PRÓLOGO
Em Junho de 1999,
cinco meses após ter lançado TEX Nº 351 “O bando dos irlandeses”, a editora
Mythos decide testar Zagor. Até Outubro desse ano são publicados apenas três
números! Não tendo ficado satisfeita com as vendas a editora acaba por
suspender a publicação. Em Julho de 2001, quase dois anos após o início da
colecção, a editora decide tentar novamente. Apesar do tempo decorrido, os
responsáveis optaram por continuar a numeração. Do número quatro ao número dez,
foram seleccionadas apenas histórias completas, retiradas da colecção SPECIALE
ZAGOR (exceptuando o Nº 4, que apresentou “A ponte do arco íris” retirado do
ZAGOR Nº 400). A estratégia de optar apenas histórias completas e variar o
número de páginas para que fosse possível, revelou-se bem-sucedida, só sendo
alterada a partir do décimo primeiro número, altura em que a editora optou por
publicar um arco de histórias da série regular italiana, iniciando no Nº 386.
Já se passaram
quinze anos! Zagor encontra-se perfeitamente consolidado no Brasil, contando
com três colecções regulares: ZAGOR, ZAGOR EXTRA e ZAGOR ESPECIAL. Exclui-se
ZAGOR GIGANTE, já concluída, após ter publicado as três histórias
existentes, e também, AS AVENTURAS DE CHICO, que não tem periodicidade
definida. A colecção ZAGOR deveria publicar a fase mais recente
da colecção regular italiana. ZAGOR EXTRA, que após os primeiros números em que publicou apenas histórias completas do ALMANACCO DELL AVENTURA,
deveria publicar as histórias ainda inéditas, também
da colecção regular italiana, que foram deixadas para trás
pelas antecessoras da Mythos. Em ZAGOR ESPECIAL deveríamos encontrar
histórias retiradas do ALMANACCO DELL AVENTURA, MAXI ZAGOR e SPECIAL ZAGOR.
Contudo, com o decorrer dos anos as premissas iniciais foram alteradas, não
existindo actualmente um verdadeiro rumo para cada uma
das colecções existentes. Neste momento, ZAGOR EXTRA publica uma
fase mais adiantada que ZAGOR, que se encontra em rota de colisão com
esta colecção, e vai intercepta-la dentro de meses, quando chegar ao Nº
548 da colecção regular italiana. Tal vai acontecer porque o Nº
549 e seguintes, já foram publicados em ZAGOR EXTRA. Os saltos na
cronologia, e a inexistência de uma estratégia clara para cada uma das
colecções, vão criar dentro de alguns meses o que poderemos chamar ponto de
intersecção, que corresponderá obrigatoriamente, a um ponto de ruptura,
nas opções editoriais da editora, para o “Espírito da machadinha”.
PONTO
DE RUPTURA
Intitulado de “Problemas”,
o texto publicado em 2010, no blogue do Tex, relatava as dificuldades
dos coleccionadores de Zagor, portugueses e brasileiros, em
acompanhar as suas histórias. Dificuldades devido às constantes
interrupções com as mudanças de editoras e ao desrespeito pela cronologia do
personagem. Três anos antes, em a “Encruzilhada”,
havia feito uma abordagem diferente: Com a publicação em ALMANAQUE TEX Nº32, de
"Sasquatch", a última historia inédita de Tex, tinha-se colocado à
editora uma oportunidade de lançar uma nova colecção. Nestes textos
procurei demonstrar que, ZAGOR COLEÇAO ou ZAGOR EDIÇAO HISTÓRICA, seriam
as opções certas. Infelizmente não tive sucesso, pois já se passaram sete anos
desde a primeira iniciativa e ainda não foi lançada nenhuma das
duas colecções sugeridas.
A versão brasileira,
de ZAGOR COLLEZIONE STORICA A COLORI, à muito que é pedida
pelos coleccionadores brasileiros e portugueses, será que é chegada a
hora?
O ideal seria uma publicação em formato
bonelliano, colorido, e apenas com histórias completas e
com muitíssimas páginas por edição. A verdade é que uma edição nestes
moldes sairia com um preço extremamente elevado, mas
não necessariamente caro.
Todos concordamos
que Ronaldo e Messi ganham salários estratosféricos, não obstante, isso não
significa que sejam jogadores caros. Qualquer dos dois possibilita um enorme
retorno aos seus clubes, quer em termos desportivos, com a quantidade de
golos, assistências e vitorias ao longo das épocas, quer em
termos económicos, com a garantia
de estádios cheios, receitas de publicidade, vendas de
camisolas etc. Assim, apesar de receberem salários extremamente elevados, pelo
retorno que proporcionam aos seus clubes, até podem ser considerados jogadores
baratos. Parece-me óbvio e penso que todos concordam
neste aspecto, que uma colecção deste tipo terá forçosamente um preço
elevado. Assumindo esse facto, resta à editora produzir uma revista colorida,
que devido ao seu conteúdo, formato e numero de páginas, não seja
considerada de cara, pelos coleccionadores. Coloca-se então a
questão: Como?
