavras “justiça” e “lei, tão caras a Tex. Mas acabou por ficar “Mais
que um Herói”, porque no fundo é isso que o Tex representa para mim e para
gerações e gerações de leitores. Se Tex continua a vender desde 1948 é porque
ele é mais que um herói, representa um conjunto de valores que todos nós
devíamos defender e praticar. Este título resume a contento o meu livro e por
isso defendi que assim ficasse. Por fim, a questão de escrever com ou sem o
Acordo Ortográfico (AO). Eu não sou fanático em nada, nem sequer dono da
verdade do que quer que seja, apenas tenho as minhas opiniões, por isso custa-me
ver tanta celeuma em redor do AO e confesso que, por vezes, incomoda-me um
pouco ver alguns dizerem que só compram um livro se for escrito sem o
“famigerado” AO ou outros dizerem que nunca publicarão nenhum livro escrito com
o AO. A nível profissional tenho de utilizar o AO, por isso não me custa nada
escrever dessa forma, assim como o faço da outra forma se for necessário. Por
exemplo, já que cada um escreve conforme prefere, na revista do Clube Tex
existe liberdade para que cada um escreva com ou sem o AO, não se impõe nada, o
principal é que seja em português, como costumo dizer na brincadeira. Em termos
pessoais, e não concordando com algumas regras do AO, mesmo assim prefiro escrever
desta forma, por várias razões, mas sobretudo porque acho que não faz grande
sentido escrevermos palavras com as consoantes mudas. Acho que as palavras
devem estar o mais próximo da forma como se leem. Não vejo que exista alguma
ameaça com este AO, temos todos vivido bem pelo facto de, por exemplo, as
escolas portuguesas ensinarem conforme o AO, as leis serem publicadas conforme
o AO, a maioria dos jornais e dos livros publicarem segundo o AO ou as legendas
televisivas serem com o AO. Não vejo que aqueles que são contra deixem de ler
livros e jornais, deixem de ver televisão, não cumpram as leis ou não permitam
que os seus filhos frequentem a escola. Mas esta é apenas a minha opinião, com
toda a discussão que ela possa provocar. Daí que eu tenha optado por escrever o
livro com o novo AO, o que representa uma estreia na editora.
SS - Relativamente à tiragem, quantos exemplares teve esta edição? Existe a
possibilidade de uma 2ª edição?
MM – O que te
posso dizer é que, em função do formato, do número de páginas, do tipo de papel
e por ser em capa dura, tentámos encontrar um equilíbrio muito criterioso entre
a tiragem e o preço do livro. Ou seja, tentámos obter a justa medida para não
termos de vender o livro com um preço mais elevado. Já agora, aproveito para
sublinhar que, dadas as suas características, não acho o livro caro, estando o
seu preço ao nível daquilo que é praticado noutros países, por exemplo em
Itália, onde as tiragens são muito maiores. Se me disseres que com 40 euros
muitos leitores preferem comprar dois ou três livros de BD, quem sou eu para o
refutar, mas isso não significa que o produto em si seja caro. Sobre a possibilidade
de uma 2ª edição, naturalmente que, mais que uma possibilidade, gostaria que
ela se tornasse numa realidade, sabendo de antemão o quanto difícil isso é.
SS - E quanto às vendas? estão de acordo com as expetativas?
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Anúncio da venda do livro no Brasil |
MM – Desde que me
tornei editor que tenho alguma, para não dizer muita dificuldade em formar
expetativas de vendas. Para ser sincero, em Portugal há apenas três ou quatro
produtos de BD que vendem bem de antemão, mesmo levando em linha de conta as
limitações do nosso mercado. Quase todos os livros vendem inicialmente um certo
número de exemplares e depois vão-se vendendo, ou seja, há livros que até acabam
por vender bem, mas quase nunca depressa. Este livro, por ser especificamente
sobre uma personagem de BD, torna-se um pouco mais difícil, porque o mercado
português de BD não está muito voltado para este tipo de produto. A Seita, de
uma assentada, lançou alguns livros sobre temáticas ligadas à BD (“Conversas de
Banda Desenhada”, “25 de abril e a Banda Desenhada” e o “Variantes”), o que
considero ser uma pedrada no charco e uma aposta concreta num segmento que,
pelo menos para mim enquanto leitor de BD, sempre me atraiu. Vamos ver como se
comporta o mercado e qual a aceitação deste tipo de produto. O meu livro vai certamente
levar o seu tempo a vender, mas posso dizer-te que, tendo saído em outubro,
neste final de ano as receitas já ultrapassaram os custos, se tiver em
consideração as verbas do financiamento, para o que contribuíram vendas não só
em Portugal, mas também no Brasil (graças ao Dorival e à Mythos com quem
fizemos um acordo e a quem muito agradeço) e Itália. Posso também informar que
vendemos alguns livros para França e até para a Alemanha, para um apaixonado
que me informou ir ler o livro com um dicionário ao lado.
