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sexta-feira, 4 de agosto de 2023

FIM DO EPISÓDIO

Ao anoitecer, em plena floresta, Fraser, o renegado que liderou uma tribo de Apaches e massacrou a população de Goldena, só para se vingar, procura desesperadamente escapar a Tex Willer que pretende puni-lo pelos crimes cometidos. No meio do silencio da floresta, ouve-se várias vezes a voz de Tex que procura aterrorizar o foragido: “Aonde pensa que vai, Fraser?”, “A morte segue você, mas não tem pressa!”, “Você só morrerá ao anoitecer, …”.

Fraser sente medo antes de ser ferido e capturado por Tex, mas o verdadeiro terror sente após a captura, quando o Ranger revela as suas intenções: “Mate-me, Willer.” – Suplica Fraser. “Não. Mas vou fazer-lhe um presente, Fraser.” – Responde Tex.

Tex devolve a Fraser o revolver com uma única bala e o abandona, no meio da floresta, ferido num braço e numa perna, sem se poder mover, e com uma terrível escolha para fazer.

Este é o final[1] de “Território Apache”! Um desfecho marcante, que deixa por revelar o destino do criminoso e que leva o leitor a imaginar o que poderá ter sucedido naquela noite: terá Fraser cometido suicídio ou terá sido devorado pelos lobos? Terá sido salvo por alguém de passagem? Passados mais de cinquenta anos desde a publicação desta aventura pela primeira vez continuamos sem o saber. Provavelmente nunca o saberemos, mas este tipo de final, aberto e não revelado, possibilita sempre o regresso dos vilões.

Outro final na mesma linha, e muito bem conseguido, é a conclusão[2] de “O ouro do Colorado”! Nesta aventura, Tex e os seus parceiros embarcam Gilas e dois sobreviventes do bando que massacrou os habitantes de um Pueblo Navajo, numa canoa sem remos, num trecho do rio Colorado bastante turbulento, com muitos rápidos e corredeiras, deixando nas “mãos” do destino a punição dos três bandidos, sabendo, no entanto, que a probabilidade de saírem do rio com vida era extremamente diminuta.

Uma das últimas vinhetas da história mostra a canoa, com os três bandidos a bordo, a desaparecer no rio turbulento, deixando à imaginação dos leitores o que o destino lhe reservou. Destino, que tal como na aventura anterior, e até ao momento, não foi revelado por nenhum dos escritores do personagem.


O Tipo de final das aventuras já referidas, em que o herói não pune diretamente os criminosos e os coloca à mercê do destino, ou de outros, encontra-se nos meus finais favoritos.

Além dos já referidos acrescento o desfecho[3] de “Cão Amarelo”, em que Tex após vencer, num duelo, o chefe dos índios Utes que liderou o ataque dos Utes e Hualpais à reserva Navajo, corta-lhe o cabelo, humilhando-o desta forma, retirando-lhe a honra e prestígio. A humilhação sofrida é uma pequena parte do castigo, a principal punição é dada pela própria tribo que abandona o seu líder transformando-o num pariá. Este desfecho é uma pequena variante dos anteriores, mas também é um final aberto que não revela o sucedido com o chefe indígena[4].


Outro tipo de conclusão, que está presente nas histórias de Tex, mas não tão frequentemente, também ele aberto e igualmente interessante, e que proporciona sempre o regresso dos vilões, é o desfecho em que algo ocorre, sem que os protagonistas consigam intervir, que impossibilita o confronto físico entre heróis e vilões.

A conclusão[5] de “O filho de Mefisto” é um excelente exemplo deste tipo: traído por Yama, Thomas aceita ajudar Tex e os seus pards a capturar o mago e a sacerdotisa do Vudu, Loa. O que consegue com o auxílio da tripulação do veleiro! No entanto, quando tudo apontava para uma conclusão tradicional em que os heróis vencem e capturam os vilões, Gianluiggi Bonelli decide surpreender e criar um desfecho grandioso e de acordo com a aventura: antes de entregar os prisioneiros a Tex e seus pards, Thomas decide atirar ao mar todos os objetos que Yama utilizava nas suas práticas de magia negra, e que o aterrorizavam, mas assim que o primeiro artefacto toca na água, algo de sobrenatural ocorre! Quase instantaneamente levanta-se uma violenta tempestade. Os fortes ventos e a elevada agitação marítima quebram as amarras do veleiro e arrastam-no para o alto-mar impedindo a entrega. Tex fica convencido que não voltará a ver Yama, mas as últimas vinhetas deixam outras possibilidades em aberto ao revelarem a história de um veleiro, com os mastros despedaçados, pilotado por uma figura sinistra e que é visto apenas nas noites de tempestade.

A conclusão das histórias de forma a viabilizar o retorno dos vilões é muito interessante e por vezes origina novas aventuras, tão ou mais interessantes que as anteriores. As sagas de Mefisto, Yama, Proteus e o Tigre Negro são a prova e bons exemplos da utilização deste recurso.

E quando o autor decide eliminar o vilão, excluindo, definitivamente, qualquer hipótese de retorno? Qual o melhor desfecho nesta situação? Nestes casos prefiro a conclusão trágica, a que surpreende os heróis e os próprios leitores! Neste tipo de desfecho encontro três variantes que considero muito interessantes: o vilão coloca termo à própria vida para escapar à punição; um evento trágico ocorre que impede a captura dos vilões; a punição dos vilões é aplicada por personagens secundários.

Relativamente à conclusão em que o vilão comete suicídio, relembro dois desfechos, de duas aventuras clássicas consideradas pela grande maioria dos fãs como das melhores histórias do personagem: Marcus Parker, o poderoso e misterioso homem de Flagstaff, que organizou um plano maquiavélico para se livrar de Tex Willer, e expulsar os índios Navajos da reserva, e aceder dessa forma às jazidas de ouro que existiam no território, é surpreendido, no seu escritório, pelos seus inimigos e ex-cúmplices. Confrontado com as provas e percebendo o fim que o esperava, Parker decide ser ele próprio a traçar o seu destino e, aproveitando um momento de polidez dos seus inimigos, comete suicídio. Este é o final[6] de “A grande intriga”, aventura toda ela fantástica, uma verdadeira obra prima, incluindo o desfecho, com um vilão extramente poderoso e inteligente, ao ponto de conseguir que Tex seja condenado a vinte anos de prisão na penitenciária de Vicksburg por um crime que não cometeu, e com o autor a conseguir manter o suspense, sobre a identidade do conspirador, ao longo de quinhentas páginas, só a revelando quando Parker é surpreendido no seu escritório.


A outra fantástica aventura, com um final[7] igualmente excecional e digno da personagem, e da narrativa, é “Chamas de guerra”. Num escritório em Richmond, Tex encontra-se com Howard Walcott que o chamou com a promessa de lhe revelar a verdade sobre os seus sobrinhos e os eventos ocorridos, muitos anos antes, durante a guerra da secessão, e nos quais Tex também se viu envolvido. As confissões que faz, dos crimes que cometeu, são terríveis, e levam Tex a perder completamente a cabeça, ao ponto de afirmar “… você é o ser mais abjeto e desprezível que já conheci na minha vida!” … “Deveria matá-lo Walcott!”.

A intenção de Tex é levá-lo para a prisão e vê-lo condenado à forca, no entanto, convencido por Walcott - que sofre de uma doença incurável - que pretende a abertura de um inquérito Federal para apurar toda a verdade, e reabilitar a memória dos seus sobrinhos, deixa-se ludibriar, permitindo a Walcott ficar sozinho no escritório e por termo à vida.