Apostar em histórias completas!
Uma das particularidades que mais apreciava
nas colecções da editora Vecchi, era a existência
de edições especiais: Edição especial de férias em Junho, e edição
especial de Natal em Dezembro. Duas vezes por ano,
os coleccionadores eram brindados com estas
edições maravilhosas: Histórias completas, normalmente com muito mais
páginas que as edições normais. "Aventura em Utah" foi a primeira
revista de TEX que comprei. Pela data de publicação e pelo atraso que existia
entre a data de publicação e a distribuição em Portugal, calculo que tenha sido
no longínquo ano de 1980. Apesar do tempo decorrido recordo-me perfeitamente! Não só
por ter sido o primeiro exemplar da
minha colecção de TEX, mas também,
pela existência do caderno das cem capas. Uma
edição verdadeiramente especial! Em Janeiro de 1990, com Zagor Nº6, intitulada
"O raio da morte", a editora Record fez história! Produziu uma edição
com 436 páginas. Até hoje imbatível nas publicações dos personagens Bonelli no
Brasil. Otacílio de Assunção,
editor na altura, confessou que teve muitas dificuldades em convencer
os directores devido aos elevados custos, pois tinham receio que
provocasse uma queda nas vendas. O resultado foi no entanto contrário às
preocupações dos directores: As vendas foram um sucesso! Aumentaram cerca de
cinquenta por cento nesta edição.
Como já referido,
a colecção ZAGOR publicou apenas historias completas até ao décimo
numero, e foi um factor decisivo para evitar o cancelamento da publicação.
Espaçar os lançamentos!
Numa colecção em que cada numero tem um
preço elevado, o numero de edições por ano, têm de ser obrigatoriamente pequeno.
Mesmo considerando que, com o cancelamento de ZAGOR EXTRA, grande parte
dos coleccionadores transfere as suas compras, para a
nova colecção. Perdem seis edições por ano a cerca de 20 Reais cada,
e ganham três ou quatro edições, a cerca de 50. Resta convence-los a substituir
uma colecção de histórias inéditas, por uma de repetições, além do acréscimo de
custos. Utilizando novamente o exemplo da Vecchi, teríamos o Especial
de Natal em Dezembro, Especial da Pascoa em Março ou Abril,
e Especial de Férias em Julho ou Agosto.
Produzir somente edições
volumosas!
Existem actualmente no Brasil
diversas colecções especiais de Tex e Zagor: TEX OURO, TEX
EDIÇÃO HISTÓRICA e ZAGOR ESPECIAL. Certos volumes destas colecções
ultrapassaram as 300 páginas, pelo que o termo especial está um pouco
banalizado. Assim, para que esta colecção fosse verdadeiramente especial em
cada edição, o numero mínimo de páginas, deveria ser superior às 400,
e variar para cumprir a premissa das histórias completas, podendo atingir
as 600. Para o formatinho um volume desta dimensão é impensável, mas não para o
formato bonelliano. A editora Record publicou várias edições com mais de 360
páginas e em Itália, a Mondadori com a qual a SBE têm uma parceria de longa
data, já colocou nas bancas edições com mais de 500 páginas. "Zagor
contra il vampiro" ultrapassa as 500 e "Tex contra Mefisto – magia
nera" as seiscentas e trinta.
Apostar nos detalhes e nos extras.
TEX EDIÇÃO HISTÓRICA e ZAGOR
EXTRA são dois bons exemplos para um péssimo aproveitamento da capa. Em
revistas de formato tão pequeno como o formatinho, é um grande erro reduzir
a área do desenho, para dimensões ainda mais pequenas. Em TEH,
a arte do desenhador ocupa apenas cerca de sessenta por cento da capa, e
em ZEX, um pouco mais. A faixa superior reduz a capa a três quartos do
total disponível! Relativamente às lombadas, existem outros maus
exemplos de lombadas em edições da Mythos: TEX OURO, TEX EDIÇAO HISTÒRICA,
ZAGOR EXTRA e ZAGOR ESPECIAL! Nenhuma destas colecções apresenta o
titulo na lombada! Bons exemplos de lombada são as colecções da
Record que incluíam nome e número da colecção, titulo e editora,
tudo isto de uma forma harmoniosa. Ou mais recentemente, as colecções
da Mondadori "OSCAR BESTSELLERS". Assim, uma boa capa,
se possível inédita no Brasil, aproveitando ao máximo
toda a área disponível. Uma lombada atractiva, a inclusão de
matérias sobre as histórias, os personagens ou os autores, à semelhança do
que já se está a fazer em algumas colecções, são os detalhes que
poderão fazer a diferença influenciando
positivamente os prováveis compradores, pois acrescentam valor
às edições, sem no entanto elevarem excessivamente o custo de produção.