SS - A
escolha da capa intriga-me! O leque de desenhadores de Tex é vastíssimo e
inclui alguns dos desenhadores mais credenciados em Itália. Porquê apresentar
uma capa em que se sobrepõe uma "sombra" do herói sobre uma
fotografia?
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MM e a ilustração de Stefano Biglia originalmente pensada para a capa |
MM – A questão da capa foi algo que me consumiu
verdadeiramente tempo e paciência. Vamos à história, lá está, porque há sempre
uma história para contar. Quando o Stefano Biglia esteve em Portugal, eu tive o
grato prazer de o hospedar em minha casa e passear uns dias com ele e a esposa.
Conversámos imenso e eu apresentei-lhe o meu projeto do livro, como tenho feito
com todos os desenhadores que nos visitam. Perguntei-lhe se ele poderia
desenhar a capa, e ele aceitou no imediato, o que para mim foi uma honra,
acabando por daqui resultar o magnífico desenho que está na contracapa do
livro. Mas porque não na capa? Como já referi antes, inicialmente tinha em
mente publicar o livro quando da comemoração dos 70 anos do Tex, em 2018, tendo
nessa altura encetado os primeiros contactos com a SBE, solicitando autorização
para publicar o desenho do Biglia na capa do livro, naturalmente pagando os
respetivos direitos de autor, porque queria fazer tudo em estrita obediência às
diretrizes da editora. Contactei a secretária na altura do Davide Bonelli, a
senhora Ornella Castellini, assim como alguns autores que mais de perto
privavam com a editora, como o Moreno Burattini, por exemplo. O assunto não
sofreu grande evolução e eu próprio deixei-o em “banho-maria”, até porque tinha
decidido adiar a publicação do livro. Este ano, dada a decisão de finalmente
avançar com a publicação, tive de adotar outra estratégia e pedir ajuda ao José
Carlos, no sentido de eu poder contactar diretamente o Davide Bonelli, o que se
veio a concretizar. Fiz uma breve apresentação da obra, enviei alguns trechos, expliquei
que apenas pretendia homenagear Tex e que gostaria de fazer tudo em consonância
com a editora, no fundo saber o que podia e não podia publicar em termos de
material da SBE. O Davide respondeu-me imediatamente, informando-me que o
material que eu tinha enviado tinha recolhido o agrado da Direção da SBE,
autorizando-me a publicar o que quisesse no interior do livro, desde que
fazendo alusão aos respetivos direitos da editora, assim como o desenho do
Biglia na contracapa, o que já era algo que ia além da política habitual da
editora. Na capa nada de desenhos de Tex nem o respetivo logotipo. Pensei,
então fazer uma capa simples, toda em azul escuro e apenas com o título do
livro. Mas achei pobre, abandonando a ideia. Pensei então em colocar a silhueta
de um cowboy num cenário western, sobretudo que os mais conhecedores vissem que
era o Tex. Apresentei essa capa ao Davide Bonelli que me informou não ter sido
aceite pela Direção, mas uns dias depois voltou a contactar-me e informou-me
que tinha feito valer a sua opinião na editora e que poderia então avançar com
a capa, que acabou por ser a definitiva. Abro um parêntesis para referir que a
silhueta tinha sido projetada em cor preta e não acinzentada, assim como em
relevo, mas essa informação, por lapso, não foi passada à gráfica. Não foi a
capa desenhada pelo Stefano Biglia, que eu queria e tanto desejava, mas mesmo
assim conseguiu-se mais do que a editora normalmente autoriza e, ponto importante,
tudo foi feito de forma legal e em estrito cumprimento com as diretrizes da
editora. Nem aceitaria que fosse de outra forma. |
Mário Marques e a sua obra |
SS -
Quem constrói a sua própria habitação, ao concluir, é frequente dizer que nesse
momento está pronto a iniciar. E tu? Agora que publicaste o livro estás pronto
a começar? Com os feedbacks que já
recebeste, se fosse hoje o que é que farias diferente?