Quanto a conclusões de aventuras em que algo ocorre que impede a captura, saliento duas aventuras, também pertencentes à idade de ouro de Tex, e também consideradas das melhores histórias de sempre pela grande maioria dos seus fãs: O desfecho[8] de “A noite dos assassinos”, em que ao ser informado, por um cúmplice, que iria ser preso pelos Guardas-rurais[9], Nick Billing, o agente indígena dos índios Dakota, responsável pelo plano que condenou toda a tribo à morte para se apossar das jazidas de ouro existentes na reserva, tenta, desesperadamente, fugir num trenó puxado por cães, atravessando um rio congelado. Apesar da fina camada de gelo e da hesitação dos cães em prosseguir, Billing não hesita! Não aceita de modo nenhum ser capturado e força os cães a avançar até ao inevitável: O gelo acaba por ceder “engolindo” o trenó e o seu ocupante. Billing perde a vida, mas escapa à justiça dos homens.

O desfecho[10] de “Mescaleros” é igualmente dramático e inesquecível! É longo, prolongado, (dezoito páginas), emotivo e brilhantemente ilustrado por Letteri: ferido com alguma gravidade nas costas, perseguido pelos Guarda-rurais, Don Fábio Esqueda, aliás, Lucero, o chefe dos índios Mescaleros que aterrorizam a região americana de Nogales, tenciona refugiar-se na missão de San Xavier onde foi criado. Infelizmente para ele o destino tem outros planos! As dores provocadas pelo ferimento nas costas incomodam-no cada vez mais. Cansado e febril não consegue evitar a queda do cavalo que agrava ainda mais a sua situação, reabrindo e infecionando a ferida.  Apoquentado por febre alta e delirando, Lucero esporeia selvaticamente o cavalo até que “a piedosa mão da morte” termina com o sofrimento do pobre animal. Apesar do seu estado, e inexplicavelmente, consegue chegar à missão, como se fosse impelido, por uma entidade superior, a devolver a cruz do padre Michele, roubada, anos antes, quando fugiu. Lucero, um dos adversários mais inteligentes que Tex já enfrentou, morre, antes da chegada de Tex e os seus pards à missão, sem nunca se terem encontrado frente-a-frente.

O final em que os criminosos escapam ao confronto com os heróis e são punidos por personagens secundários também me agrada particularmente. Nas histórias de Tex gostaria de referir duas aventuras concluídas desta forma: “Vingança de índia” e “Sul profundo”.

Em “Vingança de índia” a narrativa poderia ter sido concluída com a expulsão do coronel Arlington, do exército, pela responsabilidade do massacre ocorrido na aldeia de Alce-Preto. No entanto, e até para justificar o título da história, o autor resolveu mostrar o que se passou seis meses após, quando Nashya, a única sobrevivente do massacre, executa a impiedosa vingança: montada em Blanco, o corcel que pertenceu ao seu marido, Shedar, morto na chacina efetuada pelo exército, arrasta, furiosamente, o então civil Arlington até virar um farrapo humano. As últimas vinhetas mostram a índia a pendurar um escalpo no leito onde se encontram os restos mortais do seu marido. Um desfecho[11] duro, violento, marcante, mas também inesquecível e pouco visto nas páginas de Tex.


A conclusão[12] de “Sul profundo” é diferente! A punição do principal vilão da história também fica a cargo de um personagem secundário, mas não de uma forma violenta. Nesta aventura sobre racismo, realista, cativante, mas também algo amarga e triste, em que Tex não consegue proteger um negro acusado falsamente de homicídio, nem o jogador Edwin Doyle, que o tenta ajudar, o autor brinda-nos com um final muito bem conseguido e sobretudo … irónico: Eric Warner, o chefe dos assaltantes da Western National Bank de Salt Lake City, e o maior responsável por todas as dificuldades que Tex enfrenta, percebendo os riscos que corria ao permanecer na cidade, tenta atravessar o rio Jacks Creek para escapar ao Ranger. E vai consegui-lo, mas não da forma que esperava! Não encontrando um vau, e com a água mais subida que o normal, Warner arrisca a travessia mesmo não sabendo nadar, sujeitando-se ao pior. O que acabará por ocorrer: um tronco de arvore, arrastado pela corrente, afasta-o do cavalo e condena-o a morrer afogado, mas o incidente dá-se próximo de um pescador que, imediatamente, lhe atira uma corda para o salvar. Contudo, a situação altera-se tragicamente para Warner quando já se encontra a poucos metros da margem e o pescador o reconhece. Por capricho do destino, a única a pessoa que o poderia salvar de morrer afogado é, também, o negro chicoteado na noite anterior por um elemento do grupo liderado por Warner.

Por último, mas igualmente interessante e fascinante, destaco apenas mais um tipo, que me atrevo a classificar como “Nolittiano” devido à frequência com que se encontra nas narrativas de Tex escritas por Sérgio Bonelli, sob o pseudónimo de Guido Nolitta. Um desfecho prolongado, normalmente fechado, amargo, triste, em que herói, apesar de vitorioso, falha. As falhas ou perdas são tão relevantes que a sensação transmitida é de derrota e não de vitória!

São várias as aventuras escritas por Nolitta que que poderia referir, mas fico-me apenas por duas, cujos desfechos não vou descrever, mas cujas histórias desafio a ler para apreciarem este tipo de conclusão, pouco tradicional, mas bastante realista: “Caçada humana”, (Tex não consegue cumprir a promessa a Andy Wilson de ser julgado justamente e não consegue evitar o seu trágico fim), e “O sinal de Cruzado”, (Tex e Tigre falham completamente na missão de trazer de volta, à aldeia Navajo, mais de uma dezena de jovens guerreiros que a haviam abandonado para se juntar ao bando de Paiutes, liderado por Cruzado, nos roubos e assassinatos aos colonos da região).

Estes são alguns dos desfechos mais bem conseguidos que podemos encontrar nas centenas de aventuras de TEX. Mas existem outros, muitos outros, que poderia destacar, igualmente bem conseguidos, e igualmente brilhantes, mesmo nos finais mais tradicionais, em que o herói derrota o vilão, como no final de “El Muerto”.

Seja aberto ou fechado, o desenlace, conclusão, epilogo, fim do episódio ou como o queiramos apelidar, deve ser um ponto marcante da narrativa, seja ele emotivo, trágico, surpreendente, triste ou mesmo irónico. O mais importante é que, a forma como se conclui, melhore a narrativa e transforme uma história menos conseguida, numa aventura a recordar, e uma boa história, numa inesquecível, ou mesmo obra-prima, o que em minha opinião, nas aventuras referidas, foi plenamente conseguido, nas histórias clássicas de Tex era frequentemente atingido, e nas atuais raramente acontece.

Nota Final:

Como se depreende da leitura do texto, considero o desfecho uma parte muito importante da narrativa, e para demonstrar, como a conclusão pode melhorar ou piorar, consideravelmente, uma narrativa, vejamos o exemplo de “Vingança de índia”, que no Brasil, nas versões publicadas pela editora Vecchi, foi truncado e mutilado em oito tiras. Na versão original, descrita no texto e publicada em TEX COLEÇÃO e TEX ED. HISTÓRICA, Nashya provoca a morte de Arlington de uma forma barbara, violenta e sem piedade. Na versão publicada pela Vecchi, TEX Nº 2, e TEX 2ª ed. Nº 2, Arlington é morto com uma pancada na cabeça na sequencia do assalto à diligencia, num final simples, sem emoção, facilmente esquecível e claramente pior que o original.

Na época as revistas apresentavam publicidade nas suas páginas, e poderá ser essa a razão para os cortes. Atualmente, as histórias do Tex são publicadas, na sua grande maioria, em blocos múltiplos de 110 páginas - O que pode levar os argumentistas a não incluir determinadas cenas, para encaixar as narrativas nos blocos. Essa limitação, de ter de encaixar as narrativas nos blocos, poderá ter o mesmo efeito que os cortes efetuados pela Vecchi, no final de “Vingança de índia”, e ser uma das justificações para que os finais das histórias atuais sejam, frequentemente, insípidos, esquecíveis, e que pouco acrescentam às narrativas.