Publicitar intensivamente a
nova colecção.
A 1ª mostra do clube Tex Portugal ocorreu
no mês de Agosto, na Anadia. Durante sensivelmente o mês que antecedeu a
realização do evento, os responsáveis do blogue, bombardearam quase diariamente
o seu publico, com acções de promoção. Estas acções envolveram radio
e jornais locais, além dos posts no blogue. Tudo isto feito por amadores, sem
custos e sem fins lucrativos. Em Tex Nº 16 "Território Apache",
segunda edição, publicada em Julho 1978, a Vecchi incluiu um caderno de
cerca de vinte páginas da história "A origem de Zagor", a publicar no
Nº 1 do Espírito da machadinha, no mês seguinte. A publicidade é
fundamental e estes dois exemplos são bastante eficazes para a promoção dos
produtos sem sem exigirem práticamente nenhuns recursos. Existem
diversos coleccionadores que possuem facebook, blogues e até lojas on
line, que se encontram disponíveis para fazer a divulgação. Basta
antecipadamente criar o artigo, e enviar-lhes, para conseguir promover os
artigos.
Uma colecção nestes
moldes incorpora todos os ingredientes para ter sucesso, sendo que a única
variável que o poderá impedir, será sem dúvida, o preço de cada edição. Para
ultrapassar a questão do preço a chave poderá ser a inovação. Já havia
mencionado quando escrevi “Encruzilhada”,
e na verdade, nos últimos tempos a editora têm mostrado capacidade de inovar.
Fê-lo ao lançar CASSIDY&DEMIEN bimestralmente em formato bonelliano,
incluindo uma história de cada personagem por edição. Não esquecer que a Panini
tentou FACE OCULTA e não passou do número dois. Fê-lo novamente ao duplicar o
número de páginas de ZAGOR, ZAGOR EXTRA e JÚLIA KENDAL e alterar a
periodicidade para bimestral. Aparentemente estas medidas não alcançaram os
resultados desejados: ZAGOR EXTRA vai ser cancelada no Nº 123, alegadamente por
falta de histórias, apesar de ainda existirem histórias inéditas que
possibilitam a continuação por, pelo menos dois anos. CASSIDY&DEMIEN
terminou no Nº 5 por apresentar vendas muito aquém do desejado. Coloca-se então
as questões; Porque é que as vendas foram tão baixas? O produto não tem
qualidade? A periodicidade não foi adequada? O preço era muito caro? Houve
falhas de distribuição? Enfim, importa perceber o que falhou! As vendas baixas
foram uma consequência, não a causa. Recordo que a própria MYTHOS “congelou”
ZAGOR, durante quase dois anos, logo após o terceiro número, e que também, os
primeiros números de TEX lançados em 1971 pela Vecchi, venderam muito pouco. O
que teria acontecido se os editores da época têm cancelado as colecções?
Curiosamente, o editor da Mythos na época, já era o mesmo Dorival Vitor Lopes.
Há cerca de uma
década, a industria do calçado portuguesa estava com problemas gravíssimos,
devido aos baixos preços praticados pelos produtos chineses, com os quais
concorria directamente. Fábricas a fechar, pessoas a serem despedidas
diariamente e de nada adiantava baixar ordenados, pois já se praticava o
salário mínimo, nem utilizar materiais mais baratos. Era impossível competir
com o calçado chinês! Esta impossibilidade, esta situação de ruptura que
aparentemente significava a falência desta industria em Portugal, forçou as
empresas a inovar, a apostar na qualidade, no design e actualmente ninguém duvida
que foi uma aposta ganha. O calçado português concorre hoje com aquele que é
considerado o melhor do mundo: O italiano! Sendo o que apresenta o segundo
preço médio mais elevado, também atrás do italiano. Apesar disso não é
considerado caro, tendo em conta a qualidade.
O facto de inovar
não é garantia de sucesso imediato. Em qualquer área, qualquer investimento
necessita de tempo para ser lucrativo! È quase impossível que uma revista seja
rentável logo nos primeiros números! A vontade da editora, em que uma nova
publicação seja lucrativa prematuramente, pode ser impeditiva do sucesso. Sabendo
que as primeiras histórias de Zagor são muito diferentes das actuais, e
que, a qualidade dos argumentos oscila bastante nas primeiras edições, só ganhando consistência a partir
das primeiras cinquenta, ou sessenta edições italianas, os primeiros números poderão
ser um problema. As vendas das primeiras edições da nova colecção brasileira,
poderão ficar bastante aquém do desejado.