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Duas páginas ilustrativas da paginação |
MM – Tenho
recebido feedbacks de quase todos os leitores a quem vendi o livro diretamente
e posso dizer que me sinto imensamente agradado, não só com os elogios
recebidos, mas também pelo simples facto de terem disponibilizado um pouco do
seu tempo para me darem conta disso. Também recebi com um enorme orgulho os
elogios publicados pelo Mauro Boselli e o Moreno Burattini nas redes sociais,
assim como o feedback pessoal enviado pelo Davide Bonelli. Agradou-me e
sensibilizou-me particularmente a apreciação do Hugo Pinto no “Vinheta 2020”,
um blogue que considero de referência no panorama da BD em Portugal, quando
escreveu entre outras coisas que o livro é um dos lançamentos mais
impressionantes do ano, que é um autêntico tour de force, “aplausos perante um
trabalho deste gabarito não serão suficientes” e sobretudo esta deliciosa
afirmação: “se a minha vida (do Hugo) fosse interessante e relevante como a de Tex, gostaria que Mário João Marques
fosse o meu biógrafo”. Um bem-haja ao Hugo! Tudo isto poderia levar-me a pensar
que hoje não faria nada de diferente, mas certamente que sim porque, como tenho
vindo a sublinhar, estou permanentemente insatisfeito. Talvez desenvolvesse
mais um ou outro ponto, por exemplo a questão dos índios nas aventuras de Tex, talvez
resumisse outros pontos. Enfim, há sempre algo a acrescentar, alterar ou
cortar.
SS -
Depois deste livro quais os próximos projetos para o Mário escritor?
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Nº 1 da Revista do Clube Tex Portugal |
MM – Continuar a
escrever na revista do Clube Tex Portugal, pelo menos. Outras coisas o futuro o
dirá. Eu não me considero um escritor pelo facto de ter escrito um livro,
apenas alguém que gosta de transmitir e fazer chegar aquilo que pensa. Nem
sempre escrevi sobre o Tex, porque cheguei a participar num site do Nuno
Pereira de Sousa sobre BD e nessa altura escrevia sobre o franco-belga, também
escrevi numa ou outra publicação, enfim, não me considero escritor, vou sim
escrevendo. Projetos eu tenho sempre alguns, há sempre qualquer coisa em mente,
a maior parte das vezes abandono por manifesta incapacidade em levar por
diante. Seja como for, depois de ter pensado num livro, tê-lo organizado, escrito
por inteiro, ter participado ativamente em quase toda a sua preparação,
qualquer outra coisa que venha a fazer terá se ser também algo que seja essencialmente
meu. Quer com isto dizer que terei sempre preferência por um produto genuinamente
meu. Guardo para mim o projeto de um livro que, por exemplo, compile os artigos
que tenho escrito para a revista do Clube Tex Portugal. Gostava também de
escrever um livro sobre as melhores histórias do Tex que, aproveito para referir,
tinha idealizado para ser o capítulo final deste meu livro, mas que acabei por
retirar porque acho que merece outro desenvolvimento. Mas o que gostava
verdadeiramente era saber escrever BD, argumentos de vários géneros e temáticas
onde pudesse deixar a minha visão e sensibilidade sobre o nosso mundo, as
questões atuais, os problemas que nos afligem, a nossa sociedade, as nossas
prioridades, mas também aventuras puras. Sinceramente, é algo que acho extremamente
difícil e para o qual não fui realmente prendado, porque uma coisa é tu
escreveres uma história, outra bem diferente é tornares essa história numa BD.
SS - Mais uma vez agradeço a entrevista, desejo-te todo o sucesso, quer a
nível pessoal, familiar, profissional e também neste grandioso empreendimento,
e, para concluir, pergunto qual a questão que faltou nesta entrevista, ou que
gostarias que tivesse colocado, e a respetiva resposta. Obrigado.
MM – Podias ter
colocado a questão se eu gostava de vender os direitos do meu livro para outros
mercados, e a resposta naturalmente seria que sim. Trata-se de um sonho. Afinal,
como alguém disse, o que seria da vida sem os sonhos?