Lista de Histórias de Tex italiano, e sua correspondência no Brasil, ordenadas pela ordem de referência no texto:

·         Inferno a Rober City – TEX 108 - 109 (out-nov 69) – Texto: Gianluigi Bonelli – Arte: Giovanni Ticci.

Território Apache - TEX 16; T2E 16; TXC 154-156; TEH 60.

·         Lòro del Colorado – TEX 201-202 (jul-ago 77) - Texto: Gianluigi Bonelli – Arte: Giovanni Ticci.

O ouro do ColoradoTEX 129-130; T2E 129-130; TXC 253-254; TEH 101.

·         Scacco matto – TEX 233-236 (mar-jun80) - Texto: Gianluigi Bonelli – Arte: Giovanni Ticci.

Cão Amarelo – TEX 152-154; TXC 285-288; TEH 115.

·         Oltre il fiume – TEX 596-597 (jun-jul10) – Texto: Claudio Nizzi – Arte: José Ortiz.

Além do rio – TEX 498-499.

·         Il figlio di Mefisto – TEX 125-128 (mar-jun71) - Texto: Gianluigi Bonelli – Arte: Aurelio Galleppini.

O filho de Mefisto – TEX 101-103; T2E 101-103; TXC 174-177; TEH 67.

·         La trappola – TEX 141-145 (jul-nov72) - Texto: Gianluigi Bonelli – Arte: Aurelio Galleppini.

A grande intriga TEX 107-110; TEX 2ED 107-110; TXC 193-198; TEH 73-74; SAT 01.

·         Gli avvoltoi – TEX 297-299 (jul-set85) - Texto: Claudio Nizzi – Arte: Giovanni Ticci.

Chamas de guerra – TEX 204-206; TXC 350-352; TXO 04.

·         La fine dei comancheros – TEX 166-168 (ago-out74) - Texto: Gianluigi Bonelli – Arte: Giovanni Ticci.

A noite dos assassinos TEX 58; TEX 2ED 58; TXC 218-220; TEH 84; TEF 01.

·         L` ultimo poker – TEX 151-154 (mai-ago73) - Texto: Gianluigi Bonelli – Arte: Guglielmo Letteri.

Mescaleros – TEX 62-64; TEX 2ED 62-64; TXC 203-206; TEH 77.

·         Vendetta indiana – TEX 91 (mai68) - Texto: Gianluigi Bonelli – Arte: Giovanni Ticci.

Vingança de índia – TEX 02; TEX 2E 02; TXC 135-136; TEH 52; SAT 02

·         La casa sul fiume   TEX 209-210 (mar-abr78) – Texto: Gianluigi Bonelli – Arte: Erio Nicoló.

Sul profundo – TEX 138-139; TEX 2E 137-138; TXC 261-262; TEH 104.

·         Caccia all uomo – TEX 183-185 (jan-mar76) – Texto:Guido Nolitta – Arte: Ferdinando Fusco.

Caçada humana – TEX 68-69; TEX 2ED 68-69; TXC 235-237; TEH 99.

·         I quattro evasi TEX 242-245 (dez80-mar81) - Texto:Guido Nolitta – Arte: Aurelio Galleppini.

O sinal de Cruzado TEX 157-159; TXC 294-297; TEE A marca de Cruzado.

·         El Muerto -  TEX 190-191 (ago-set76) – Texto: Gianluigi Bonelli – Arte: Aurelio Galleppini.

Em Muerto – TEX 112; TEX 2E 112; TXC 242-243; TEH 96; ESB.

LEGENDA:

·         T2E – Tex 2ª Edição

·         TXC – Tex Coleção

·         TEH – Tex Edição Histórica

·         SAT – Superalmanaque Tex

·         TXO – Tex Ouro

·         TEF – Tex Especial Férias

·         TEE – Tex Edição Especial

·         ESB – Especial Sergio Bonelli



[1] TEX 2ª Ed. Nº 16 – Território Apache.

[2] TEX 1ª Ed. Nº 130 – Grande Canyon.

[3] TEX 1ª Ed. Nº 154 – O circulo de sangue.

[4] Contrariamente às histórias anteriores, “Cão Amarelo” teve continuação muitos anos depois, na aventura intitulada “Além do rio” de autoria de Cláudio Nizzi (TEX 1ª ED. Nº 498 – Além do rio e TEX 1ª ED. Nº 499 – A ponte de pedra).

 [5] TEX 1ª ED. Nº 103 – O veleiro maldito.

[6] TEX 1ª ED. Nº 110 – A sombra do patíbulo.

[7] TEX 1ª ED. Nº 206 – Fuga de Anderville.

[8] TEX 2ª ED. Nº 58 – A noite dos assassinos.

[9] Expressão que caiu em desuso, atualmente utiliza-se “Rangers”.

[10] TEX 2ª ED. Nº 64 – Os sinos dobram por Lucero.

[11] TEX ED. HISTÓRICA Nº 52 - Vingança selvagem.

[12] TEX 1ª ED. Nº 139 – Linchamento. 

PS: Texto publicado na revista Clube Tex Portugal Nº 18 em julho de 2023

domingo, 8 de janeiro de 2023

TEX MAIS QUE UM HERÓI - ENTREVISTA AO AUTOR

Em setembro de 2021 fui agradavelmente surpreendido com a notícia da publicação de “Tex mais que um herói”, um livro temático sobre o personagem Tex Willer. Refiro “surpreendido” porque considero-me muito bem informado sobre o herói e tudo o que se passa nos bastidores e, até à data, estava completamente ignorante sobre o assunto. “Agradavelmente”, porque nunca imaginei que fosse possível, e viável, publicar em Portugal, num país que tem apenas algumas centenas de fãs compradores, e com pouco mais de uma dezena de edições publicadas, uma obra, sobre este herói Bonelliano, com esta dimensão e qualidade.

A obra de Mário João Marques|
Decidido a esclarecer estas, e muitas outras questões, contactei o autor para uma entrevista e, sem surpresas, o Mário apresentou uma disponibilidade total e imediata. Aproveitando-me da recetividade do Mário (um dos fundadores do Blogue do Tex) e do facto de nunca ter concedido uma entrevista, não me limitei às perguntas sobre o livro, questionei tudo sobre o Mário, as suas raízes, o que faz profissionalmente, ligação à BD, etc. e o Mário, tal como no seu livro, não se conteve, conseguindo ir muito mais além do que esperava.

O resultado? É a longa, elucidativa e imperdível entrevista que se segue, e que vos convindo a ler, pois esclarece todas as dúvidas que poderão ter (acredito eu) sobre o autor e a sua obra.

Sérgio Sousa (SS) - Caro Mário, obrigado pela disponibilidade e parabéns pelo lançamento do teu livro que desejo, desde já, o maior sucesso. Vamos começar por ti! Quando se fala em TEX WILLER BLOG todos associam o nome de José Carlos Francisco e poucos sabem que o Mário Marques é um dos dois fundadores.  Quem é o Mário Marques, também conhecido por Marinho, que até hoje ainda não concedeu uma entrevista ao próprio blogue?  Quem é o homem, o profissional, onde nasceste, cresceste, enfim, o que quiseres e puderes revelar sobre ti.

