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sábado, 15 de novembro de 2014

PONTO DE RUPTURA

PRÓLOGO

Em Junho de 1999, cinco meses após ter lançado TEX Nº 351 “O bando dos irlandeses”, a editora Mythos decide testar Zagor. Até Outubro desse ano são publicados apenas três números! Não tendo ficado satisfeita com as vendas a editora acaba por suspender a publicação. Em Julho de 2001, quase dois anos após o início da colecção, a editora decide tentar novamente. Apesar do tempo decorrido, os responsáveis optaram por continuar a numeração. Do número quatro ao número dez, foram seleccionadas apenas histórias completas, retiradas da colecção SPECIALE ZAGOR (exceptuando o Nº 4, que apresentou “A ponte do arco íris” retirado do ZAGOR Nº 400). A estratégia de optar apenas histórias completas e variar o número de páginas para que fosse possível, revelou-se bem-sucedida, só sendo alterada a partir do décimo primeiro número, altura em que a editora optou por publicar um arco de histórias da série regular italiana, iniciando no Nº 386.

Já se passaram quinze anos! Zagor encontra-se perfeitamente consolidado no Brasil, contando com três colecções regulares: ZAGOR, ZAGOR EXTRA e ZAGOR ESPECIAL. Exclui-se ZAGOR GIGANTE, já concluída, após ter publicado as três histórias existentes, e também, AS AVENTURAS DE CHICO, que não tem periodicidade definida. A colecção ZAGOR deveria publicar a fase mais recente da colecção regular italiana. ZAGOR EXTRA, que após os primeiros números em que publicou apenas histórias completas do ALMANACCO DELL AVENTURA, deveria publicar as histórias ainda inéditas, também da colecção regular italiana, que foram deixadas para trás pelas antecessoras da Mythos. Em ZAGOR ESPECIAL deveríamos encontrar histórias retiradas do ALMANACCO DELL AVENTURA, MAXI ZAGOR e SPECIAL ZAGOR. Contudo, com o decorrer dos anos as premissas iniciais foram alteradas, não existindo actualmente um verdadeiro rumo para cada uma das colecções existentes. Neste momento, ZAGOR EXTRA publica uma fase mais adiantada que ZAGOR, que se encontra em rota de colisão com esta colecção, e vai intercepta-la dentro de meses, quando chegar ao Nº 548 da colecção regular italiana. Tal vai acontecer porque o Nº 549 e seguintes, já foram publicados em ZAGOR EXTRA. Os saltos na cronologia, e a inexistência de uma estratégia clara para cada uma das colecções, vão criar dentro de alguns meses o que poderemos chamar ponto de intersecção, que corresponderá obrigatoriamente, a um ponto de ruptura, nas opções editoriais da editora, para o “Espírito da machadinha”.

PONTO DE RUPTURA

Intitulado de “Problemas”, o texto publicado em 2010, no blogue do Tex, relatava as dificuldades dos coleccionadores de Zagor, portugueses e brasileiros, em acompanhar as suas histórias. Dificuldades devido às constantes interrupções com as mudanças de editoras e ao desrespeito pela cronologia do personagem. Três anos antes, em a “Encruzilhada”, havia feito uma abordagem diferente: Com a publicação em ALMANAQUE TEX Nº32, de "Sasquatch", a última historia inédita de Tex, tinha-se colocado à editora uma oportunidade de lançar uma nova colecção. Nestes textos procurei demonstrar que, ZAGOR COLEÇAO ou ZAGOR EDIÇAO HISTÓRICA, seriam as opções certas. Infelizmente não tive sucesso, pois já se passaram sete anos desde a primeira iniciativa e ainda não foi lançada nenhuma das duas colecções sugeridas. 

A versão brasileira, de ZAGOR COLLEZIONE STORICA A COLORI, à muito que é pedida pelos coleccionadores brasileiros e portugueses, será que é chegada a hora?
O ideal seria uma publicação em formato bonelliano, colorido, e apenas com histórias completas e com muitíssimas páginas por edição. A verdade é que uma edição nestes moldes sairia com um preço extremamente elevado, mas não necessariamente caro.
Todos concordamos que Ronaldo e Messi ganham salários estratosféricos, não obstante, isso não significa que sejam jogadores caros. Qualquer dos dois possibilita um enorme retorno aos seus clubes, quer em termos desportivos, com a quantidade de golos, assistências e vitorias ao longo das épocas, quer em termos económicos, com a garantia de estádios cheios, receitas de publicidade, vendas de camisolas etc. Assim, apesar de receberem salários extremamente elevados, pelo retorno que proporcionam aos seus clubes, até podem ser considerados jogadores baratos. Parece-me óbvio e penso que todos concordam neste aspecto, que uma colecção deste tipo terá forçosamente um preço elevado. Assumindo esse facto, resta à editora produzir uma revista colorida, que devido ao seu conteúdo, formato e numero de páginas, não seja considerada de cara, pelos coleccionadores. Coloca-se então a questão: Como?