Desconheço os
valores, mas estimo que cerca de quarenta por cento, da tiragem de uma
publicação, cubra a totalidade dos custos de produção. Assim, ao receber um
encalhe superior a sessenta por cento a editora pode questionar o sucesso da
publicação, no entanto, e no meu entendimento, um elevado encalhe na primeira
dezena de edições não deveria ser um problema. Para a SBE não parece ser. No
seu site continua disponível o Nº 1 de TEX NUOVA RISTAMPA, com data de
publicação, pasmem-se! Fevereiro de 1996. A própria Mythos durante
os primeiros anos, manteve disponíveis os primeiros números por si publicados.
Se voltarmos aos tempos da Vecchi, certamente que nos lembramos da listagem da
página 4, contendo toda a numeração que continuava disponível. Na altura não
existiam as facilidades de aquisição que existem actualmente, e o encalhe
era rentabilizado, contribuindo para a facturação da
empresa ao longo dos anos, após a publicação da
revista. Se existem actualmente editoras como a SBE, que tratam o
encalhe como um contributo para o aumento das vendas globais, porque é que para
outras, é considerado um problema?
O ponto de ruptura
que se aproxima, poderia ser a oportunidade que a Mythos necessitava para arrancar com um ZAGOR PLATINUM, ou ZAGOR
GOLD COLLECTION. Sim, porque até no nome da colecção se pode inovar. Infelizmente
tal não vai acontecer! Dorival Vitor Lopes em entrevista concedida recentemente
ao TEX CLUB BRASIL, aniquilou completamente as esperanças dos zagorianos, ao
deixar bem claro que não existia nenhuma hipótese. A editora escuda-se nas
baixas vendas que forçariam um preço elevado, ignorando completamente as outras variáveis, não estando disposta a inovar em Zagor, como fez recentemente com
Tex, quando lançou a nova colecção republicando os TEX GIGANTE, em álbuns verdadeiramente luxuosos. Sem dúvida, a colecção de maior qualidade da Mythos!
Nesta colecção a editora não se preocupou com o preço, que além de elevado é
caro e também têm o conhecimento, que a maioria dos texianos não têm meios para
a adquirir. Em compensação vai atingir outra gama do mercado, leitores que,
apesar de gostarem de Tex, desdenham o formatinho. O ponto que se aproxima
afinal não nos trará mais uma colecção de ZAGOR, pelo contrário retira-nos uma.
ZAGOR dará mais um salto na cronologia ultrapassando ZAGOR EXTRA, e passará
para uma fase mais actual. ZAGOR ESPECIAL passará a ter missão redobrada com o
cancelamento de ZAGOR EXTRA, alternando a publicação de histórias inéditas das
diversas colecções italianas. Quanto a nós leitores de Zagor, se pretender-mos
acompanhar as histórias do personagem em formato maior e colorido, resta-nos
como solução, aprender italiano.
NOTAS
FINAIS
Ao contrário de que muitos poderão interpretar, este texto não é uma
critica acérrima as opções da Mythos, para o personagem Zagor. Apesar de criticar a editora em muitas das suas
opções, considero o seu trabalho globalmente positivo, e reconheço que se as
publicações Bonelli, se mantêm nas bancas brasileiras e portuguesas, è à Mythos
que se deve. Procurei apenas especular em torno da hipótese de lançamento da
versão brasileira, de ZAGOR COLLEZIONE STORICA A COLORI, e em que modos essa
colecção poderia ter sucesso.
A Mythos
terminou a colecção ZAGOR GIGANTE ao fim de apenas três edições, tal como a
original italiana, porque não vão ser produzidas mais histórias para esta
colecção. Existe no entanto uma grande diferença! Em Itália não existem
mais histórias originais para publicar, o que não acontece no Brasil. Se
considerar-mos os riscos de insucesso de lançar uma nova colecção, e a
existência de muitíssimas histórias originais para publicar, podemos
questionar: Porquê parar uma colecção que já está no mercado, com tantas
histórias originais por publicar? O argumento do formato também não é
justificação! Seja para que colecção for, os desenhadores da casa Bonelli
produzem as suas pranchas num papel de formato maior que o A4, sendo depois
reduzidas para o formato desejado, para publicação. Deste modo, para manter esta colecção, basta seleccionar uma história composta por duas ou três edições
do ZAGOR, ou uma do MAXI ZAGOR. O único inconveniente é que não teremos as 240
páginas das edições anteriores, mas entre um pouco mais de duzentas e pouco
mais de trezentas, de acordo com a história seleccionada. Eis outro ponto
onde a Mythos poderia ser inovadora: Continuar o ZAGOR GIGANTE para além
do que a SBE conseguiu.
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