Mário Marques (MM)Antes de mais, Sérgio, quero agradecer o teu convite para uma entrevista a propósito do lançamento do livro que tive o grato prazer de escrever sobre o Tex, assim como os teus desejos que a obra possa ser um sucesso. Em termos biográficos, nasci em Marinhais (Ribatejo), mas considero-me um alfacinha, pois vim para Lisboa aos 4 anos. Fiz os estudos até ao 12º ano, cumpri o serviço militar e, terminado este, entrei na banca, onde já estou há 35 anos. Posteriormente, já em regime pós-laboral, decidi estudar Relações Internacionais, porque a Política, a Diplomacia e a História sempre me interessaram. Acabei por continuar na banca e nunca segui uma via relacionada com o curso, porque naquela altura dava para seguir a área diplomática e pouco mais, além de que as oportunidades eram mais escassas e de difícil acesso. Hoje, o curso de Relações Internacionais oferece um mais vasto leque de oportunidades e o seu acesso, com a chegada da internet e o desenvolvimento cada vez maior das novas tecnologias permite um acesso que antes não havia ou era mais difícil. Dou-te um exemplo: quando estudava assinava algumas revistas especializadas e lembro-me que aqui só chegava a Foreign Affairs e pouco mais. As outras eu escrevia uma carta à editora e enviava um cheque bancário para pagar a assinatura. A internet veio alterar isto tudo. Desde miúdo sempre gostei

BD de autoria de Mário Marques
de desenhos e sobretudo de ler. Posso mesmo dizer que cheguei a escrever e desenhar duas bandas desenhadas naquelas sebentas que antigamente se usavam nas escolas. Ainda guardo essas “obras primas” com muito carinho, mas tenho muita pena de nunca ter tido jeito para o desenho, que considero uma das artes mais nobres e difíceis. Se tivesse o jeito do meu irmão, teria tentado dar asas a essa paixão, não sei se em termos de carreira profissional, porque em Portugal é muito difícil viver da BD, mas pelo menos nos tempos livros. Depois veio a leitura, de tudo um pouco, mas acho que tudo começou com as revistas Disney brasileiras e a revista Tintin portuguesa. A BD acompanhou-me sempre através dos livros e das inúmeras revistas que fui colecionando, e com o advento da internet tudo se tornou mais fácil em termos de acesso a compras e artigos. Se o vício já era grande, maior setornou. Também tive e tenho sorte pelo facto da minha esposa viajar muito e trazer-me regularmente livros de vários países, sobretudo da Europa e Brasil. Relativamente ao Tex Willer Blogue, sem querer colocar-me em bicos de pés, até porque se hoje ele é um sucesso isso deve-se ao José Carlos Francisco, a verdade é que eu fui o fundador. Foi um desafio que lancei ao José Carlos, porque achava que num meio como a internet onde existem tantos sites e blogues, a criação de um espaço dedicado ao Tex fazia algum sentido e seria uma forma de união e contacto entre todos os texianos por esse mundo fora. Numa primeira fase ele achou que não teria tempo, mas eu insisti e disse-lhe que iria criar o blogue, começando por publicar alguns posts na fase inicial e entregando-lhe posteriormente o desafio de o continuar, quanto mais não fosse sempre que ele tivesse tempo. A verdade é que, de então para cá e devido à paixão do José Carlos pelo Tex, o blogue tornou-se mesmo numa referência a nível mundial, muitas vezes referido no site da própria Sergio Bonelli Editore (SBE) e onde muitos autores do Tex acedem diariamente.

Mário Marques e José Carlos Francisco,
os fundadores do Blogue do Tex
SS - Relativamente a BD, eu sei que tu já descreveste o teu primeiro contacto com Tex, no teu livro “Tex mais que um herói”, mas gostaria que fosses mais abrangente aqui: descreve a descoberta da BD, as tuas primeiras leituras, o teu primeiro Tex, as tuas preferências, e o que lês e colecionas atualmente.

Uma compra inesquecível!
MM
– Descobri a BD sobretudo com as publicações Disney e a revista portuguesa do Tintin, como referi. Mas posso contar uma ou outra história que me fez gostar da BD, porque em tudo há sempre uma história. Há coisas que não guardo na memória, mas a compra de “O Ceptro de Ottokar” do Tintin nunca esqueci. Uma tarde, a minha mãe quis comprar um livro para os seus dois filhos e perguntou-nos qual queríamos. Eu optei pelo álbum do Tintin, enquanto o meu irmão preferia um Lucky Luke, creio que “A Cidade Fantasma”. Eu e o meu irmão damo-nos muito bem, somos muito amigos, mas em miúdos chocávamos e contrariávamo-nos muito, o que acontece muitas vezes entre irmãos nessas idades. Por isso, a minha mãe percebeu que o meu irmão, que não ligava tanto a BD, estava a escolher o Lucky Luke apenas para me contrariar e optou por comprar “O Ceptro de Ottokar” que, ainda hoje e talvez por isso, considero a minha aventura preferida do Tintin. Outro marco foi o primeiro número que recebi da revista Tintin, onde se publicava “Pesadelo para Ric Hochet” e lembro-me de ter adorado aquelas duas pranchas inseridas na revista, tanto que o Ric Hochet tornou-se, então, num dos meus heróis preferidos. Também a leitura da primeira parte de “O Mistério da Grande Pirâmide” do Blake e Mortimer foi apaixonante, sobretudo aquele final em que o Mortimer jura vingar o amigo Blake. Levei anos até poder ler a conclusão da história. Foi assim que nasceu a minha paixão pelo franco-belga. Já no liceu, com o dinheiro do lanche que recebia da minha mãe, comprava semanalmente quase todas as revistas que saiam nas bancas, o Mundo de Aventuras, o Falcão, O Jornal do Cuto e tantas outras, descobrindo então outros grandes autores como Alex Raymond, Hal Foster, Milton Caniff ou Al Williamson. Do Brasil chegavam-nos, para além das revistas da Disney, os comics americanos, que eu também colecionava, tal como o Tex, que descobri, como eu explico no livro, numa banca do metropolitano de Lisboa e a partir daí foi uma atração e paixão que ainda hoje se mantém. No fundo, em termos de BD eu gosto, leio e coleciono todos os géneros. O Tex permitiu-me conhecer e apaixonar-me pelos fumetti, colecionando atualmente quase todas as séries publicadas pela SBE. Mas continuo a comprar um pouco de tudo, álbuns franco-belgas, publicações Disney, comics americanos, mangas japoneses, BD portuguesa. Esta paixão leva-me também a comprar diversas monografias e livros temáticos sobre a BD, porque quero muito saber quem e o que está “atrás do pano”. Entretanto, de alguns anos a esta parte, gosto também de colecionar estatuetas, o que, para além dos livros, ocupa-me muito espaço em casa.
Artigos da coleção de Mário Marques
SS - No que diz respeito ao personagem Tex Willer, qual o teu desenhador e argumentista preferidos e quais as tuas histórias favoritas?