Apostar em histórias completas!
Uma das particularidades que mais apreciava nas colecções da editora Vecchi, era a existência de edições especiais: Edição especial de férias em Junho, e edição especial de Natal em Dezembro. Duas vezes por ano, os coleccionadores eram brindados com estas edições maravilhosas: Histórias completas, normalmente com muito mais páginas que as edições normais. "Aventura em Utah" foi a primeira revista de TEX que comprei. Pela data de publicação e pelo atraso que existia entre a data de publicação e a distribuição em Portugal, calculo que tenha sido no longínquo ano de 1980. Apesar do tempo decorrido recordo-me perfeitamente! Não só por ter sido o primeiro exemplar da minha colecção de TEX, mas também, pela existência do caderno das cem capas. Uma edição verdadeiramente especial! Em Janeiro de 1990, com Zagor Nº6, intitulada "O raio da morte", a editora Record fez história! Produziu uma edição com 436 páginas. Até hoje imbatível nas publicações dos personagens Bonelli no Brasil. Otacílio de Assunção, editor na altura, confessou que teve muitas dificuldades em convencer os directores devido aos elevados custos, pois tinham receio que provocasse uma queda nas vendas. O resultado foi no entanto contrário às preocupações dos directores: As vendas foram um sucesso! Aumentaram cerca de cinquenta por cento nesta edição.
Como já referido, a colecção ZAGOR publicou apenas historias completas até ao décimo numero, e foi um factor decisivo para evitar o cancelamento da publicação.

Espaçar os lançamentos!
Numa colecção em que cada numero tem um preço elevado, o numero de edições por ano, têm de ser obrigatoriamente pequeno. Mesmo considerando que, com o cancelamento de ZAGOR EXTRA, grande parte dos coleccionadores transfere as suas compras, para a nova colecção. Perdem seis edições por ano a cerca de 20 Reais cada, e ganham três ou quatro edições, a cerca de 50. Resta convence-los a substituir uma colecção de histórias inéditas, por uma de repetições, além do acréscimo de custos. Utilizando novamente o exemplo da Vecchi, teríamos o Especial de Natal em Dezembro, Especial da Pascoa em Março ou Abril, e Especial de Férias em Julho ou Agosto.

Produzir somente edições volumosas! 
Existem actualmente no Brasil diversas colecções especiais de Tex e Zagor: TEX OURO, TEX EDIÇÃO HISTÓRICA e ZAGOR ESPECIAL. Certos volumes destas colecções ultrapassaram as 300 páginas, pelo que o termo especial está um pouco banalizado. Assim, para que esta colecção fosse verdadeiramente especial em cada edição, o numero mínimo de páginas, deveria ser superior às 400, e variar para cumprir a premissa das histórias completas, podendo atingir as 600. Para o formatinho um volume desta dimensão é impensável, mas não para o formato bonelliano. A editora Record publicou várias edições com mais de 360 páginas e em Itália, a Mondadori com a qual a SBE têm uma parceria de longa data, já colocou nas bancas edições com mais de 500 páginas. "Zagor contra il vampiro" ultrapassa as 500 e "Tex contra Mefisto – magia nera" as seiscentas e trinta.

Apostar nos detalhes e nos extras.
TEX EDIÇÃO HISTÓRICA e ZAGOR EXTRA são dois bons exemplos para um péssimo aproveitamento da capa. Em revistas de formato tão pequeno como o formatinho, é um grande erro reduzir a área do desenho, para dimensões ainda mais pequenas. Em TEH, a arte do desenhador ocupa apenas cerca de sessenta por cento da capa, e em ZEX, um pouco mais. A faixa superior reduz a capa a três quartos do total disponível! Relativamente às lombadas, existem outros maus exemplos de lombadas em edições da Mythos: TEX OURO, TEX EDIÇAO HISTÒRICA, ZAGOR EXTRA e ZAGOR ESPECIAL! Nenhuma destas colecções apresenta o titulo na lombada! Bons exemplos de lombada são as colecções da Record que incluíam nome e número da colecção, titulo e editora, tudo isto de uma forma harmoniosa. Ou mais recentemente, as colecções da Mondadori "OSCAR BESTSELLERS".  Assim, uma boa capa, se possível inédita no Brasil, aproveitando ao máximo toda a área disponível. Uma lombada atractiva, a inclusão de matérias sobre as histórias, os personagens ou os autores, à semelhança do que já se está a fazer em algumas colecções, são os detalhes que poderão fazer a diferença influenciando positivamente os prováveis compradores, pois acrescentam valor às edições, sem no entanto elevarem excessivamente o custo de produção.

