Província de Pavia, município de
Stradella, Itália; entre 31 de Maio e 8 de Junho do corrente ano[1], inserido num
evento realizado pela Oltrecomics, ocorreu uma exposição de sessenta e seis
pranchas, enviadas pela Sérgio Bonelli editore. Esta exposição também contou
com a presença de dois desenhadores do personagem de maior sucesso da BD
italiana. Um já consagrado, Fábio Civitelli, o segundo à procura de se afirmar
entre os desenhadores da série, Rossano Rossi.
Setembro
de 1948, surgiu nas bancas italianas mais um personagem de BD, mais um entre os
inúmeros que surgiam naquela época do pós guerra. O seu nome, Tex Killer,
rapidamente alterado para Tex Willer devido ao significado da palavra Killer:
Assassino.
Estes dois eventos encontram-se separados por seis décadas, durante uma vida o personagem cresceu, ultrapassou as expectativas dos criadores e tornou-se o maior herói da Bd italiana, também chamada de “fumetti”. Esta iniciativa realizada em Stradella, foi apenas a primeira englobada nos festejos dos 60 anos do personagem, entretanto muitos outros ocorreram, quer em Itália quer no Brasil. A salientar a homenagem efectuada pelo jornal
No Brasil, país que pode ser considerado a 2ª pátria do personagem, têm sido inúmeras as manifestações de apreço pelos fãs: Santa Maria/RS, a 27 e 28 de Setembro último, foi apenas mais uma.
Quais
as razões do sucesso? Como é que foi possível manter mensalmente uma revista
durante 60 anos?
“A riqueza do enredo, as revistas
são muito bem escritas e pensadas. Além do desenho claro, que é soberbo” Estas
são as razões apontadas por Octávio Gordo, medidor orçamentista de 32 anos,
residente em Guimarães.
Também Carlos Gonçalves, de 67
anos de idade, director comercial reformado reforça a ideia: “ O que contam são
os argumentos, nos quais os italianos dão cartas, pela grande escola de
argumentistas que sempre tiveram…embora os desenhadores tenham sempre uma
palavra a dizer, muitos deles, têm sido muito bons a ocuparem-se dessa tarefa”.
Já Carlos Moreira de 43 anos, responsável de armazém, descortina mais uma
razão: “…trabalho desenvolvido pelas editoras tanto na Itália como no Brasil,
assim como o excelente trabalho de divulgação em Portugal efectuado pelo José
Carlos”.
Parece ser consensual que os
argumentos bem elaborados e a grande diversidade de desenhadores, muito
contribuíram para o sucesso da série. Além das razões apontadas, posso
acrescentar mais uma: Sérgio Bonelli! Desde o seu contributo como escritor:
Iniciou-se com o Tex italiano nº 183 e a história intitulada: Caçada humana[2], até aos dias de hoje no
papel de editor. Como escritor escreveu algumas das melhores histórias: Missão
em Great Falls
(Tex 131-134)[3]; O Solitário do Oeste (Tex
163-165)[4] ou El muerto(Tex 112)
[3], entre outras. Como
editor sempre demonstrou especial carinho pelo personagem, manteve-o fiel à
fórmula de seu pai e sempre destacou os melhores argumentistas e desenhadores
para a série. Os outros personagens têm-se visto “espoliados” de alguns dos
seus melhores artistas.
Com
o objectivo de premiar o público fiel, foi lançado uma edição colorida, quer em
Itália quer no Brasil e a Mythos conseguiu a proeza de publicá-la, com apenas
um mês de atraso, relativamente à sua publicação na “velha bota”.
Porquê publicar a mesma história
no Brasil? Apesar de proporcionar aos coleccionadores brasileiros as ultimas
novidades que estão a sair em Itália, será que foi a melhor opção para celebrar
o evento?
“…divulgar mais o filme de Tex em
DVD…” Quem o afirma é Emanuel Neto, professor de 27 anos, residente em Portalegre. Já José
Carlos Francisco, metalúrgico de 40 anos, residente na Anadia, “…uma edição
especial de Tex…formato gigante, papel de qualidade, capa cartonada e com conteúdos
diferentes das histórias, mas cheio de artigos…). A mesma opinião partilha G.
G. Carsan, fotógrafo de 43 anos, residente em Jampa, Brasil, “…o ideal seria
lançar também uma aventura em tamanho gigante, cartonada, colorida e um livro
sobre o personagem.”
Apesar
de concordar plenamente com a ideia do lançamento de um livro, de formato
maior, capa cartonada e colorido, semelhante aos publicados pela editora
Mondadori em Itália, a opção da Mythos é perfeitamente compreensível.
No Brasil são publicadas actualmente
diversas colecções de Tex. Entre as edições mensais, o Almanaque e o Gigante,
ainda existem as edições Histórica, Anual, Ouro e os Grandes Clássicos.
Diversas colecções que publicam em simultâneo as diferentes fases do
personagem. Perante este cenário, não se avizinhava tarefa fácil lançar uma
edição especial, afinal, não basta colocar a palavra na capa para a tornar. A
editora, ou por não possuir os meios técnicos necessários ou simplesmente por
não considerar economicamente viável o lançamento do livro, não colocou ou
rejeitou essa hipótese. Se excluirmos o livro nos moldes referidos, parece-me
que uma edição colorida, em papel de melhor qualidade, com a inclusão de uma
história inédita e acompanhada por matérias, foi sem dúvida uma boa opção, afinal,
em todas as colecções publicadas não existe nenhuma que seja colorida. A
lamentar apenas não se ter optado pelo formato italiano.