Prancha de Maurizio Dotti
MM – Ao contrário de muitos “texianos” eu acho que o Tex atualmente é mais rico em termos gráficos e narrativos. Muitos de nós, os mais “antigos”, aprendemos a gostar de Tex na chamada “Idade de Ouro” da série, com aquelas maravilhosas histórias de Gianluigi Bonelli sobretudo das décadas de 1960 e 1970, servidas por um quinteto de desenhadores ímpar, como Galep, Nicolò, Letteri, Ticci e Fusco. Apesar de gostar de todos, cada um com o seu estilo, Ticci era o meu favorito, com o seu Tex altivo e imponente e um olhar penetrante. No entanto, com a chegada de nomes como Villa, Civitelli, Venturi, Dotti, e tantos outros, o nível de qualidade subiu imenso, até porque hoje os desenhadores trabalham para um público mais exigente e, por isso, têm de se documentar bem, o que, por outro lado, se reflete numa maior lentidão do seu trabalho. Em termos de desenhadores, e como refiro no livro, acho que há um conjunto de nomes que marcaram a série e deixaram o seu legado: Galep, por ter sido o criador gráfico e durante décadas o baluarte a solo, a que se junta toda a iconografia das suas capas; Ticci porque o seu Tex foi, é e certamente continuará a ser o principal inspirador e modelo, mas também porque trouxe um estilo completamente novo na época para a série; Civitelli pela meticulosidade do seu trabalho, pela sua contínua inovação gráfica que trouxe novas técnicas; e finalmente Villa, pela expressividade e pelo realismo cinematográfico do seu desenho, que conseguiu emprestar à própria figura do herói, assim como pela qualidade das suas capas. Refiro estes nomes pelo legado que, quanto a mim, deixaram em Tex, mas há nomes que também considero marcantes pelas suas aptidões, como por exemplo Andrea Venturi, os irmãos Cestaro, Alessandro Bocci, Maurizio Dotti, Stefano Biglia, e tantos outros. No que se refere aos argumentistas, Boselli é o meu preferido, porque consegue reunir as melhores características de Gianluigi Bonelli com a modernidade dos novos tempos. Existe sempre a eterna discussão de qual o melhor modelo de Tex, porque no fundo muitos leitores gostariam de continuar a ver no Tex atual o Tex de Gianluigi Bonelli. Mas como esse Tex nunca mais, não porque Boneli foi o melhor de sempre, mas simplesmente porque ele foi o criador, sentia Tex, respirava Tex, identificava-se com Tex, deu-lhe todas as características que granjearam tanta fama e sucesso ao ranger. No entanto, se hoje um autor pretendesse escrever da mesma forma, creio que não seria a mesma coisa por dois motivos: primeiro porque os tempos mudaram e com isso mudaram os leitores, mudou a BD, mudou o tipo de narração das histórias. Depois, porque cada autor tem as suas próprias características, faz parte da natureza humana, o que acabaria por se refletir no seu trabalho. Veja-se, por exemplo, o caso de Nizzi que, quando chamado a escrever Tex, tentou ser o mais fiel possível de Bonelli, mas a verdade é que a sua natureza menos impulsiva e mais recatada acabou por se refletir mais tarde nas histórias de Tex. Em todos os argumentistas vejo qualidades, mas Boselli construiu um Tex épico e em cujas histórias existem sempre inúmeros acontecimentos que se interligam de forma eficaz. É sobretudo o autor mais documentado e completo. Em termos de histórias retenho algumas por autor: “Flechas Pretas Assassinas”, “A Noite dos Assassinos”, “O Filho de Mefisto”, “A Cela da Morte”, todas de Gianluigi Bonelli; “El Muerto” e “Caçada Humana” de Guido Nolitta; “Fuga de Anderville”, “Intriga em Santa Fé”, “O Navio do Deserto” e “O Homem sem Passado” de Nizzi; “O Passado de Kit Carson”, “Os Invencíveis”, “Os 7 Assassinos”, “Colorado Belle”, “Os Pioneiros”, “A Mão do Morto” ou “Indian Carnival” de Boselli; e ainda “A Honra de um Guerreiro” de Ruju. E não… não incluo aqui clássicos como “Patagónia” ou “Oklahoma”.  

SS - Nos primeiros tempos do blogue era frequente encontrar curtas análises tuas a aventuras de Tex. Na revista do Clube do Tex encontra-se, em todas as edições, longos artigos de tua autoria, dedicados a uma aventura, desenhador ou escritor.  De repente (para os frequentadores do blogue) publicas um livro com centenas de páginas. Como é que foi passar de escritor de textos para escritor de um livro? O que é que mudou na tua forma de escrever e principais dificuldades.

As críticas do Marinho
MM – Essas análises no blogue também têm a sua história. Eu tinha o hábito de, sempre que lia um livro, escrevia um pequeno texto, algumas linhas de apreciação e guardava, às vezes no próprio livro. Quando conheci o José Carlos Francisco enviei-lhe uma apreciação minha do Tex Gigante “O Grande Roubo”, apenas para sua leitura. Para minha surpresa, ele ficou deveras agradado e sugeriu-me, desde logo, que eu escrevesse sempre que lesse alguma aventura do Tex. Assim fiz e enviava sempre para ele. Repara, nessa altura ainda não havia o blogue, isto era só entre nós, tanto que quando o blogue foi criado, o José Carlos aproveitou para publicar esses textos. Um dos motivos para a criação da revista do Clube talvez até tenha sido essa minha paixão pela escrita sobre o universo de Tex. Mas as palavras do José Carlos sobre os meus textos motivaram-me com toda a certeza a escrever o livro, porque foi nessa altura que eu comecei a pensar e trabalhar nele, no intuito de o terminar quando o Tex festejasse 70 anos de existência. Por variados motivos, sobretudo falta de tempo e a minha permanente auto insatisfação, não consegui terminar o livro nessa altura, apesar de, então, já ter uma editora interessada na sua publicação. Por isso, creio que as principais dificuldades residiram nestes dois factos, falta de tempo, porque precisei de ler e reler as histórias e documentar-me imenso, assim como querer fazer sempre fazer melhor, apresentar um produto onde o leitor pudesse ver rigor e o mínimo de qualidade. 

SS - José Rodrigues dos Santos, numa entrevista referiu que, sempre que estava a escrever um livro, escrevia sempre algumas páginas, à noite, após um dia de trabalho. E tu? Como é que escreveste o teu livro? Como é que surgiu a ideia, quanto tempo levaste a escrevê-lo, quantas páginas em média por dia, como é que foi o processo de revisão, pessoas influentes etc.

MM – Bom, colocares-me uma questão servindo de base um grande nome como o José Rodrigues dos Santos já me deixa orgulhoso. Goste-se ou não, trata-se do escritor que mais vende em Portugal. Eu considero-me bastante organizado e metódico, mas sempre preferi fazer aquilo que exige mais concentração mental de cabeça limpa, o que acontece logo pela manhã. Por isso, o livro foi quase sempre escrito da parte da manhã, tal como o trabalho de documentação. Sempre que podia, por exemplo aos fins de semana, nas férias ou em feriados, sem um ritmo pré-estabelecido de trabalho. Mas houve um grande avanço durante uns meses em que, infelizmente, tive de ficar de baixa em casa devido ao um enfarte que sofri em 2017. Levanto-me sempre muito cedo e esta minha maneira de ser leva-me a “apostar todas as fichas” logo pela manhã. Sempre fui assim. Por exemplo, quando tinha de preparar uma prova na faculdade, estudava quase desde o nascer do sol até haver luz natural, mas também na minha atividade profissional, pois entro sempre muito cedo e tento fazer logo pela manhã as tarefas que me exigem mais esforço mental. À noite só tenho cabeça para ver uma série ou um filme ou simplesmente para uma leitura mais leve. O facto de não me dedicar de forma contínua conduziu a

Paginação de João Marin
cerca de 13 ou 14 anos de trabalho. Mesmo depois de terminado, ainda levei mais uns largos meses até decidir colocar um ponto final, porque do meu ponto de vista havia sempre algo mais a acrescentar e a rever. O ritmo de publicações e de acontecimentos na série é tão grande e constante que eu nunca mais fechava o livro, sempre no intuito de o manter o mais atualizado possível. E o facto de o ter conseguido publicar devo-o a um conjunto de pessoas que tive oportunidade de agradecer no final do livro, mas que destacaria aqui algumas: o José Carlos pela motivação, por alguns conselhos e muitas revisões, assim como em alguns contactos junto da SBE; o João Marin que se prontificou desde o início a assumir o desafio da edição gráfica, e pelo facto de, devido aos seus conhecimentos de Tex, ter escolhido as imagens sem que eu, praticamente, tivesse de intervir; finalmente, também o José de Freitas, que tratou de tudo a nível da editora, dos apoios culturais, da gráfica, enfim da burocracia. Mas também gostava de agradecer aqui à SBE na pessoa de Davide Bonelli que, apesar de não ter autorizado tudo aquilo que eu gostaria, como por exemplo publicar o desenho exclusivo do Stefano Biglia e o logotipo do Tex na capa, autorizou-me a ir mais além do que aquilo que é habitual para um livro que não é publicado pela SBE.  