Publicitar intensivamente a nova colecção.
A 1ª mostra do clube Tex Portugal ocorreu no mês de Agosto, na Anadia. Durante sensivelmente o mês que antecedeu a realização do evento, os responsáveis do blogue, bombardearam quase diariamente o seu publico, com acções de promoção. Estas acções envolveram radio e jornais locais, além dos posts no blogue. Tudo isto feito por amadores, sem custos e sem fins lucrativos. Em Tex Nº 16 "Território Apache", segunda edição, publicada em Julho 1978, a Vecchi incluiu um caderno de cerca de vinte páginas da história "A origem de Zagor", a publicar no Nº 1 do Espírito da machadinha, no mês seguinte. A publicidade é fundamental e estes dois exemplos são bastante eficazes para a promoção dos produtos sem sem exigirem práticamente nenhuns recursos. Existem diversos coleccionadores que possuem facebook, blogues e até lojas on line, que se encontram disponíveis para fazer a divulgação. Basta antecipadamente criar o artigo, e enviar-lhes, para conseguir promover os artigos.

Uma colecção nestes moldes incorpora todos os ingredientes para ter sucesso, sendo que a única variável que o poderá impedir, será sem dúvida, o preço de cada edição. Para ultrapassar a questão do preço a chave poderá ser a inovação. Já havia mencionado quando escrevi “Encruzilhada”, e na verdade, nos últimos tempos a editora têm mostrado capacidade de inovar. Fê-lo ao lançar CASSIDY&DEMIEN bimestralmente em formato bonelliano, incluindo uma história de cada personagem por edição. Não esquecer que a Panini tentou FACE OCULTA e não passou do número dois. Fê-lo novamente ao duplicar o número de páginas de ZAGOR, ZAGOR EXTRA e JÚLIA KENDAL e alterar a periodicidade para bimestral. Aparentemente estas medidas não alcançaram os resultados desejados: ZAGOR EXTRA vai ser cancelada no Nº 123, alegadamente por falta de histórias, apesar de ainda existirem histórias inéditas que possibilitam a continuação por, pelo menos dois anos. CASSIDY&DEMIEN terminou no Nº 5 por apresentar vendas muito aquém do desejado. Coloca-se então as questões; Porque é que as vendas foram tão baixas? O produto não tem qualidade? A periodicidade não foi adequada? O preço era muito caro? Houve falhas de distribuição? Enfim, importa perceber o que falhou! As vendas baixas foram uma consequência, não a causa. Recordo que a própria MYTHOS “congelou” ZAGOR, durante quase dois anos, logo após o terceiro número, e que também, os primeiros números de TEX lançados em 1971 pela Vecchi, venderam muito pouco. O que teria acontecido se os editores da época têm cancelado as colecções? Curiosamente, o editor da Mythos na época, já era o mesmo Dorival Vitor Lopes.

Há cerca de uma década, a industria do calçado portuguesa estava com problemas gravíssimos, devido aos baixos preços praticados pelos produtos chineses, com os quais concorria directamente. Fábricas a fechar, pessoas a serem despedidas diariamente e de nada adiantava baixar ordenados, pois já se praticava o salário mínimo, nem utilizar materiais mais baratos. Era impossível competir com o calçado chinês! Esta impossibilidade, esta situação de ruptura que aparentemente significava a falência desta industria em Portugal, forçou as empresas a inovar, a apostar na qualidade, no design e actualmente ninguém duvida que foi uma aposta ganha. O calçado português concorre hoje com aquele que é considerado o melhor do mundo: O italiano! Sendo o que apresenta o segundo preço médio mais elevado, também atrás do italiano. Apesar disso não é considerado caro, tendo em conta a qualidade.

O facto de inovar não é garantia de sucesso imediato. Em qualquer área, qualquer investimento necessita de tempo para ser lucrativo! È quase impossível que uma revista seja rentável logo nos primeiros números! A vontade da editora, em que uma nova publicação seja lucrativa prematuramente, pode ser impeditiva do sucesso. Sabendo que as primeiras histórias de Zagor são muito diferentes das actuais, e que, a qualidade dos argumentos oscila bastante nas primeiras edições, só ganhando consistência a partir das primeiras cinquenta, ou sessenta edições italianas, os primeiros números poderão ser um problema. As vendas das primeiras edições da nova colecção brasileira, poderão ficar bastante aquém do desejado.