Em Agosto de
1978 surgiu nas bancas brasileiras mais uma revista “made in” Itália. A editora
responsável, a mesma que publicava Tex na altura, a editora Vecchi.
Passados 30 anos, mudanças de
editoras e ausência nas bancas durante alguns períodos, Zagor completou 3
décadas de existência no Brasil, mais uma data digna de comemoração e mais uma
edição especial alusiva à efeméride.
Estas edições
especiais normalmente vendem muito mais que as ditas normais. Por ser uma única
edição. Por ser uma história seleccionada e fechada. Por virem recheadas de
artigos ou entrevistas ou suplementos que enriquecem bastante a edição. Porque
leitores de outras publicações aproveitam estas edições para conhecerem os
personagens. Enfim, pelas mais variadas razões.
Os
responsáveis pelas publicações devem encarar estas oportunidades para divulgar
e promover antecipadamente as edições, de forma a aumentar o número de
coleccionadores e consequentemente as vendas.
Se para Tex
era extremamente difícil escolher os moldes da edição especial, devido à
existência das diversas colecções, o mesmo já não se pode afirmar para Zagor
que apenas possui duas edições mensais e uma especial. A Mythos desperdiçou uma
óptima oportunidade que esta edição comemorativa lhe proporcionou: Testar o
lançamento de uma nova colecção de Zagor. Os fãs anseiam por uma nova colecção,
seja o Anual, o Histórico ou o Colecção. Ao lançar a nova colecção,
“disfarçada” de edição especial, testava o mercado, reduzia os riscos que
acarreta o lançamento de uma nova colecção e posteriormente decidia se
continuava a publicação.
Basta aceder ao fórum do Portal
Tex Brasil, para verificar a onda de revolta causada pelo anúncio da
substituição da história anteriormente anunciada [5].
A edição Especial de Zagor 30
anos foi decepcionante para os fãs, não pela história, não pelos desenhos ou
pelas poucas páginas, mas sim pela enorme expectativa criada pelo anuncio, de
uma super edição, que depois foi cancelada.
A
próxima edição comemorativa dos dois personagens, será certamente o centésimo
número de Zagor, a sair dentro de pouco mais de seis meses.
Esperemos que o personagem desta
vez lhe seja concedido a edição que os seus fãs desejam, afinal, é também
graças aos leitores e coleccionadores que as publicações se mantêm nas bancas.
Quando se oferece uma prenda a
alguém, manda o bom senso saber os gostos, as preferências e as necessidades de
quem recebe, para que a oferta seja bem recebida. É aqui a principal falha da
Mythos! A página de Internet, mesmo remodelada continua pouco funcional: A
interacção com os coleccionadores é praticamente inexistente, talvez por
considerar suficiente, o excelente trabalho desenvolvido pelo Portal Tex Brasil
e pelo Blogue do Tex, na divulgação dos personagens e das revistas.
Como podemos
constatar nesta peça, mesmo considerando que a amostra não é representativa, os
leitores são de diversas faixas etárias e de extractos sociais, assim é
extremamente difícil agradar a todos, no entanto, é sempre possível agradar à
maioria. Com um simples questionário, sobre qual a edição a lançar como edição
comemorativa, colocado na página de Internet, poderia se ter chegado facilmente
a essa conclusão.
Já
o referi, considero a edição Zagor Especial 30 anos uma enorme desilusão,
apesar disso foi apenas uma entre as cerca de 600 edições de Tex e Zagor que a
Mythos já produziu. Em Janeiro
próximo a Mythos completa dez anos desde que assumiu a responsabilidade de
publicar “Bonelli Comics”. Em apenas uma década a editora já publicou mais de
400 edições de Tex, ultrapassando assim largamente as cerca de 260 da Vecchi e
também as publicadas pela Globo, (cerca de 320). De Zagor, já colocou nas
bancas brasileiras quase tantas as edições, quanto as suas antecessoras juntas.
Todas estas edições, publicadas numa fase extremamente complicada para a BD a
nível mundial. É sem dúvida um trabalho fantástico, que tanto eu como todos os
coleccionadores devem estar agradecidos, não só pela quantidade, como pela
qualidade das edições e não será por achar que o Zagor edição Especial 30 anos
foi uma edição pouco conseguida e com falhas no planeamento, que todo este
trabalho sai minimamente ofuscado.
Será que esta data não deveria ser alvo de
uma edição comemorativa? Que personagem e que tipo de edição deveria ser
lançada? Será que a Mythos têm alguma surpresa que ainda não divulgou?
Aguardemos,
afinal falta pouco mais de um mês.
[1] – Este texto foi escrito em Dezembro de 2008
[2] – Tex 1ª e 2ª
edições brasileiras números 68 e 69.
[3] – Tex 1ª e 2ª
edições brasileiras
[4] – Tex edição
brasileira 1ª edição.
[5] – A Mythos
anunciou que a história publicada em Zagor 30 anos seria retirada do Maxi Zagor
Nº8, história de 288 páginas.
http://www.sergiobonellieditore.it/
PS: Texto publicado inicialmente no blogue do Tex em 12 de Dezembro de 2008
http://texwillerblog.com/wordpress/?p=18311
PS: Texto publicado inicialmente no blogue do Tex em 12 de Dezembro de 2008
http://texwillerblog.com/wordpress/?p=18311
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