SS – Quais os objetivos que pretendes atingir com a publicação do livro?

MM – Muito sinceramente, a publicação do livro já me enche de um orgulho imenso. A célebre frase da sabedoria popular que sustenta que para um homem ser feliz e sentir-se completo na sua vida, deve ter filhos, plantar uma árvore e escrever um livro, para mim faz todo o sentido, porque eu sou daqueles que acho que estamos cá também para deixar algo, um legado. Só me faltava mesmo escrever um livro, por isso considero-me um homem feliz. Claro que há sempre um objetivo mais economicista que se encontra ligado às vendas, mas se eu não perder dinheiro, já me chega. Publicar o livro e saber que, pelo menos para já, ele é do agrado de todos aqueles que o leram, deixa-me mesmo feliz.

SS - O livro apresenta uma qualidade inquestionável, mas isso elevou, certamente, o preço (40€). Além da qualidade também se percebe facilmente a opção de não sobrecarregar as páginas de texto, o que torna mais atrativo e fluente a leitura, mas "esticou" numero de páginas, calculo eu, em cerca de 15%. Porquê esta opção pela qualidade em detrimento do preço? Foram avaliadas outras opções? Qual o público alvo que pretendes atingir?

Ilustrações inéditas associadas
aos capítulos
MM
– Mais uma vez, agradeço a tua opinião sobre o livro. Inicialmente tinha pensado num livro com menos páginas, no máximo 300 e a cores. Mas uma coisa é tu teres o texto escrito sem imagens e outra é quando começas a fazer a edição gráfica do livro e a inserir imagens. De repente, vês tudo a aumentar e facilmente chegas a mais 100/150 páginas. Por exemplo, o capítulo dedicado aos autores sabia que seria grande, mas quando eu pedi para colocar uma foto de cada autor e um desenho do Tex de cada desenhador, o capítulo tornou-se bastante grande, o maior do livro. Perdemos a noção, ou pelo menos eu perdi a noção. Depois, com o encarecimento do papel e da impressão tive de optar entre publicar a cores e ficar muito mais caro, publicar alguns capítulos a cores ou o livro todo a preto e branco. Pensei que se optasse por publicar alguns capítulos a cores teria de escolher quais seriam aqueles que o justificariam e, muito sinceramente, não consegui fazer essa escolha, optar por um em detrimento de outro. Optei por fazer tudo a preto e branco, até porque essa é a essência da série, mas fiz questão que o formato fosse igual aos cartonados do Tex que A Seita publica, que o livro fosse em capa dura e que tanto o tipo de letra como o espaçamento não dificultassem a leitura. Num livro tão específico e denso como este, a leitura deve ser fluida, até para chegar mais facilmente a outro leitor que não o de Tex. Tive esse aspeto em especial atenção, tanto que a fase da escolha do tipo de letra e do espaçamento ainda demorou algum tempo e levou a inúmeras experiências. Também dei especial atenção ao grafismo, queria evitar grandes blocos de texto, o que levou a que em todas as páginas exista pelo menos uma imagem. E por fim, pedi ao João Marin para emagrecer o corpo do texto e deixar algum espaço lateral para as legendas em bold. Esta fase de constantes experiências foi para mim muito gratificante, porque foi um todo um “mundo” novo que se abriu aos meus olhos. O mínimo detalhe altera sobremaneira uma página. Sei que podia ter saído melhor, mas apesar de ter consumido tempo e… paciência, foi algo onde também tive intervenção.

SS - O livro é uma verdadeira enciclopédia do universo texiano, num único volume, (expressão utilizada por Mauro Boselli, com a qual eu concordo plenamente), os nove capítulos “não deixam nada fora”, no entanto, considerando o preço, a aversão à leitura dos mais jovens que preferem os posts curtos, o pequeno universo dos colecionadores texianos e a disponibilidade da informação na internet, como é que esperas cativar os colecionadores e apreciadores de BD a compra-lo? Salienta na tua opinião os pontos fortes do livro.

O sumário
MMPermite-me alguma falta de modéstia quando estou de acordo em “catalogar” o livro como uma “enciclopédia”, porque foi assim que o idealizei. Há muitas obras dedicadas ao Tex, umas focando determinados aspetos, outras centrando-se noutros aspetos, mas a verdade é que há poucas que abordam todos os aspetos. Eu nunca quis escrever algo muito elaborado, algum ensaio ou alguma tese sobre o herói. Quis apenas escrever sobre o herói, sobre a série, sobre a editora, sobre os autores, no fundo condensar num só livro tudo o que dissesse respeito ao Tex, a sua história e evolução. Pensei nos temas que pretendia abordar, dividi-os em capítulos, e foi a partir daí que comecei a escrever. Por exemplo, quando relia uma história, sempre que encontrava algo que se relacionasse com algum dos capítulos do livro eu anotava logo. E foi assim que as coisas começaram e foram ganhando a sua forma. Há sempre coisas que ficam de fora e há sempre pontos que podiam ter sido mais desenvolvidos, outros nem tanto. Enquanto escrevia o livro pensava cativar os leitores com uma obra para ser lida, mas que, posteriormente, pudesse servir de permanente consulta. Um livro que pudesse ser lido de uma assentada pelos mais corajosos e apaixonados, mas sobretudo para se ir lendo e que pudesse apresentar os múltiplos aspetos do herói e da série. Por isso, aquilo que eu considero ser o ponto forte do livro é esta amplitude, falar de tudo um pouco e não estar centrado em determinado ponto.

SS – O livro foi cofinanciado pela União Europeia e pelos fundos, Compete 2020 e Portugal 2020. Este cofinanciamento foi determinante para a publicação do livro ou a publicação seria uma realidade sem estas verbas? Como é que foi todo o processo de candidatura aos fundos, quais os requisitos que a obra teve que cumprir e quem é que que foi o responsável pela candidatura?

A contracapa
MM – O Garantir Cultura foi um programa que apoiou projetos culturais e que incluía apoios à edição. De modo geral, os requisitos eram "simples", no sentido em que o programa apoiou todo o género de projetos até 95% do seu valor e até ao valor máximo de 50,000€. A Seita apresentou um projeto global de 75,000€ e canalizámos os 50,000€ recebidos do Estado para remunerar os criadores, autores, designers, tradutores, aqueles que trabalham normalmente connosco, com o objetivo de editar livros que, de outra forma, seria quase impossível, dado os elevados custos ou pelo género que abordavam, leia-se trabalhos “sobre a BD”. A candidatura foi apresentada pela editora de forma global, mas posteriormente cada um dos sócios responsáveis pelos seus projetos assumiu o trabalho de produção e supervisão dos seus livros. Todo este processo foi algo burocrático, dado que as candidaturas eram apreciadas à medida que chegavam, sendo aprovadas ou rejeitadas, e os fundos eram atribuídos até ao montante existente no orçamento do Garantir Cultura, ou seja, a dado momento o dinheiro acabava e já não se aprovavam mais projetos. Depois, o facto de o estado ter pago uma primeira tranche e não o valor global, transformou todo o processo num esforço grande de tesouraria, porque a editora acabou por ter de financiar a segunda metade que cabia ao estado, e ainda os 25,000€ adicionais do projeto. Aliás, esta última verba, que seria sempre da nossa responsabilidade, acabou por aumentar exponencialmente durante o ano e meio que o projeto levou a concluir, devido à crise do papel e dos custos energéticos. Apesar de tudo, conseguimos produzir todos os livros dentro do prazo e conduzimos o projeto a bom porto. No que se refere propriamente ao meu livro, estou certo que ele seria sempre publicado, mas a verdade é que o Garantir Cultura foi determinante, quer nas verbas concedidas, quer no timing da publicação. Fui trabalhando o livro, atualizando-o continuamente, mas sem ter uma data precisa de publicação, por isso o cofinanciamento foi o fator determinante no que se refere ao timing de publicação, porque obrigou-me a respeitar os prazos do Programa. E, claro que também foi importante nas verbas concedidas, uma vez que, apesar de pretender avançar com a publicação do livro, a verdade é que seria certamente mais tarde e com maior investimento financeiro da minha parte.