Desconheço os valores, mas estimo que cerca de quarenta por cento, da tiragem de uma publicação, cubra a totalidade dos custos de produção. Assim, ao receber um encalhe superior a sessenta por cento a editora pode questionar o sucesso da publicação, no entanto, e no meu entendimento, um elevado encalhe na primeira dezena de edições não deveria ser um problema. Para a SBE não parece ser. No seu site continua disponível o Nº 1 de TEX NUOVA RISTAMPA, com data de publicação,  pasmem-se!  Fevereiro de 1996. A própria Mythos durante os primeiros anos, manteve disponíveis os primeiros números por si publicados. Se voltarmos aos tempos da Vecchi, certamente que nos lembramos da listagem da página 4, contendo toda a numeração que continuava disponível. Na altura não existiam as facilidades de aquisição que existem actualmente, e o encalhe era rentabilizado, contribuindo para a facturação da empresa ao longo dos anos, após a publicação da revista. Se existem actualmente editoras como a SBE, que tratam o encalhe como um contributo para o aumento das vendas globais, porque é que para outras, é considerado um problema?

O ponto de ruptura que se aproxima, poderia ser a oportunidade que a Mythos necessitava  para arrancar com um ZAGOR PLATINUM, ou ZAGOR GOLD COLLECTION. Sim, porque até no nome da colecção se pode inovar. Infelizmente tal não vai acontecer! Dorival Vitor Lopes em entrevista concedida recentemente ao TEX CLUB BRASIL, aniquilou completamente as esperanças dos zagorianos, ao deixar bem claro que não existia nenhuma hipótese. A editora escuda-se nas baixas vendas que forçariam um preço elevado, ignorando completamente as outras variáveis, não estando disposta a inovar em Zagor, como fez recentemente com Tex, quando lançou a nova colecção republicando os TEX GIGANTE, em álbuns verdadeiramente luxuosos. Sem dúvida, a colecção de maior qualidade da Mythos! Nesta colecção a editora não se preocupou com o preço, que além de elevado é caro e também têm o conhecimento, que a maioria dos texianos não têm meios para a adquirir. Em compensação vai atingir outra gama do mercado, leitores que, apesar de gostarem de Tex, desdenham o formatinho. O ponto que se aproxima afinal não nos trará mais uma colecção de ZAGOR, pelo contrário retira-nos uma. ZAGOR dará mais um salto na cronologia ultrapassando ZAGOR EXTRA, e passará para uma fase mais actual. ZAGOR ESPECIAL passará a ter missão redobrada com o cancelamento de ZAGOR EXTRA, alternando a publicação de histórias inéditas das diversas colecções italianas. Quanto a nós leitores de Zagor, se pretender-mos acompanhar as histórias do personagem em formato maior e colorido, resta-nos como solução, aprender italiano.

NOTAS FINAIS

Ao contrário de que muitos poderão interpretar, este texto não é uma critica acérrima as opções da Mythos, para o personagem Zagor. Apesar de criticar a editora em muitas das suas opções, considero o seu trabalho globalmente positivo, e reconheço que se as publicações Bonelli, se mantêm nas bancas brasileiras e portuguesas, è à Mythos que se deve. Procurei apenas especular em torno da hipótese de lançamento da versão brasileira, de ZAGOR COLLEZIONE STORICA A COLORI, e em que modos essa colecção poderia ter sucesso.


A Mythos terminou a colecção ZAGOR GIGANTE ao fim de apenas três edições, tal como a original italiana, porque não vão ser produzidas mais histórias para esta colecção. Existe no entanto uma grande diferença!  Em Itália não existem mais histórias originais para publicar, o que não acontece no Brasil. Se considerar-mos os riscos de insucesso de lançar uma nova colecção, e a existência de muitíssimas histórias originais para publicar, podemos questionar: Porquê parar uma colecção que já está no mercado, com tantas histórias originais por publicar? O argumento do formato também não é justificação! Seja para que colecção for, os desenhadores da casa Bonelli produzem as suas pranchas num papel de formato maior que o A4, sendo depois reduzidas para o formato desejado, para publicação. Deste modo, para manter esta colecção, basta seleccionar uma história composta por duas ou três edições do ZAGOR, ou uma do MAXI ZAGOR. O único inconveniente é que não teremos as 240 páginas das edições anteriores, mas entre um pouco mais de duzentas e pouco mais de trezentas, de acordo com a história seleccionada. Eis outro ponto onde a Mythos poderia ser inovadora: Continuar o ZAGOR GIGANTE para além do que a SBE conseguiu.

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