A publicação de um livro acarreta riscos e é necessário encontrar uma editora que acredite no projeto. Como é que foi no teu caso? Tiveste que bater a muitas portas? O que é que podes revelar sobre exigências tiveste de satisfazer, alterações tiveste de efetuar, volume de vendas exigido para que o lançamento seja um sucesso, etc. 

Rui Brito (Polvo) e Mário Marques
MM - Como te disse acima, quando comecei a escrever o livro tive a sorte e a honra de um editor ter mostrado logo interesse na sua publicação na pessoa do Rui Brito da Polvo. Chegámos a reunir várias vezes, quase sempre na mesa de um restaurante, conversando sobre como deveria ser o livro, tipo de papel, número de páginas e outros aspetos. Estava tudo encarrilado para que o livro viesse a ser editado pela Polvo, mas a verdade é que a vida dá muitas voltas e eu não imaginava que um dia me tornasse, também eu, editor de BD e de Tex em Portugal. Naturalmente que esse facto veio mudar tudo e foi “com o coração nas mãos” que informei o Rui que, apesar da confiança demonstrada em mim e no livro, eu tinha outros planos. Custou-me, reconheço, porque ainda sou daqueles que considera que a palavra substitui a assinatura de um contrato. O facto de ter publicado o livro na minha editora talvez me tenha dado outro espaço de manobra, outra liberdade. Não sei como seria com o Rui, com quem mantenho uma excelente relação de amizade, porque não chegámos à fase final da tomada de determinadas decisões. Creio que chegámos a acertar o tipo de papel e o número de páginas, bem menor. Seria um livro diferente, melhor ou pior não sei, apenas diferente. Na Seita, sendo o único editor do livro, dentro dos limites impostos pela SBE tive carta branca para o produzir como gostaria, apesar de algumas opiniões divergentes de um ou outro cooperante da editora em alguns aspetos. Por exemplo, alguns não gostaram da capa e do tipo de letra da mesma. O título não foi do agrado de outros. Inicialmente pensei num título que jogasse com o nome do herói, por exemplo “InTexamente”, como acontece em alguns livros italianos. Também pensei num título que jogasse com as palavras “justiça” e “lei, tão caras a Tex. Mas acabou por ficar “Mais que um Herói”, porque no fundo é isso que o Tex representa para mim e para gerações e gerações de leitores. Se Tex continua a vender desde 1948 é porque ele é mais que um herói, representa um conjunto de valores que todos nós devíamos defender e praticar. Este título resume a contento o meu livro e por isso defendi que assim ficasse. Por fim, a questão de escrever com ou sem o Acordo Ortográfico (AO). Eu não sou fanático em nada, nem sequer dono da verdade do que quer que seja, apenas tenho as minhas opiniões, por isso custa-me ver tanta celeuma em redor do AO e confesso que, por vezes, incomoda-me um pouco ver alguns dizerem que só compram um livro se for escrito sem o “famigerado” AO ou outros dizerem que nunca publicarão nenhum livro escrito com o AO. A nível profissional tenho de utilizar o AO, por isso não me custa nada escrever dessa forma, assim como o faço da outra forma se for necessário. Por exemplo, já que cada um escreve conforme prefere, na revista do Clube Tex existe liberdade para que cada um escreva com ou sem o AO, não se impõe nada, o principal é que seja em português, como costumo dizer na brincadeira. Em termos pessoais, e não concordando com algumas regras do AO, mesmo assim prefiro escrever desta forma, por várias razões, mas sobretudo porque acho que não faz grande sentido escrevermos palavras com as consoantes mudas. Acho que as palavras devem estar o mais próximo da forma como se leem. Não vejo que exista alguma ameaça com este AO, temos todos vivido bem pelo facto de, por exemplo, as escolas portuguesas ensinarem conforme o AO, as leis serem publicadas conforme o AO, a maioria dos jornais e dos livros publicarem segundo o AO ou as legendas televisivas serem com o AO. Não vejo que aqueles que são contra deixem de ler livros e jornais, deixem de ver televisão, não cumpram as leis ou não permitam que os seus filhos frequentem a escola. Mas esta é apenas a minha opinião, com toda a discussão que ela possa provocar. Daí que eu tenha optado por escrever o livro com o novo AO, o que representa uma estreia na editora.

SS - Relativamente à tiragem, quantos exemplares teve esta edição? Existe a possibilidade de uma 2ª edição?

MMO que te posso dizer é que, em função do formato, do número de páginas, do tipo de papel e por ser em capa dura, tentámos encontrar um equilíbrio muito criterioso entre a tiragem e o preço do livro. Ou seja, tentámos obter a justa medida para não termos de vender o livro com um preço mais elevado. Já agora, aproveito para sublinhar que, dadas as suas características, não acho o livro caro, estando o seu preço ao nível daquilo que é praticado noutros países, por exemplo em Itália, onde as tiragens são muito maiores. Se me disseres que com 40 euros muitos leitores preferem comprar dois ou três livros de BD, quem sou eu para o refutar, mas isso não significa que o produto em si seja caro. Sobre a possibilidade de uma 2ª edição, naturalmente que, mais que uma possibilidade, gostaria que ela se tornasse numa realidade, sabendo de antemão o quanto difícil isso é.

SS - E quanto às vendas? estão de acordo com as expetativas?

Anúncio da venda do livro no Brasil
MMDesde que me tornei editor que tenho alguma, para não dizer muita dificuldade em formar expetativas de vendas. Para ser sincero, em Portugal há apenas três ou quatro produtos de BD que vendem bem de antemão, mesmo levando em linha de conta as limitações do nosso mercado. Quase todos os livros vendem inicialmente um certo número de exemplares e depois vão-se vendendo, ou seja, há livros que até acabam por vender bem, mas quase nunca depressa. Este livro, por ser especificamente sobre uma personagem de BD, torna-se um pouco mais difícil, porque o mercado português de BD não está muito voltado para este tipo de produto. A Seita, de uma assentada, lançou alguns livros sobre temáticas ligadas à BD (“Conversas de Banda Desenhada”, “25 de abril e a Banda Desenhada” e o “Variantes”), o que considero ser uma pedrada no charco e uma aposta concreta num segmento que, pelo menos para mim enquanto leitor de BD, sempre me atraiu. Vamos ver como se comporta o mercado e qual a aceitação deste tipo de produto. O meu livro vai certamente levar o seu tempo a vender, mas posso dizer-te que, tendo saído em outubro, neste final de ano as receitas já ultrapassaram os custos, se tiver em consideração as verbas do financiamento, para o que contribuíram vendas não só em Portugal, mas também no Brasil (graças ao Dorival e à Mythos com quem fizemos um acordo e a quem muito agradeço) e Itália. Posso também informar que vendemos alguns livros para França e até para a Alemanha, para um apaixonado que me informou ir ler o livro com um dicionário ao lado.

SS - A escolha da capa intriga-me! O leque de desenhadores de Tex é vastíssimo e inclui alguns dos desenhadores mais credenciados em Itália. Porquê apresentar uma capa em que se sobrepõe uma "sombra" do herói sobre uma fotografia?

MM e a ilustração de Stefano Biglia
originalmente pensada para a capa
MMA questão da capa foi algo que me consumiu verdadeiramente tempo e paciência. Vamos à história, lá está, porque há sempre uma história para contar. Quando o Stefano Biglia esteve em Portugal, eu tive o grato prazer de o hospedar em minha casa e passear uns dias com ele e a esposa. Conversámos imenso e eu apresentei-lhe o meu projeto do livro, como tenho feito com todos os desenhadores que nos visitam. Perguntei-lhe se ele poderia desenhar a capa, e ele aceitou no imediato, o que para mim foi uma honra, acabando por daqui resultar o magnífico desenho que está na contracapa do livro. Mas porque não na capa? Como já referi antes, inicialmente tinha em mente publicar o livro quando da comemoração dos 70 anos do Tex, em 2018, tendo nessa altura encetado os primeiros contactos com a SBE, solicitando autorização para publicar o desenho do Biglia na capa do livro, naturalmente pagando os respetivos direitos de autor, porque queria fazer tudo em estrita obediência às diretrizes da editora. Contactei a secretária na altura do Davide Bonelli, a senhora Ornella Castellini, assim como alguns autores que mais de perto privavam com a editora, como o Moreno Burattini, por exemplo. O assunto não sofreu grande evolução e eu próprio deixei-o em “banho-maria”, até porque tinha decidido adiar a publicação do livro. Este ano, dada a decisão de finalmente avançar com a publicação, tive de adotar outra estratégia e pedir ajuda ao José Carlos, no sentido de eu poder contactar diretamente o Davide Bonelli, o que se veio a concretizar. Fiz uma breve apresentação da obra, enviei alguns trechos, expliquei que apenas pretendia homenagear Tex e que gostaria de fazer tudo em consonância com a editora, no fundo saber o que podia e não podia publicar em termos de material da SBE. O Davide respondeu-me imediatamente, informando-me que o material que eu tinha enviado tinha recolhido o agrado da Direção da SBE, autorizando-me a publicar o que quisesse no interior do livro, desde que fazendo alusão aos respetivos direitos da editora, assim como o desenho do Biglia na contracapa, o que já era algo que ia além da política habitual da editora. Na capa nada de desenhos de Tex nem o respetivo logotipo. Pensei, então fazer uma capa simples, toda em azul escuro e apenas com o título do livro. Mas achei pobre, abandonando a ideia. Pensei então em colocar a silhueta de um cowboy num cenário western, sobretudo que os mais conhecedores vissem que era o Tex. Apresentei essa capa ao Davide Bonelli que me informou não ter sido aceite pela Direção, mas uns dias depois voltou a contactar-me e informou-me que tinha feito valer a sua opinião na editora e que poderia então avançar com a capa, que acabou por ser a definitiva. Abro um parêntesis para referir que a silhueta tinha sido projetada em cor preta e não acinzentada, assim como em relevo, mas essa informação, por lapso, não foi passada à gráfica. Não foi a capa desenhada pelo Stefano Biglia, que eu queria e tanto desejava, mas mesmo assim conseguiu-se mais do que a editora normalmente autoriza e, ponto importante, tudo foi feito de forma legal e em estrito cumprimento com as diretrizes da editora. Nem aceitaria que fosse de outra forma.
Mário Marques e a sua obra
SS - Quem constrói a sua própria habitação, ao concluir, é frequente dizer que nesse momento está pronto a iniciar. E tu? Agora que publicaste o livro estás pronto a começar? Com os feedbacks que já recebeste, se fosse hoje o que é que farias diferente?

Duas páginas ilustrativas da paginação
MMTenho recebido feedbacks de quase todos os leitores a quem vendi o livro diretamente e posso dizer que me sinto imensamente agradado, não só com os elogios recebidos, mas também pelo simples facto de terem disponibilizado um pouco do seu tempo para me darem conta disso. Também recebi com um enorme orgulho os elogios publicados pelo Mauro Boselli e o Moreno Burattini nas redes sociais, assim como o feedback pessoal enviado pelo Davide Bonelli. Agradou-me e sensibilizou-me particularmente a apreciação do Hugo Pinto no “Vinheta 2020”, um blogue que considero de referência no panorama da BD em Portugal, quando escreveu entre outras coisas que o livro é um dos lançamentos mais impressionantes do ano, que é um autêntico tour de force, “aplausos perante um trabalho deste gabarito não serão suficientes” e sobretudo esta deliciosa afirmação: “se a minha vida (do Hugo) fosse interessante e relevante  como a de Tex, gostaria que Mário João Marques fosse o meu biógrafo”. Um bem-haja ao Hugo! Tudo isto poderia levar-me a pensar que hoje não faria nada de diferente, mas certamente que sim porque, como tenho vindo a sublinhar, estou permanentemente insatisfeito. Talvez desenvolvesse mais um ou outro ponto, por exemplo a questão dos índios nas aventuras de Tex, talvez resumisse outros pontos. Enfim, há sempre algo a acrescentar, alterar ou cortar.

SS - Depois deste livro quais os próximos projetos para o Mário escritor?

Nº 1 da Revista do Clube Tex Portugal
MMContinuar a escrever na revista do Clube Tex Portugal, pelo menos. Outras coisas o futuro o dirá. Eu não me considero um escritor pelo facto de ter escrito um livro, apenas alguém que gosta de transmitir e fazer chegar aquilo que pensa. Nem sempre escrevi sobre o Tex, porque cheguei a participar num site do Nuno Pereira de Sousa sobre BD e nessa altura escrevia sobre o franco-belga, também escrevi numa ou outra publicação, enfim, não me considero escritor, vou sim escrevendo. Projetos eu tenho sempre alguns, há sempre qualquer coisa em mente, a maior parte das vezes abandono por manifesta incapacidade em levar por diante. Seja como for, depois de ter pensado num livro, tê-lo organizado, escrito por inteiro, ter participado ativamente em quase toda a sua preparação, qualquer outra coisa que venha a fazer terá se ser também algo que seja essencialmente meu. Quer com isto dizer que terei sempre preferência por um produto genuinamente meu. Guardo para mim o projeto de um livro que, por exemplo, compile os artigos que tenho escrito para a revista do Clube Tex Portugal. Gostava também de escrever um livro sobre as melhores histórias do Tex que, aproveito para referir, tinha idealizado para ser o capítulo final deste meu livro, mas que acabei por retirar porque acho que merece outro desenvolvimento. Mas o que gostava verdadeiramente era saber escrever BD, argumentos de vários géneros e temáticas onde pudesse deixar a minha visão e sensibilidade sobre o nosso mundo, as questões atuais, os problemas que nos afligem, a nossa sociedade, as nossas prioridades, mas também aventuras puras. Sinceramente, é algo que acho extremamente difícil e para o qual não fui realmente prendado, porque uma coisa é tu escreveres uma história, outra bem diferente é tornares essa história numa BD.

SS - Mais uma vez agradeço a entrevista, desejo-te todo o sucesso, quer a nível pessoal, familiar, profissional e também neste grandioso empreendimento, e, para concluir, pergunto qual a questão que faltou nesta entrevista, ou que gostarias que tivesse colocado, e a respetiva resposta. Obrigado.

MMPodias ter colocado a questão se eu gostava de vender os direitos do meu livro para outros mercados, e a resposta naturalmente seria que sim. Trata-se de um sonho. Afinal, como alguém disse, o que seria da vida sem os sonhos?